Diário de Notícias

O regresso de Sarkozy não correu como ele planeava

França. Ex-presidente ensaiava retorno à vida política ativa. Foi detido no âmbito da investigaç­ão ao financiame­nto da campanha de 2007

- CÉSAR AVÓ

Nicolas Sarkozy foi ontem detido para interrogat­ório em Nanterre. O ex-chefe de Estado francês foi ouvido no caso da campanha eleitoral de 2007, na qual é suspeito de ter recebido dinheiro de forma ilícita. Segundo o vespertino Le Monde, as autoridade­s terão recebido elementos novos por parte de antigos dirigentes do regime de Kadhafi. Também Brice Hortefeux, homem próximo de Sarkozy e ministro do Interior durante o seu mandato, foi chamado para depor, mas sem ter sido detido.

Aos 63 anos, Nicolas Sarkozy sente-se longe da reforma. Sempre pensou num regresso, quer após a histórica derrota em 2012 para François Hollande (quando Sarkozy se tornou o primeiro presidente a falhar a reeleição desde Giscard d’Estaing, em 1981) quer ao perder na primeira volta das primárias de Os Republican­os em 2016. Nas últimas semanas, o homem que foi apelidado de “hiperpresi­dente” multiplico­u os sinais de atividade e as declaraçõe­s públicas, a ponto de um dirigente de Os Republican­os ter afirmado à AFP que “é evidente que prepara o regresso”.

Mas os seus planos podem ter ficado comprometi­dos. No caso pelo qual a polícia judiciária o questionou, os investigad­ores procuram o rasto, desde 2013, do possível pagamento pelo regime do ditador líbio Muammar Kadhafi à equipa da campanha do então ministro do Interior e candidato presidenci­al às eleições de 2007.

Em 2012, o site noticioso Mediapart revelou um documento líbio que menciona o financiame­nto do regime de Muammar Kadhafi à campanha de Sarkozy. Na posse da justiça francesa, cadernos do ex-ministro do Petróleo Choukri Ghanem, que apareceu afogado no Danúbio em 2012, mencionam a existência de pagamentos a Sarkozy.

Acusado de corrupção, o intermediá­rio franco-libanês Ziad Takieddine afirmou em 2016, quando Sarkozy concorria às primárias de Os Republican­os, ter transporta­do cinco milhões de euros em malas de Tripoli para Paris entre o final de 2006 e o início de 2007, antes de os entregar ao dirigente da UMP e secretário-geral do Eliseu Claude Guéant e posteriorm­ente a Nicolas Sarkozy, então ministro do Interior. Claude Guéant foi indiciado em março de 2015, sob suspeita de fraude fiscal, falsificaç­ão e uso de documentos falsos.

“Kadhafi disse que financiou Sarkozy. Sarkozy disse que não recebeu. Eu acredito mais em Kadhafi”, declarou ao Le Monde, por seu turno, Bechir Saleh, antigo chefe de gabinete de Kadhafi. Este antigo dirigente líbio foi recentemen­te ferido a tiro em Joanesburg­o.

Outra testemunha-chave é Alexandre Djouhri. O franco-argelino, outro intermediá­rio próximo de Saleh, foi detido em Londres, mas está hospitaliz­ado há uma dúzia de dias, devido a problemas cardíacos.

Além deste processo, o nome de Nicolas Sarkozy está associado a outros dois casos: Bygmalion, por a campanha eleitoral de 2012 ter ultrapassa­do em 20 milhões de euros o limite legal; e Bismuth, sobre a tentativa ilícita de obtenção de informaçõe­s sobre outro caso em que estava envolvido – Bettencour­t – revelada em escutas entre Nicolas Sarkozy e o seu advogado.

O franco-libanês Takieddine revelou ter transporta­do cinco milhões de euros em malas de Tripoli para Paris em 2006 e 2007

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As suspeitas de que Kadhafi financiou a campanha de Sarkozy levaram o francês a interrogat­ório

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