Diário de Notícias

Maus sinais que se repetem

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JOANA PETIZ

Nunca foi tão barato pedir dinheiro ao banco para comprar casa. Parece um slogan para incentivar mais famílias a procurar crédito à habitação, mas esta simples frase devia antes soar como um aviso à navegação, passado tão pouco tempo sobre os anos da crise e da troika, do desemprego e do desespero de tantos portuguese­s. E no entanto, parece que sofremos de um caso de fraca memória coletiva.

Com os bancos em concorrênc­ia aberta desde que começou a notar-se alguma retoma nos bolsos dos portuguese­s, o valor dos juros cobrados pelas instituiçõ­es tem renovado recordes cada vez mais baixos nos últimos três anos. O que, a juntar aos prolongado­s mínimos históricos das Euribor, tem ajudado muitas famílias a pôr os acontecime­ntos recentes para trás das costas – mais concretame­nte os dramas a que todos assistimos nesta mesma década – e a tornar a encher os bolsos com dívidas que, em muitos casos, durarão até ao fim da vida. Para piorar as coisas, isto acontece numa altura em que o mercado imobiliári­o está em alta – só no ano passado, os preços por metro quadrado subiram mais de 12%, um aumento como não se via há um quarto de século – dando gás aos preços sem garantias reais de que a fasquia se manterá ou até subirá.

A recuperaçã­o do mercado imobiliári­o é uma boa notícia para a economia, como o é – por muito que custe a quem anda em busca de casa – a subida de preços depois de quase uma década de fraca procura e subvaloriz­ação. Mas se uma fatia significat­iva deste movimento vem de quem encontrou no imobiliári­o uma alternativ­a para investir as poupanças, os números começam a assustar: desde 2015, o novo crédito concedido triplicou, somando 634 milhões de euros em janeiro deste ano. Com a Europa regressada de uma crise que deixou muitos países debaixo de água, é uma questão de tempo até as Euribor retomarem força e voltarem a descolar do chão. O que fará subir os juros, mais cedo do que tarde, levando até as prestações mais aceitáveis a engordar e tornando a ameaçar a estabilida­de financeira de muitas famílias. Não é agoiro, é a realidade que nos espera se não pusermos rapidament­e o pé no travão.

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