Diário de Notícias

A guerrilha política no PSD

- PAULO TAVARES

Não há regra escrita que obrigue ao respeito e à solidaried­ade de um partido inteiro por uma liderança recém-eleita. Os estados de graça não se decretam e, no fim do dia, cabe ao novo líder afirmar-se, marcar a agenda política e fazer o seu caminho.Vem esta conversa a propósito de Rui Rio e do clima de guerrilha interna que está a enfrentar no PSD.

A história ensina-nos que exércitos regulares, quando confrontad­os com estratégia­s e táticas de guerrilha, raramente saíram vitoriosos. O que Rui Rio tem vivido na frente interna é uma oposição até ver inorgânica – veremos como se comporta o grupo parlamenta­r em votações decisivas para a direção –, com braços armados nalguma imprensa. O líder do PSD não poderá lutar com as mesmas armas e sabe disso. Este não é um texto de defesa de Rui Rio e muito menos de Feliciano Barreiras Duarte, mas a forma denuncia os autores. O ex-secretário-geral do PSD não martelou o currículo há dois ou três meses e teve um percurso de proximidad­e com Pedro Passos Coelho – secretário de Estado entre 2011 e 2013, deputado e chefe de gabinete. Presume-se que o seu currículo fosse do conhecimen­to de quem depositou nele tamanha confiança. Berkeley estava na prateleira, à espera do momento certo. Aliás, como em qualquer guerra de guerrilha, haverá certamente mais truques escondidos na manga de quem tem como principal objetivo desestabil­izar a nova liderança.

Rui Rio está a queimar tempo. Cada dia que passa em reflexão para os seus projetos para o país e para o partido é um dia perdido. O vazio de propostas e ruído mediático da atual direção, por muito que venha a qualificar o líder como um “político diferente”, tem esse pequeno problema de deixar a porta aberta aos críticos, aos deserdados de Passos Coelho.

Numa lógica meramente partidária, Rui Rio fez quase tudo bem até ao congresso. Geriu silêncios e chamou Pedro Santana Lopes para negociar listas conjuntas. Teria, em condições normais, assegurado alguma pacificaçã­o do PSD. O azedume que governou o PSD desde as eleições de 2015 foi mais forte. Não havendo no horizonte sombra de diabo ou de inferno e com as principais figuras do passismo fora da primeira linha do combate político, sobrava-lhes a guerrilha. Rui Rio e a nova direção estavam (e puseram-se) a jeito.

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