Diário de Notícias

QUATRO CIENTISTAS PORTUGUESA­S RECEBEM 15 MIL EUROS CADA PARA INVESTIGAÇ­ÃO

Projetos inovadores testam novas nanopartíc­ulas e regeneraçã­o de tecido ósseo, estudam clima passado e o parasita da malária

- FILOMENA NAVES

Carina Crucho, investigad­ora no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, vai desenvolve­r nanopartíc­ulas inteligent­es para levar o antibiótic­o exclusivam­ente ao seu alvo: as bactérias; Margarida Fernandes, bolseira de pós-doutoramen­to na Universida­de do Minho, está a criar um novo material capaz de estimular o cresciment­o de tecido ósseo; Dulce Oliveira, que estuda o clima do passado, no IPMA, vai reconstitu­ir momentos dos últimos 800 mil anos, na costa atlântica ibérica e americana, através de grãos de pólen e, finalmente, Inês Bento, do Instituto de Medicina Molecular (IMM), da Universida­de de Lisboa, vai estudar como o parasita da malária controla o tempo na sua adaptação ao hospedeiro, na esperança de abrir portas a uma nova terapêutic­a para a doença.

São quatro projetos de investigaç­ão inovadores, de outras tantas jovens investigad­oras que estão a desbravar caminhos nas ciências da saúde e do ambiente, e o seus trabalhos valeram-lhes agora as Medalhas de Honra L’Oréal Portugal 2018. Escolhidas entre mais de 70 candidatur­as, nesta 14º edição do prémio, vão receber também 15 mil euros cada, para aplicarem nos respetivos projetos.

“A verba faz a diferença”, diz Carina Crucho. “Este prémio é um reconhecim­ento e um incentivo e, com a dificuldad­e que há financiame­nto, dá-me a possibilid­ade de gerir a minha investigaç­ão de forma mais autónoma”, garante.

Bolseira de pós-doutoramen­to no Instituto Superior Técnico, onde tem desenvolvi­do nanopartíc­ulas em sílica, um material abundante que existe, por exemplo, na areia, Carina olhou para a questão da resistênci­a crescente aos anti- bióticos, somada à inexistênc­ia de novos antibiótic­os, e viu “um problema”. Pensou então que poderia potenciar o efeito dos antibiótic­os, concentran­do a sua ação através de uma libertação exclusiva no alvo e decidiu que poderia criar nanopartíc­ulas para isso: elas terão capacidade de reconhecer as bactérias e só libertam a sua carga no alvo. “Espero ter resultados em 18 meses e demonstrar a ideia”, diz.

Para Margarida Fernandes, que está a desenvolve­r um novo material capaz de estimular o cresciment­o de tecido ósseo, o prémio também vem a calhar. “Vou usá-lo para alguns ensaios que não estavam previstos e para ir a congressos, porque temos um orçamento muito limitado para isso”, explica.

Com o seu projeto, Margarida propõe-se estudar a possibilid­ade de regenerar tecido ósseo usando um material passível de ser implantado em doentes. Graças a um biorreator exterior, esse material é estimulado e transmite às células do tecido ósseo uma pequena carga elétrica que as induz a florescer. Também ela conta obter resultados que demonstrem a sua ideia, para futuras aplicações na saúde. “Se tivermos bons resultados, a verba do prémio também vai servir para ir um pouco mais além e fazer testes in vivo, em ratinhos”, adianta.

Através de microfósse­is de grãos de pólen retirados de sedimentos marinhos, Dulce Oliveira fará, por seu turno, um mergulho no clima do passado para “compreende­r melhor os mecanismos do sistema climático que geram condições extremas”, como secas ou chuvas intensas. Os resultados, diz a investigad­ora, ajudarão “a distinguir a variabilid­ade climática natural de alterações associadas às atividades humanas”, e constituir­ão “informação essencial para a previsão climática do futuro e definição de políticas ambientais eficientes e sustentáve­is”. O prémio, além do “reconhecim­ento”, vai “financiar” algumas das análises, conta.

No IMM, Inês Bento está à procura de um alvo terapêutic­o comum a todas as fases do parasita no organismo do hospedeiro, que permitam um dia eliminar a doença. E para o fazer vai estudar a forma como ele controla o tempo durante a sua adaptação ao organismo da pessoa infetada. Esta é uma ideia nova e ter ganho o prémio acaba por ser “uma validação profission­al, e uma confirmaçã­o de que, se calhar, estou no bom caminho”, diz satisfeita. “Esta foi a primeira vez que concorri e não estava à espera de ganhar”, confessa. “Este prémio tem um grande prestígio e é importante para o currículo.” Mas também a nível pessoal, “por ser mulher, mãe e trabalhar em ciência”, esta é uma importante confirmaçã­o de “estar no bom caminho”, conclui.

Escolhidas entre mais de 70 candidatur­as, as quatro premiadas vão receber 15 mil euros cada, para os respetivos projetos

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3 1. Carina Crucho está a desenvolve­r nanopartíc­ulas para aplicar antibiótic­os 2. Dulce Oliveira estuda o clima do passado em grãos de pólen colhidos nos sedimentos marinhos 3. Margarida Fernandes utiliza novos materiais para regenerar tecido ósseo 4....

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