Diário de Notícias

A Festa do Jazz regressa para fazer um mundo melhor

São três dias de corrupio jazzístico na Festa do Jazz, que cruza consagrado­s com escolas de todo o país agora em nova(s) morada(s)

- MARINA ALMEIDA

“Há uma coisa que se mantém que é essencial para a Festa do Jazz, que é a nossa matriz. Isso significa ter as escolas a funcionar em simultâneo com grupos profission­ais, em simultâneo com revelações, em simultâneo com os prémios, com a feira do disco, com consagrado­s e com esta gente que se encontra na festa”, diz Carlos Martins, músico e um dos programado­res. É a 16.ª edição da Festa do Jazz, a primeira em novas casas – Conservató­rio Nacional, Museu de História Natural e da Ciência e Imprensa Nacional – depois de década e meia no Teatro Municipal São Luiz.

“Espalha-se por outras casas fantástica­s, o que importa é como continua. Vivemos do futuro e de uma ligação fortíssima entre pessoas da comunidade e em quatro meses conseguimo­s voltar a montar a Festa do Jazz”, diz. A Festa do Jazz deixou o São Luiz, onde acontecia anualmente desde a primeira edição, em 2003. A diretora do teatro municipal, Aida Tavares, justificou a decisão (em janeiro, à Lusa), com a vontade de fazer uma reflexão sobre a programaçã­o dedicada ao jazz. Segundo Carlos Martins, a notícia chegou à Associação Sons da Lusofonia a quatro meses da Festa e houve que arregaçar as mangas: “Com quatro meses não se consegue ter a possibilid­ade de escolha e a liberdade para programar, arranjar verbas e ocupar espaços que estão todos tomados nesta cidade fervilhant­e”, diz ao DN.

Desta vez, Carlos Martins não foi o único programado­r. “Houve duas mulheres envolvidas na programaçã­o que ouviram tudo e sujeitaram-me no fim à apreciação”: Alaíde Costa e Constanze Jurgens.

O programa começa hoje (21.30, Picadeiro do Museu de História Natural e da Ciência) com o concerto Três Trios, com o João Barradas trio, o The Rite of Trio e o Pablo Lapidusas Internatio­nal Trio – P.L.I.N.T. (projeto do pianista argentino, com o baixista cubano Leo Espinosa e o baterista brasileiro Marcelo Araújo). Amanhã é dia de escolas e elas encontram-se a partir das 15.00 no Salão Nobre do Conservató­rio Nacional. Ali acorrem formações de Lisboa ( JB Jazz e Escola de Jazz Luiz Villas-Boas, Hot Club de Portugal), Porto (Conservató­rio de Música e Jahas Rockschool), Aveiro (Escola do Conservató­rio de Música Calouste Gulbenkian), Braga, Albergaria-a-Velha e Montemor-o-Novo.

Enquanto isso, no Picadeiro do Museu de História Natural e da Ciência Eduardo Cardinho apresenta o seu novo projeto, em quarteto (17.00). Mais tarde, pelas 18.30, Rodrigo Amado (sax tenor) e Hernâni Faustino (contrabaix­o) tocam com Harris Eisenstadt (baterista) numa formação inédita. A partir das 21.00, no Conservató­rio, decorre um showcase de escolas superiores de música. Às 21.30, o Picadeiro recebe o Beatriz Nunes Quarteto e às 23.00 o Maria João Trio – Ogre Electric Trio. Domingo, a partir das 15.30, decorre o encontro nacional de escolas de música e, duas horas depois, o pianista João Paulo Esteves da Silva encerra o programa com Brightbird (com Marco Franco no contrabaix­o e Samuel Rohrer na bateria).

“O programa é fabuloso, a música que está na programaçã­o é maravilhos­a, são grandes músicos, vão ser grandes concertos, vai ser uma Festa do Jazz onde toda a gente envolvida vai mostrar a força que tem e aquilo que tem para mostrar que é só através da beleza da música, só através da construção positiva se consegue fazer um mundo melhor”, diz o programa- dor. “O que nós queremos é realçar essa beleza toda que existe nestes encontros que são muito importante­s para a história recente do jazz em Portugal. A Sara Serpa, a Susana Santos Silva, o Ricardo Toscano, o João Barradas, o Pedro Melo Alves, o João Mortágua, o José Pedro Coelho, são grandes músicos hoje em dia em Portugal, todos eles ganharam um prémio na Festa do Jazz. Há outros bons músicos que não ganharam prémios mas quase todos ganharam, é muito simbólico. A Festa assume-se como o grande ponto de encontro mas também como uma relação pensada, estratégic­a, para avaliar criticamen­te a evolução do jazz em Portugal e é isso que nós queremos continuar a fazer.”

Pedro Melo Alves é um desses músicos premiados. Foi distinguid­o na última edição com o prémio de composição Bernardo Sassetti e regressa este ano, ao palco, com The Rite of Trio para apresentar o seu primeiro álbum. Participou pela primeira vez na Festa como baterista da escola Valentim de Carvalho, do Porto, há uma década. “É um grande prazer voltar”, diz. “Vamos apresentar o nosso primeiro álbum, Getting all the Evil of the Piston Collar! [2015]. A banda nasce no contexto de formação académica de jazz e define-se por uma ausência de estilo. Juntamo-nos e o único mote é não ter qualquer restrição”, diz o músico. Para Pedro Melo Alves, o encontro de estudantes, jovens e consagrado­s que acontece na Festa do Jazz é única a nível nacional – com exceção de alguns workshops em Guimarães. “Toda a gente é transforma­da.”

O programa é fabuloso, a música que está na programaçã­o é maravilhos­a, são grandes músicos, vão ser grandes concertos CARLOS MARTINS PROGRAMADO­R DA FESTA DO JAZZ

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The Rite of Trio (foto principal) toca esta noite, Maria João apresenta-se no sábado no Picadeiro

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