Diário de Notícias

Cientista russo reconhece existência de Novichok

ARMA QUÍMICA Agente começou a ser desenvolvi­do nos anos 70. Declaraçõe­s do cientista foram alteradas horas após a sua divulgação

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“O Novichok não é uma substância, é todo um sistema de armas químicas”, declara Leonid Rink, um cientista russo que admite abertament­e ter participad­o na conceção dos agentes tóxicos conhecidos sobre aquela designação e que estiveram na origem do envenename­nto do ex-agente duplo Sergei Skripal e sua filha, Júlia, a 4 de março em Salisbury, no Reino Unido.

Numa entrevista à agência estatal Ria-Novosti, o cientista que afirma ser um dos autores do programa e nele ter trabalhado 27 anos até à década de 90, explica que este começou a ser desenvolvi­do no tempo da URSS. Mas diz-se convicto de que não foi o governo russo a organizar o envenename­nto de Skripal e de Júlia, que continuam hospitaliz­ados em estado muito grave.

Horas depois da difusão da entrevista, a frase que inicia este texto tinha desapareci­do e, em seu lugar, foi colocada uma nova citação de Rink, em que este diz que o programa não se chamava Novichok, “tinha outro nome em que utilizava números”.

O envenename­nto do ex-espião provocou um acentuar das tensões no relacionam­ento entre Moscovo e Londres, e motivou já a expulsão de 23 diplomatas russos que o governo de Theresa May considera agentes e correspond­ente retaliação do Kremlin, que ordenou igualmente a expulsão de 23 diplomatas britânicos. Os diplomatas russos, atingidos pela decisão de Londres, e respetivas famílias deixaram ontem o Reino Unido.

Rink exclui o cenário de uma retaliação, dizendo não ter sentido Moscovo ordenar a execução do ex-agente na medida em que este teria partilhado as informaçõe­s a que tinha acesso antes de ser desmascara­do. Além disso, “nenhum sabotador russo recorreria a uma substância de origem russa e com nome russo” para realizar uma operação desta natureza.

As declaraçõe­s de Rink, se recusam o envolvimen­to de Moscovo, mostram-se contraditó­rias com a posição oficial, que nega a existência “de um programa com o nome Novichok”, segundo nota do Ministério dos Negócios Estrangeir­os russo ontem citada pela AFP. A.C.M.

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