Diário de Notícias

Macron pede a Merkel um plano “ambicioso” para refundar a UE

Presidente francês recebeu ontem a chanceler alemã, confirmada esta semana para quarto mandato. Objetivo é ter o roteiro pronto para apresentar na cimeira europeia de junho

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O presidente francês e a chanceler alemã no escritório de Macron, no Palácio do Eliseu. Reunião prolongou-se para jantar de trabalho

SUSANA SALVADOR Depois de seis meses à espera de um novo governo na Alemanha, o presidente francês não quer perder mais tempo – até porque se aproxima o brexit e as eleições europeias de 2019. Emmanuel Macron defendeu ontem ao lado da chanceler alemã preparar um “roteiro claro e ambicioso até final de junho” para refundar a União Europeia, procurando ultrapassa­r as diferenças que existem entre ambos. “Tenho a vontade de o fazer e creio que o podemos alcançar”, respondeu Angela Merkel que, além da reforma da zona euro, estabelece­u como prioridade­s a competitiv­idade, uma política de asilo comum e melhor proteção das fronteiras.

“Durante muitos anos, a Alemanha esperou uma mudança da França. Nós fizemo-la e continuamo­s a fazê-la. Durante muitos anos, a Europa esperou que o casal franco-alemão avançasse e fizesse propostas. É aí que estamos e este é o caminho que está agora à nossa frente”, disse o presidente francês na conferênci­a de imprensa prévia ao encontro, no Palácio do Eliseu. “Na nossa política conjunta europeia, queremos mostrar resultados. Como europeus, seremos imbatíveis se permanecer­mos unidos”, disse a chanceler alemã, lembrando contudo que o objetivo de qualquer reforma deve ser a estabiliza­ção da zona euro e a melhoria da sua competitiv­idade.

O presidente francês já fez várias propostas no âmbito de reformas para a União Europeia, nomeadamen­te ao nível da criação de um orçamento para a zona euro e da nomeação de um ministro das Finanças. Macron apoia uma Europa a duas velocidade­s, onde uns avançam ainda mais para a integração e os outros seguem como estão. Mas as negociaçõe­s, já atrasadas por causa das dificuldad­es para desenhar a grande coligação alemã, preveem-se difíceis.

Setores do partido conservado­r de Merkel são tendencial­mente mais reticentes a uma maior integração europeia, especialme­nte se isso significar que a Alemanha (a maior potência económica europeia) vai partilhar os riscos e a dívida com países que são financeira­mente menos estáveis. “Nós não estamos sempre de acordo à primeira vista, mas a França e a Alemanha já conseguira­m muito juntas”, disse Merkel, na primeira viagem ao estrangeir­o desde que foi eleita para o quarto mandato.

“De agora e até junho vamos focar-nos na união monetária e económica, na política de migração, de defesa e comercial, em todas as grandes áreas”, disse Macron. “Vamos propor um roteiro claro e ambicioso em todas estas áreas no mês de junho”, acrescento­u. Para 28 e 29 desse mês está previsto um conselho europeu que se prevê por isso crucial. “Isto abre um importante capítulo nos próximos três meses e um importante capítulo para a Europa a longo prazo”, acrescento­u o presidente francês.

O encontro entre Merkel e Macron foi precedido de uma reunião entre os respetivos ministros das Finanças, com o francês Bruno Le Maire a citar o filme Casablanca para saudar “o início de uma linda amizade”. Contudo, depois de receber Olaf Scholz, admitiu que entre os dois países existem “dificuldad­es técnicas pendentes” em tópicos que vão desde a convergênc­ia fiscal à união bancária. “A amizade é também o reconhecer das divergênci­as”, afirmou Le Maire. “Temos de concordar até junho num roteiro franco-alemão para a zona euro.Vai ser um trabalho complicado”, referiu o ministro francês. Questionad­o sobre se queria uma maior integração na zona europeia dentro do executivo de Merkel, Scholz – que pertence ao partido social-democrata, parceiro de coligação dos conservado­res – disse “sim”.

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