Um que nos traz as histórias de um homem comum

O novo álbum de Medeiros/Lucas, que chegou ontem às lojas e encerra uma trilogia, rasga o isolamento das ilhas, bebe nas margens do Mediterrâneo, tem uma lança em África, flirta com o tropicalismo, para contar num modo muito próprio aquilo que Pedro Luca

do equilíbrio, do meio-termo, de saber que é preciso procurar a luz, mas que a luz precisa da sombra, com um conflito muito interior. Daí também a influência de música minimalista, sequencial, sobretudo americana, o cérebro aqui a martelar, tic tic tic.”

Sol de Março “sugere a ideia da razão”, como apontou o letrista João Pedro Porto. “Fazia todo o sentido”, notou Lucas, depois do primeiro álbum sobre a emoção e o segundo sobre o corpo. “O primeiro disco é de uma ideia do Carlos, de uma coisa muito quixoteana, baseada na figura de um nobre, D. Quixote, uma personagem muito original, muito louca, de lutar contra moinhos”, apontou. Já “o segundo disco é mais político: há uma ideia do João Pedro de criar o contraste, ir do mar para a terra, daí surge uma coisa muito mais física, a terra do corpo”.

O trabalho joga-se entre a sombra e a luz. Lampejos, tema de abertura, “é uma coisa muito sofrida, começa com essa sofreguidão, ‘deixa-me ver, deixa-me ver’, é quase um fado muito negro”. “Havendo uma personagem nesta trilogia é muito normal. Quando abordamos a razão ou a emoção, ou o corpo, nunca é num extremo, é sempre uma personagem normal, um homem comum, que tenta ser mais ou menos equilibrado, mas que tem de lidar com o corpo, e às vezes o corpo manda mais. Nunca chega a ser um dom-quixote, uma besta racional, uma máquina, uma besta ascética, é sempre uma pessoa normal.”

Também por isso se ouça com humor o aviso que antecipa Elena Poena: “Caros ouvintes, interrompemos agora para um breve momento lúdico.” Sol de Março é este equilíbrio que se ouve com o prazer de uma geografia muito própria.

Pedro Lucas fotografado ao sol de março que rompeu por entre bátegas