Há enfermeiros e médicos que não estão vacinados contra o sarampo
Surto. São 21 os casos de sarampo confirmados no Norte, 19 trabalham no Hospital de Santo António. Alguns não estavam vacinados ou tinham vacinação incompleta. Há ainda mais 21 situações em análise laboratorial
O surto de sarampo no Porto, que já vai com 21 casos confirmados – 19 trabalham no Hospital de Santo António – e com outros 21 ainda em análise, serve de alerta para os profissionais de saúde sobre a importância da vacinação. Entre os 51 casos suspeitos reportados à Direção-Geral da Saúde (DGS), 45 respeitam a pessoal do Hospital de Santo António, entre médicos, enfermeiros e auxiliares, com alguns não estarem vacinados contra o sarampo, apesar de trabalharem numa unidade de saúde, e dos alertas das autoridades de saúde portuguesas e mundiais para a importância da vacinação .
“Não existe nenhuma norma que os obrigue. Os profissionais de saúde estão obrigados a cumprir o Plano Nacional de Vacinação [PNV ] como os outros cidadãos. Mas entre esses profissionais existem também os que acreditam em diferentes coisas. Há uma camada de profissionais de saúde que não está vacinada contra o sarampo e também contra a gripe, por exemplo. Não são vacinas obrigatórias”, disse ao DN António Araújo, presidente da secção regional Norte da Ordem dos Médicos.
Para este responsável, este surto no Norte surge “como mais um alerta para os profissionais de saúde, e para a população, dos riscos de não estarem vacinados”. Por isso, a Ordem dos Médicos, pelo seu bastonário, Miguel Guimarães, já pediu uma campanha nacional de vacinação contra o sarampo.
Segundo o boletim epidemiológico da DGS de ontem, há 51 casos suspeitos, dos quais 21 foram confirmados laboratorialmente pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, mas nove não confirmaram a infeção. Há, portanto, 21 casos ainda em análise. Todos os infetados são adultos e apenas cinco estão internados, em situação estável. Entre os casos confirmados, segundo a DGS, todos os doentes são adultos, mais de metade são mulheres, quatro não estão vacinados, três apresentam “esquema vacinal incompleto”, quatro têm “esquema vacinal desconhecido” e 19 são profissionais de saúde. Só os dois casos iniciais, dois homens tratados nos hospitais Pedro Hispano e São João, onde profissionais do Santo António também prestam s erviço, não estão ligados aos serviços de saúde.
A situação que se vive no Hospital de Santo António permite encarar com algum otimismo o controlo do surto. “Em princípio é mais fácil ser tudo do mesmo hospital, sobretudo a nível de isolar as pessoas infetadas.”
Ricardo Mexia, especialista da saúde pública do Instituto Ricardo Jorge, aponta que “é de bom senso que os profissionais de saúde estejam vacinados, pela exposição que a sua atividade origina”. Realçando não ter conhecimento exato sobre quem estava ou não vacinado, aponta também que a “vacina não tem 100% de efetividade”, mas reduz sempre o risco, e explica que a vacinação incompleta é ainda uma situação a ter em conta. “A vacina é com duas doses, mas no passado houve pessoas vacinadas só com uma dose.”
O também presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública diz que “não é muito normal” um surto afetar pessoal hospitalar, mas acontece. “O sarampo tem vindo a criar alguns problemas a nível europeu. Tínhamos, e temos, controlado, mas os casos surgiram e são milhares a nível europeu, pelo que era difícil que não houvesse nenhum caso em Portugal. O importante é reforçar os mecanismos de proteção.” Para tal, o reforço do PNV e a atenção especial a bolsas de população não vacinadas é essencial. “Não podemos baixar a guarda. Por cada indivíduo infetado, o potencial de transmitir a outro é elevado.”
Dos 21 infetados com sarampo, apenas cinco estão internados e encontram-se em situação estável, segundo a DGS
Ordem dos Médicos diz que serve de alerta para que profissionais de saúde e população cumpram o Plano Nacional de Vacinação