Catalães têm até 22 de maio para encontrar presidente
Se tempo passar sem o Parlament aprovar um candidato, novas eleições terão lugar entre 15 e 20 de julho
Descartados o plano A – Carles Puigdemont esteve exilado na Bélgica e foi ontem detido na Alemanha –, o plano B – Jordi Sànchez, preso, e o plano C – Jordi Turull perdeu a primeira votação para a investidura e na sexta-feira foi preso –, os independentistas têm agora 58 dias para encontrar um plano D capaz de liderar o governo catalão, evitando assim novas eleições.
A partir do momento em que Roger Torrent, o presidente do Parlament, convocou o plenário de investidura, na quinta-feira, o relógio começou a contar. O prazo para haver um novo executivo catalão termina a 22 de maio. E a bola está agora no campo de Torrent, a quem cabe a tarefa de garantir que o próximo candidato a presidente da Generalitat não tenha nenhum problema judicial que o impeça de exercer o cargo.
Com a cúpula soberanista e os principais membros do anterior governo catalão detidos ou exilados, mas sob mandado de detenção europeu, o Junts per Catalunya de Puigdemont e a ERC de Oriol Junqueras (também preso), procuram agora consenso para apresentar um novo candidato à investidura. E são vários os nomes que surgem nos media espanhóis. A começar por Elsa Artadi, economista de 41 anos e chefe de campanha de Puigdemont, que já em fevereiro fora falada para suceder ao ex-presidente da Generalitat. Mas também Eduard Pujol, ex-jornalista de 48 anos e porta-voz do Junts, Quim Torra, advogado e escritor de 55 anos, deputado pelo mesmo partido, ou Marc Solsona, presidente da Câmara de Mollerrussa, perto de Lleida.
Candidatos, portanto, existem. Mas isso não garante que, seja qual for o nome escolhido, consiga os votos necessários para ser o próximo presidente da Generalitat. Junts per Catalunya e ERC têm juntos 66 deputados, mas na realidade apenas contam com 64 votos, porque os outros dois são de Puigdemont e Antoni Comín, o primeiro detido na Alemanha, o segundo exilado na Bélgica. Se ambos renunciarem aos cargos, os partidos recuperariam os seus votos, tornando possível a investidura do seu candidato, uma vez que na segunda votação basta maioria simples no Parlamento. Até agora, a renúncia de Puigdemont e Comín parecia um cenário muito improvável. Ambos já disseram que não tencionam abdicar do cargo, apesar de a ERC já lhes ter pedido diretamente que o façam.
Outra saída possível passaria por o Junts per Catalunya e a ERC cederem às exigências do terceiro partido independentista, a CUP, e proclamasse a república catalã. Foi a abstenção da CUP na quinta-feira que impossibilitou a investidura de Jordi Turull. Mas, se tal acontecesse, Madrid manteria ativo o artigo 155, que suspende a autonomia catalã e tudo continuaria na mesma.
Com apenas 65 deputados, a oposição soberanista – Ciudadanos, PSC, Catalunya en Comú-Podem e PP – continua de mãos atadas, sem ter qualquer hipótese de ver um eventual candidato seu obter a nomeação só com os seus votos. E a eventualidade de surgir um bloco transversal, como por exemplo um tripartido de esquerdas que juntasse ERC, PSC e Comus, parece não estar no horizonte. Até porque a ERC dificilmente conseguiria justificar abandonar agora o Junts per Catalunya. Isso não impediu o líder do Catalunya en Comú-Podem, Xavier Domènech, de apelar a uma resposta “ampla e transversal” para encontrar uma solução de governo.
Tendo em conta estas opções, a convocação de novas eleições está em cima da mesa. Perante a ausência de um presidente da Generalitat, caberia ao primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, marcar a data. Este já disse não ser a melhor opção, mas a acontecer o escrutínio teria lugar entre 15 e 20 de julho. HELENA TECEDEIRO