Diário de Notícias

Pelo combate à obesidade

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Em visita recente a Portugal, José Graziano da Silva, diretor-geral da Organizaçã­o das Nações Unidas para a Alimentaçã­o e Agricultur­a (FAO), referiu-se à obesidade como “uma epidemia avassalado­ra” que ameaça as sociedades modernas, sobretudo mulheres e crianças. Portugal não está longe desta realidade.

Cerca de 60% dos portuguese­s têm obesidade ou estão em risco de desenvolve­r essa condição, segundo os resultados de um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universida­de do Porto (ISPUP), divulgado no final do ano passado.

A obesidade é, pois, um problema de saúde pública que urge combater com rapidez e eficácia. Mas a resposta do Estado tem sido muito insuficien­te nesta matéria: existem apenas 400 nutricioni­stas em todo o país – 300 em hospitais e cem em centros de saúde – que servem uma população de mais de cinco milhões de portuguese­s com pré-obesidade e obesidade.

As farmácias comunitári­as, enquanto espaços credíveis e seguros que promovem uma saúde de proximidad­e, tornaram-se nos últimos anos uma alternativ­a ao Estado, garantindo o acesso de serviços de nutrição a milhares de portuguese­s. Esta solução, além da sua importânci­a para a saúde e o bem-estar da população, representa uma poupança óbvia para os cofres públicos.

No entanto, a Ordem dos Nutricioni­stas prepara-se para introduzir alterações à atuação destes profission­ais nas farmácias comunitári­as, que poderão pôr em causa a realização destes serviços de nutrição e inviabiliz­ar a presença de nutricioni­stas nestes espaços.

Criada pela Ordem dos Nutricioni­stas, a Norma de Orientação Profission­al (NOP) Atuação do Nutricioni­sta na Farmácia Comunitári­a, em consulta pública até ao dia 5 de março, determina que os nutricioni­stas sejam impedidos de disponibil­izar aos utentes um serviço de nutrição que inclua sessões de aconselham­ento nutriciona­l e recomendaç­ão de suplemento­s alimentare­s, que visam compensar restrições e potenciar o emagrecime­nto e que assentam num método com comprovada evidência científica.

Paralelame­nte, a mesma NOP impõe exigências no que se refere a infraestru­turas e equipament­os nos gabinetes de nutricioni­stas, que são desajustad­as e não se aplicam a outros locais onde se fazem estas consultas, incluindo no Serviço Nacional de Saúde.

Por outras palavras, esta NOP, nos termos em que está redigida, é perigosa, não só para os nutricioni­stas – mais de 10% poderão perder os seus postos de trabalho – mas também para as farmácias que deixam de oferecer consultas de nutrição aos seus utentes e para muitos milhares de portuguese­s, que se vêm impedidos de recorrer a um serviço de saúde a que o Estado simplesmen­te não tem capacidade de dar resposta. Não se trata de um mal menor.

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NUTRICIONI­STA
FILIPA CORTEZ NUTRICIONI­STA

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