Diário de Notícias

PEDRÓGÃO

AÇÃO POLÍTICA DE NÁDIA PIAZZA AFASTA DIRIGENTES DA ASSOCIAÇÃO

- PAULA SOFIA LUZ

Alegada politizaçã­o da Associação de Vítimas de Pedrógão é causa apontada para saídas. Críticas subiram de tom com convite à presidente para ajudar a fazer o programa do CDS.

A presidente da Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande tem sido alvo de muitas críticas depois de ter sido anunciado no congresso do CDS que iria integrar um grupo de trabalho do partido – que ajudará a concretiza­r o programa eleitoral para as próximas eleições legislativ­as. Nas redes sociais é acusada de estar a politizar a associação. E essa é apontada como uma das razões que levaram à demissão de dois membros da direção no mês passado. Dina Duarte, que era vice-presidente (mulher do pintor João Viola, da aldeia do Nodeirinho), e Belmira Morgado (irmã de um bombeiro vítima do fogo, em Castanheir­a de Pera) afastaram-se em fevereiro, alegando motivos de ordem pessoal. Mas, apesar da recusa em falar abertament­e sobre o assunto, o DN sabe que em causa estará a oposição à forma de atuação de Nádia Piazza ao leme da associação, que inclui “a politizaçã­o que foi fazendo, como agora se viu, ao aceitar um convite do CDS”, conta uma fonte próxima deste processo.

Nesta semana, o jovem Marcelo Nunes (irmão da pequena Bianca que morreu no incêndio), também ele presença assídua nos eventos da associação, sublinhou no grupo Pedrógão Grande no Facebook o seu desagrado. “Este tipo de discussões não devem ser efetuadas na associação que é de todos e não só de uma pessoa. Estes debates têm espaços políticos adequados para o efeito, esta associação é um local cultural e que deveria prestar homenagem às vítimas mortais e não abrigar quezílias políticas. E não deveria dar-se tanto ao mau mediatismo político nem ser confundida com uma espécie de sede de partido.” Confrontad­o pelo DN, Marcelo reiterou a ideia defendida na rede social: “Não discordo de que Nádia se envolva politicame­nte, mas não pode colar a associação a um partido, como parece estar a acontecer.”

Na vice-presidênci­a da direção está João Ângelo, que habitualme­nte é candidato nas listas do CDS no concelho de Figueiró dos Vinhos, onde Nádia Piazza reside e trabalha como jurista num gabine- te do município. Ali, o anúncio de que a presidente da associação iria fazer parte do grupo de trabalho do CDS foi recebido com surpresa. Hugo Dias, presidente da comissão política concelhia, não escondeu ao DN a admiração: “Foi uma escolha pessoal de Assunção Cristas. Não tivemos intervençã­o nenhuma nisso. Se me perguntass­e, eu escolhia outra pessoa”, admite o líder local, apontando para “António Zuzarte, por exemplo”, seu antecessor na estrutura concelhia.

Terão sido estes dois amigos que apresentar­am Nádia Piazza à presidente do CDS, num encontro particular no final de uma missa, pouco depois de os corpos das vítimas serem velados – entre os quais incluem-se o filho de Nádia de 5 anos, o ex-marido e a sogra. Mais tarde, já a título oficial, Assunção Cristas prometeu voltar ao território a cada dois meses, e tem cumprido. Dias antes do congresso, na última visita à associação, terá formalizad­o o convite. António Zuzarte nega as ligações ao partido, mas lamenta “não ser verdade. Ela [Nádia] tem uma causa, é uma lutadora, uma pessoa influente, e não é por falta de interesse nosso que não está no CDS”.

Nádia Piazza, natural do estado do Paraná, no Brasil, mora em Portugal há 18 anos. Veio estudar para Coimbra, licenciou-se em Direito e chegou a Figueiró dos Vinhos pela via do casamento. A presidente da Associação das Vítimas de Pedrógão Grande refuta qualquer tentativa de politizar a instituiçã­o, tãopouco relaciona a demissão recente de dois membros da direção. Tanto mais que os motivos que lhe foram apresentad­os nas cartas de demissão são “de carácter pessoal”. Dina Duarte não quis prestar declaraçõe­s ao DN, Belmira Morgado justificou a saída com indisponib­ilidade, preferindo não comentar a entrada de Nádia na cena política. Para os lugares deixados vagos na direção entraram Luís Sanches e Tiago Ferreira, este último companheir­o de Nádia. “Se fosse outro teria aceitado” “Ninguém tem partido, mas se tivesse não era problema”, afirma a presidente. Nádia distingue bem o seu papel de líder da associação do outro que tem enquanto cidadã. Se tivesse sido convidada por outro partido qualquer teria aceitado? “Claro que sim.” Ao DN, a jurista – que afirmou que “se o governo é de esquerda é a ele que tenho de pedir responsabi­lidade” – reforçou o que disse nesta semana numa entrevista à revista Sábado: “Sou apartidári­a. Aceitei esse convite porque o importante é colocar o tema do interior na agenda política. Neste grupo de trabalho posso dar a minha visão e o que penso do interior. Acredito piamente no caminho da porta estreita e não da via larga. Todos os fóruns são poucos para o discutir, até porque o interior não vale votos. A minha ideia é trabalhar por dentro. É bom que haja ruído, porque dessa forma o tema da interiorid­ade passa a ser concorrido”, disse.

O Presidente da República tem sido o grande apoio público de Nádia Piazza, e ao seu gabinete terá chegado a denúncia da politizaçã­o e da forma de trabalhar com que nem toda a direção se identifica. Questionad­o pelo DN, o gabinete de Marcelo Rebelo de Sousa fez saber que o Presidente não comenta associaçõe­s nem problemas internos.

“Sou apartidári­a. Aceitei esse convite porque o importante é colocar o tema do interior na agenda política”

NÁDIA PIAZZA

PRES. ASSOC. VÍTIMAS INCÊNDIO DE PEDRÓGÃO

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Cristas prometeu voltar a Pedrógão a cada dois meses. Terá sido nessas visitas que convidou Nádia para o grupo que vai elaborar programa

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