Diário de Notícias

Rui Rio à espera da demissão de Barreiras Duarte

Permanênci­a do secretário-geral social-democrata no cargo está por um fio. Direção do partido critica má gestão do caso do currículo e defende saída. Fontes da Comissão Política Nacional garantem que Rio não o demitirá mas está pronto a aceitar pedido de

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SUSETE FRANCISCO A posição de Feliciano Barreiras Duarte como secretário-geral do PSD está por um fio. A polémica em torno do currículo do deputado não caiu bem entre a direção social-democrata, onde vinga a tese de que Barreiras Duarte deve sair da secretaria-geral. Ao que o DN apurou junto de fontes da Comissão Política Nacional, Rui Rio está à espera que Barreiras Duarte tome a iniciativa de deixar o cargo. Ou seja, o presidente do PSD não demitirá aquele que tem sido o seu braço direito, mas aceitará um pedido de demissão.

Na cúpula do PSD é opinião maioritári­a que Feliciano Barreiras Duarte geriu mal todo o caso em torno das dúvidas sobre o seu currículo académico, permitindo assim que a polémica se arrastasse. Em entrevista à Antena 1, a emitir hoje, um dos vice-presidente­s do partido, Castro Almeida, dá nota do descon- forto com o caso. “É bom que ele pondere se tem ou não tem condições” para continuar no cargo, afirma o dirigente laranja – “Tenho a certeza de que ele está a avaliar.” Na entrevista à jornalista Maria Flor Pedroso, Castro Almeida considera que a polémica já se arrasta “há algum tempo”. E, referindo-se à informação errada inscrita no currículo do secretário-geral, garante: “Isto não aconteceri­a comigo.”

Na passada quarta-feira, a Procurador­ia-Geral da República (PGR) determinou a abertura de um inquérito ao caso. Há uma semana, o semanário Sol revelou que, ao contrário do que afirmava no currículo, Feliciano Barreiras Duarte nunca teve o estatuto de visiting scholar na Universida­de da Califórnia, em Berkeley. A confirmaçã­o veio da própria instituiçã­o, que afirmou ao jornal não ter encontrado “qualquer documentaç­ão” que comprove esse estatuto. Questionad­o sobre este desmentido, Barreiras Duarte apresentou ao semanário uma carta, escrita em português e assinada pela sua orientador­a naquela universida­de, atestando que estava inscrito na instituiçã­o “com o estatuto de visiting scholar, no âmbito do doutoramen­to em Ciência Política com a tese ‘Políticas públicas e direito da imigração’”.

“Esse documento é forjado. Feliciano Barreiras Duarte nunca cá esteve” foi a resposta da professora universitá­ria luso-americana. Dias depois, Deolinda Adão acabaria por admitir ao jornal online Observador a existência deste documento, mas voltando a negar o estatuto que o deputado inscreveu no currículo – “O documento apresentad­o pelo Dr. Feliciano Duarte com a minha assinatura, exarado a 30 de janeiro de 2009, certifica apenas e somente a sua inscrição.”

Pelo caminho, Feliciano Barreiras Duarte retirou do currículo a referência à universida­de norteameri­cana. Direção queria mais explicaçõe­s Logo no domingo, um dia depois da revelação do caso, Rui Rio desvaloriz­ou a polémica. “Há um aspeto do seu currículo que estava a mais, não estava preciso, e ele corrigiu”, afirmou então o presidente social-democrata. No mesmo dia, Barreiras Duarte dizia ao DN: “Nesta semana realizaram-se almoços entre algumas pessoas que não gostam da atual liderança. Criaram-se factos.” Dois dias depois, em entrevista à SIC, volta a apontar baterias para o interior do PSD. “Soube, com alguma antecedênc­ia, que logo a seguir ao congresso alguma coisa poderia acontecer”, reiterou o secretário-geral do PSD. Mais: “Não seria verdadeiro se não lhe dissesse que me têm avisado que neste e noutros casos são pessoas que de alguma forma são do PSD, que já tiveram até responsabi­lidades, que querem fazer este tipo de situações.”

A entrevista não caiu bem na direção social-democrata, que queria ver Barreiras Duarte esclarecer as questões de substância e encerrar de vez a polémica. Um dia depois, a PGR anunciava a abertura de um inquérito e o mal-estar com toda a situação foi-se adensando entre os dirigentes sociais-democratas. A ponto de o próprio Rui Rio, não querendo empurrar aquele que foi um dos seus principais conselheir­os na corrida à liderança do PSD, estar agora à espera que Barreiras Duarte tome a iniciativa.

O DN ontem tentou contactar Feliciano Barreiras Duarte, sem sucesso. Contactou também o líder do PSD, Rui Rio, que recusou fazer comentário­s a uma questão sobre a qual já se pronunciou. Com PAULO BALDAIA

“É bom que ele pondere se tem ou não condições” para continuar no cargo, diz Castro Almeida, vice do PSD, em entrevista à Antena 1

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Apoiante da primeira hora de Rui Rio, Feliciano Barreiras Duarte assumiu o cargo de secretário-geral. Agora está por um fio

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