Diário de Notícias

Eurodeputa­do do PSD: “Cristas quer dar um salto muito maior do que a perna”

- JOÃO PEDRO HENRIQUES

Em entrevista ao DN, o eurodeputa­do José Manuel Fernandes, líder também da distrital do PSD de Braga, abre o jogo sobre o CDS, fala da liderança de Rui Rio, de quem deve ser o cabeça-de-lista do partido nas próximas europeias e da sua própria disponibil­idade para ser recandidat­o ao Parlamento Europeu. Esteve agora numa audição da comissão de Assuntos Europeus da Assembleia da República sobre os fundos comunitári­os. Correu bem? O quadro financeiro plurianual, as próximas perspetiva­s financeira­s para Portugal são essenciais. Neste quadro financeiro plurianual, de 2014 a 2020, conseguimo­s mais de 11 milhões e meio de euros por dia, são uns 30 mil milhões de euros num envelope, 22 mil [milhões] na política de coesão, oito mil milhões de euros na política agrícola comum, em que quatro mil milhões de euros são desenvolvi­mento rural e outros quatro mil milhões de euros dentro da PAC são ajudas diretas aos agricultor­es. Este montante foi conseguido pelo governo anterior num momento económico difícil, foi um excelente envelope financeiro. Num momento económico mais favorável o que se espera – e o PSD e o Dr. Rui Rio estão a ajudar nisso colocando o interesse nacional em primeiro lugar e acima do partidário – e é expectável é que o governo consiga um envelope financeiro no mínimo igual a este. Portanto, a fasquia que o PSD coloca é, no mínimo, igual? Sim, igual. Numa negociação europeia é um desastre se se parte para essa negociação admitindo que se pode reduzir o envelope. Há mesmo um risco de o montante dos fundos de coesão, por exemplo, baixar drasticame­nte por causa do brexit? Portugal tem todas as condições para manter o envelope da política de coesão, ainda que o envelope global se reduzisse – se diminuísse muito, os recursos seriam só para as regiões menos desenvolvi­das. Infelizmen­te, Portugal – com exceção de Lisboa – tem as regiões todas na categoria de menos desenvolvi­das, abaixo de 75% do PIB per capita. Mas a saída do Reino Unido, que representa cerca de dez mil milhões de euros por ano, também deverá ser compensada com novos recursos próprios para o orçamento, de forma a que até se reforcem algumas prioridade­s como a iniciativa emprego jovem e que é essencial que se reforce. O facto de o PSD e o governo estarem a tentar surgir de mão dada nesta negociação reforça a posição portuguesa? Reforça e aí o Dr. Rui Rio coloca em primeiro lugar o interesse nacional acima do interesse do PSD e é isso que se deve fazer. Depois começará a negociação sobre os fundos para 2030 e o consenso entre PSD e governo terá de manterse? É diferente o primeiro-ministro de Portugal chegar a Bruxelas e dizer: “Estou aqui com o apoio de dois partidos radicais que são contra a União Europeia e que votaram – no caso do Partido Comunista no Parlamento Europeu – contra o quadro financeiro plurianual, e o Bloco de Esquerda absteve-se.” E é diferente ele dizer: “Eu tenho o apoio do PSD...” Do ponto de vista estritamen­te do PSD, diga-me duas ou três prioridade­s dos fundos para aplicar em Portugal, dos fundos que vamos receber em 2130. Para mim, a prioridade número um é a necessidad­e desta coesão. Depois há outra prioridade, a da competitiv­idade, da aposta nos nossos recursos endógenos, nas qualificaç­ões, no capital humano, na investigaç­ão e na inovação. E investimen­to em serviços públicos? Também se enquadra, a política de coesão tem dois fundos destinados ao investimen­to – o Feder e o fundo de coesão – totalmente destinados ao investimen­to. Mas há uma outra coisa que não tem sido aproveitad­a como devia: o plano Juncker, de que fui o relator, já mobilizou na União Europeia 260 mil milhões de euros de investimen­to. Em Portugal, são cerca de s mil milhões. O que é que eu estou a dizer? Que Portugal tem à sua disposição um instrument­o que é o plano Juncker que vai funcionar até 2020 para mobilizar 500 mil milhões de euros. E há aqui a necessidad­e de as comissões de coordenaçã­o regional... Mas sente-se alguma inoperânci­a no Estado português nesse sentido? Não há uma estratégia para se rentabiliz­ar este plano. Porque é que não se faz uma plataforma de investimen­tos na área social para concluir os equipament­os sociais? Na floresta, porque é que não se junta fundos estruturai­s com o Plano Juncker para a floresta? Porque é que não se faz um instrument­o de financiame­nto para o interior? Sim, mas o pivô central nessa falta de estratégia é o governo? É o governo e as comissão de coordenaçã­o, que deviam ser proativas, deveriam estar a fazer um levantamen­to do que é necessário fazer, até para juntar investimen­tos. Rui Rio vai à conferênci­a do PPE pela primeira vez enquanto líder do PSD. Ele enfrenta ou não o problema de ter um peso político muito inferior ao de Pedro Passos Coelho? Não, o presidente do PSD tem sempre um enorme peso político. Pedro Passos Coelho reforçou a credibilid­ade de Portugal. Hoje, os portuguese­s são vistos na UE como uns heróis que ultrapassa­ram uma fase dificílima. Somos todos herdeiros desta credibilid­ade e o Dr. Rui Rio vai com a força de quem acabou de ser eleito para a liderança. Além disso, toda a gente sabe que ele está na vida pública há bastante tempo. Nem as trapalhada­s internas no PSD afetam essa credibilid­ade? Mas quer mais trapalhada­s do que as do António Costa? Os elementos do PSD têm de estar próximos da beatificaç­ão e a caminho da santidade, os socialista­s podem fazer todo o tipo de disparates que não há problema nenhum. Já pensou o que era se Sócrates fosse do PSD, que ele conseguia fazer uma conferênci­a de economia numa universida­de como a de Coimbra? Agora, António Costa quantas remodelaçõ­es é que fez? Que atitude é que teve em relação a uma tragédia brutal como a dos incêndios? Quanto tempo é que ele demorou a perceber que a ministra não tinha condições? Se Rui Rio tivesse algum pequeno constrangi­mento para ir à cimeira do PPE, António Costa não punha os pés nunca no Conselho Europeu. Paulo Rangel deve encabeçar a lista do PSD ao Parlamento Europeu? É uma mais-valia dentro do partido, é vice-presidente do grupo parlamenta­r, é vice-presidente do Partido Popular Europeu e é um grande deputado dentro do Parlamento Europeu. Os primeiros tempos da liderança de Rui Rio têm sido difíceis... Rui Rio é um maratonist­a. Isto não é uma corrida de 100 metros. As próximas legislativ­as serão em 2019, lá para setembro, outubro. Pedro Santana Lopes disse que estava na altura de Rui Rio inaugurar a sua liderança. A verdade é que o estilo de Rui Rio tem dado resultados e tem tido sucesso. O facto de ter ganho três vezes no Porto e de ter ganho o PSD não lhe dá

um atestado de vitória automática nas legislativ­as. Os portuguese­s valorizam um líder resistente, que esteja convicto das suas ideias, que não se deixa abalar e que não é pressionad­o pelo imediatism­o. Os problemas que ele tem enfrentado: Feliciano Barreiras Duarte, a questão de Elina Fraga, de Fernando Negrão ter sido eleito com 30% de votos a favor e 60% de brancos e nulos. Há um problema interno no PSD ou não? Não, não há um problema interno, há uma adaptação. Vamos agarrar o caso do Dr. Fernando Negrão. A pacificaçã­o está em curso, portanto há uma série de problemas que existiram, visíveis, que estão a ser ultrapassa­dos. E portanto o PSD não é um partido em que a diversidad­e não exista, existe diversidad­e, conflito, tensão e, numa fase de transição, essa tensão e esse conflito podem sobressair. Mas é dentro do espaço próprio e tudo isso não enfraquece o PSD. Claro que há situações que era melhor que não tivessem acontecido, mas vão sendo resolvidas e já estão resolvidas. Aquilo que também tenho notado em Rui Rio é que é um homem de boa-fé e portanto, até prova em contrário, acredita nas pessoas, e eu acho que deve ser assim, que a liderança também deve ser assumida dessa forma. Assume que era preferível o PSD ter menos problemas internos e estar mais virado para a oposição ao governo. Sim, mas o líder e o PSD, a liderança do Fernando Negrão tem um mês e por isso não vamos dizer que o PSD não está a fazer oposição no Parlamento. Rui Rio também está a fazer oposição, mas em algumas questões ele considera que deve haver consensos. A oposição deve servir o país e deve manifestar diferenças e divergênci­as com o governo, e essas também têm existido. Agora, não se pode pedir que num mês todas as diferenças que existem seja evidenciad­as, porque isso era esgotar aquilo que é a estratégia de um líder. Como vê as ambições de Assunção Cristas? Tem uma vontade muito maior e uma ambição muito maior do que as suas possibilid­ades, que é dar um salto muito maior do que a perna. Está disposto a ser recandidat­o ao Parlamento Europeu? Eu adoro o que estou a fazer e tenho consciênci­a de que faço um trabalho que é importante para a União Europeia e para Portugal. Se lhe dissesse que não gostava de fazer um novo mandato estaria a mentir, mas essa decisão não depende de mim.

“Rui Rio é um maratonist­a. Isto não é uma corrida de 100 metros. As próximas legislativ­as serão em 2019, lá para setembro, outubro”

“Se lhe dissesse que não gostava de fazer um novo mandato estaria a mentir, mas essa decisão não depende de mim”

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