SARKOZY INDICIADO POR CORRUPÇÃO
Antigos dirigentes de Tripoli terão entregue à justiça francesa provas de que o antigo presidente recebeu dinheiro de Kadhafi
O antigo presidente francês Nicolas Sarkozy foi ontem indiciado pela prática dos crimes de corrupção passiva, financiamento ilegal de campanha eleitoral e ocultação de fundos públicos líbios. Os juízes ordenaram a apresentação periódica às autoridades.
Terminou assim, ao início da noite de ontem, um interrogatório de quase 27 horas, que decorreu em Nanterre, em que o antigo chefe de Estado de França, entre 2007 e 2012, teve de responder a perguntas sobre suspeitas do financiamento da sua campanha presidencial por verbas do regime dirigido por Muammar Kadhafi.
O interrogatório decorreu entre a manhã de terça-feira e a meia-noite deste dia, tendo sido retomado logo às 08.00 de ontem. Igualmente sujeito a interrogatório esteve Brice Hortefeux, que foi ministro do Interior no período em que Sarkozy permaneceu no Eliseu.
Desde que, em 2012, se levantaram estas suspeitas que o antigo presidente sempre negou qualquer veracidade às revelações que foram surgindo entretanto.
A detenção para interrogatório na passada terça-feira terá tido por base, precisamente, um documento líbio a comprovar o pagamento de 50 milhões de euros a Sarkozy para que este contribuísse para o fim do isolamento diplomático do regime de Tripoli. O documento foi inicialmente revelado pelo site Mediapart. Um primeiro inquérito foi aberto em 2013.
A entrega das verbas terá sucedido entre finais de 2006, início de 2007, segundo o empresário franco-libanês Ziad Takieddine, embora este último só refira ter entregue, ele próprio, três malas com cinco milhões de euros a Sarkozy, então ministro do Interior, e ao seu chefe de gabinete, Claude Guéant.
As revelações de Takieddine sucederam em novembro de 2016 e vieram confirmar as do antigo responsável dos serviços de informações militares do regime líbio, Abdallah Senoussi, em setembro de 2012 perante o Conselho Nacional de Transição líbio.
50 › Milhões de euros Documentos indicam que regime do ditador líbio Muammar Kadhafi terá entregue 50 milhões de euros para a campanha presidencial de Sarkozy.
O Le Monde escrevia ontem que livros de apontamentos de um antigo ministro líbio continham menções expressas à entrega daquelas verbas.
Segundo o mesmo diário, várias personalidades ligadas ao regime de Kadhafi terão fornecido novos elementos nos últimos tempos aos juízes franceses, que terão confirmado a suspeita de financiamento ilícito da campanha de Sarkozy em 2007.
Antigos dirigentes do regime de Kadhafi confirmam essas entregas enquanto outros as desmentem. Um facto permanece incontroverso: logo após a sua eleição em 2007, Sarkozy recebeu com grande pompa no Eliseu o antigo ditador líbio.
A linha de investigação agora seguida representa um desenvolvimento de um outro inquérito em que a candidatura de Sarkozy está sob suspeita de corrupção. Durante a campanha de 2007, verificou-se uma inusitada circulação de dinheiro em espécie, que se deveria a donativos anónimos, segundo Guéant. Outros intervenientes na campanha contestam esta versão. Guéant foi acusado “de fraude fiscal organizada”.
Os desenvolvimentos das últimas 48 horas assinalam o regresso às notícias do antigo presidente francês que, segundo fontes próximas, estaria a planear envolver-se novamente na política ativa.