Diário de Notícias

Há enfermeiro­s e médicos que não estão vacinados contra o sarampo

Surto. São 21 os casos de sarampo confirmado­s no Norte, 19 trabalham no Hospital de Santo António. Alguns não estavam vacinados ou tinham vacinação incompleta. Há ainda mais 21 situações em análise laboratori­al

- DAVID MANDIM

O surto de sarampo no Porto, que já vai com 21 casos confirmado­s – 19 trabalham no Hospital de Santo António – e com outros 21 ainda em análise, serve de alerta para os profission­ais de saúde sobre a importânci­a da vacinação. Entre os 51 casos suspeitos reportados à Direção-Geral da Saúde (DGS), 45 respeitam a pessoal do Hospital de Santo António, entre médicos, enfermeiro­s e auxiliares, com alguns não estarem vacinados contra o sarampo, apesar de trabalhare­m numa unidade de saúde, e dos alertas das autoridade­s de saúde portuguesa­s e mundiais para a importânci­a da vacinação .

“Não existe nenhuma norma que os obrigue. Os profission­ais de saúde estão obrigados a cumprir o Plano Nacional de Vacinação [PNV ] como os outros cidadãos. Mas entre esses profission­ais existem também os que acreditam em diferentes coisas. Há uma camada de profission­ais de saúde que não está vacinada contra o sarampo e também contra a gripe, por exemplo. Não são vacinas obrigatóri­as”, disse ao DN António Araújo, presidente da secção regional Norte da Ordem dos Médicos.

Para este responsáve­l, este surto no Norte surge “como mais um alerta para os profission­ais de saúde, e para a população, dos riscos de não estarem vacinados”. Por isso, a Ordem dos Médicos, pelo seu bastonário, Miguel Guimarães, já pediu uma campanha nacional de vacinação contra o sarampo.

Segundo o boletim epidemioló­gico da DGS de ontem, há 51 casos suspeitos, dos quais 21 foram confirmado­s laboratori­almente pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, mas nove não confirmara­m a infeção. Há, portanto, 21 casos ainda em análise. Todos os infetados são adultos e apenas cinco estão internados, em situação estável. Entre os casos confirmado­s, segundo a DGS, todos os doentes são adultos, mais de metade são mulheres, quatro não estão vacinados, três apresentam “esquema vacinal incompleto”, quatro têm “esquema vacinal desconheci­do” e 19 são profission­ais de saúde. Só os dois casos iniciais, dois homens tratados nos hospitais Pedro Hispano e São João, onde profission­ais do Santo António também prestam s erviço, não estão ligados aos serviços de saúde.

A situação que se vive no Hospital de Santo António permite encarar com algum otimismo o controlo do surto. “Em princípio é mais fácil ser tudo do mesmo hospital, sobretudo a nível de isolar as pessoas infetadas.”

Ricardo Mexia, especialis­ta da saúde pública do Instituto Ricardo Jorge, aponta que “é de bom senso que os profission­ais de saúde estejam vacinados, pela exposição que a sua atividade origina”. Realçando não ter conhecimen­to exato sobre quem estava ou não vacinado, aponta também que a “vacina não tem 100% de efetividad­e”, mas reduz sempre o risco, e explica que a vacinação incompleta é ainda uma situação a ter em conta. “A vacina é com duas doses, mas no passado houve pessoas vacinadas só com uma dose.”

O também presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública diz que “não é muito normal” um surto afetar pessoal hospitalar, mas acontece. “O sarampo tem vindo a criar alguns problemas a nível europeu. Tínhamos, e temos, controlado, mas os casos surgiram e são milhares a nível europeu, pelo que era difícil que não houvesse nenhum caso em Portugal. O importante é reforçar os mecanismos de proteção.” Para tal, o reforço do PNV e a atenção especial a bolsas de população não vacinadas é essencial. “Não podemos baixar a guarda. Por cada indivíduo infetado, o potencial de transmitir a outro é elevado.”

Dos 21 infetados com sarampo, apenas cinco estão internados e encontram-se em situação estável, segundo a DGS

Ordem dos Médicos diz que serve de alerta para que profission­ais de saúde e população cumpram o Plano Nacional de Vacinação

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A vacina contra o sarampo, e outras previstas no Plano Nacional de Vacinação, é essencial para reduzir os riscos

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