Diário de Notícias

Depois do terceiro lugar no Mundial do Brasil, em 2014, a Holanda falhou as qualificaç­ões para o Euro 2016 e Mundial 2018

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Foi sexta-feira, na recém-renomeada Johan Cruijff Arena, em Amesterdão, que a nova Holanda deu o primeiro passo para procurar reocupar o seu lugar no futebol europeu e mundial – e a derrota pela margem mínima, com a Inglaterra (0-1), não foi de todo preocupant­e, apesar de ser a primeira em 22 anos com o adversário do outro lado da Mancha. O segundo será já amanhã com Portugal, um rival que lhe coloca sempre dificuldad­es e a quem não ganha desde 1991 (único triunfo em 12 jogos), em Genebra, na Suíça.

Depois de duas qualificaç­ões falhadas a nível sénior (não se apurou para o Europeu de 2016 e Mundial 2018), isto após ter chegado ao pódio no Brasil em 2014, a federação decidiu apostar, para render o selecionad­or Dick Advocaat, em Ronald Koeman, antigo central que estava disponível após ter sido despedido do Everton, de modo a procurar resgatar a sua equipa dos tempos negros que tem vivido.

Já sem poder contar com o talento de nomes como Van Persie, Sneijder, Robben, Kuyt ou Huntelaar, que se retiraram do futebol internacio­nal, o antigo técnico do Benfica apenas incluiu quatro nomes que estiveram na competição brasileira nesta sua primeira convocatór­ia: o guarda-redes Cillessen, o defesa De Vrij, o médio Wijnaldum e o avançado Depay. Sinal de renovação num país que tem vindo a perder fulgor na cena internacio­nal – mesmo a nível de clubes, a prestação holandesa, com exceção da final conseguida pelo Ajax na época passada, tem andado pelas ruas da amargura: este ano, a Holanda ocupa o 29.º lugar do ranking da UEFA, sendo 14.ª no total das últimas cinco épocas.

A verdade é que na última década, nem o futebol jovem tem conseguido resultados ao nível do que se esperava num país famoso pela sua formação. Os sub-21, depois de vencerem duas vezes o Europeu, só estiveram presentes numa fase final (meias-finais em 2013) em cinco e os sub-19 apenas participar­am em cinco das 15 fases finais possíveis e somente uma vez foram além da fase de grupos. Melhor estiveram os sub-17: foram duas vezes seguidas campeões da Europa (2011 e 2012) e ainda estiveram em mais duas finais. Nomes para o futuro Curiosamen­te, apenas um nome ligado a esses três eventos mais bem sucedidos na última década foi chamado por Ronald Koeman para estes dois jogos de preparação: o médio Tonny Vilhena, do Feyenoord. O jogador de 23 anos (que já soma nove internacio­nalizações A) não saiu do banco, tal como aquela que é considerad­a a grande promessa, em termos de talento puro, do futebol laranja: Justin Kluivert, de 18 anos, jogador do Ajax e filho de Patrick Kluivert. Este último foi um dos cinco elementos convocados que ainda não se tinha estreado na seleção principal – Hateboer, que atuou a lateral-direito, Weghorst, avançado que entrou nos minutos finais, Guus Til e o guarda-redes Bizot foram as restantes novidades diante da Inglaterra.

O técnico holandês, provavelme­nte tendo em conta o valor do adversário, apostou num onze mais experiente (25,4 anos de média de idade, com o central De Ligt de 18 anos, que Koeman elogiou no final, a fazer o contrapont­o num conjunto em que a maioria está no seu auge, ou seja, entre os 25 e os 28). Da equipa de sub-21 de 2013, oito elementos foram chamados, seis deles como titulares (o guarda-redes Zoet, o central De Vrij, o lateral Van Aanholdt, os médios Wijnaldum e Strootman e o avançado Depay – também ele apontado como grande estrela mas que não vingou no Manchester United. Aliás, olhar para os clubes de cada um, também pode ajudar a explicar muita coisa: tirando Cillessen (Barcelona) e eventualme­nte Van Dijk e Wijnaldum (Liverpool), mais nenhum atua nos maiores clubes do continente... Aposta em três centrais Apesar de ter defendido que iria manter o 4x3x3, que é a imagem de marca da equipa, o novo técnico laranja optou, no seu primeiro teste, por experiment­ar outra solução, escalando três centrais durante quase a totalidade dos 90 minutos. De Ligt, De Vrij e Van Dijk constituír­am uma muralha segura (o golo dos ingleses nasceu de um ressalto, que Lingard aproveitou bem com um remate à entrada da área), mas a verdade é que os dois esquemas que Ronald Koeman testou em Amesterdão – primeiro um 3x4x3 com um avançado fixo (Bas Dost), depois, a partir dos 65 minutos, um 3x5x2 com dois homens mais móveis na frente (Depay e Babel) – não se mostraram particular­mente eficazes em termos ofensivos, perante um adversário que defendeu quase sempre bem. A Holanda só criou uma oportunida­de clara para marcar (um desvio de calcanhar do avançado leonino, que saiu fraco) e o jogo pelos flancos nunca resultou como certamente o técnico pretendia. Sem apoio por perto, Bas Dost esteve sempre sozinho, enquanto a dupla Depay/Babel pareceu quase sempre perdida.

“Perdemos a posse de bola muitas vezes e com isso nunca conseguimo­s crescer no jogo”, admitiu o técnico no final, antes de acrescenta­r: “Jogámos hoje de outra forma e fiquei especialme­nte agradado com a maneira como nos organizámo­s defensivam­ente, mas queria que criássemos mais com bola para servir bem Bas Dost.” Para amanhã frente a Portugal, no entanto, Ronald Koeman prometeu voltar a mudar: “Quero ver mais jogadores.”

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