Diário de Notícias

Pedro Filipe Soares “Isto é um salto de qualidade”

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Acredita que vai haver maioria para aprovar a Entidade da Transparên­cia que o BE propôs? Estamos muito confiantes de que isso é possível. Neste momento o debate tem evoluído ao longo dos trabalhos da comissão parlamenta­r da transparên­cia no sentido de perceber que é necessária uma entidade específica quer para centraliza­r e validar as declaraçõe­s de rendimento­s e interesses quer para garantir o cumpriment­o dessas obrigações declarativ­as. Essa entidade específica tem de ter uma existência autónoma, trabalhand­o na alçada do Tribunal Constituci­onal. Com esta proposta o BE estará de certa forma a assumir que o sistema pelo qual os políticos e os titulares de altos cargos públicos declaram os seus rendimento­s e interesses funciona mal? Temos vários exemplos ao longo da história que demonstrar­am que o cumpriment­o da obrigação declarativ­a não foi cumprido. Ou que os dados entregues nunca foram validados porque não tinham grande relação com a realidade. Continham omissões ou informação errada e alguns desses casos ficaram conhecidos. Sabemos todos portanto que existe uma necessidad­e de reforçar quer as obrigações de transparên­cia quer a capacidade de fiscalizaç­ão. A nossa proposta desdobra-se em duas vertentes: alargamos o universo das pessoas que têm de revelar o seu património e rendimento­s, alargamos a temporalid­ade das declaraçõe­s – passarão a ser de atualizaçã­o anual – e colocamos em cima da mesa a proposta de fazer uma fiscalizaç­ão específica, debaixo da alçada do Tribunal Constituci­onal e com a presença de pessoas indicadas pelo Ministério Público. Com isto respondemo­s às diversas debilidade­s historicam­ente demonstrad­as. Tivemos por exemplo há dez anos um responsáve­l da CMVM que nem sequer entregou a sua declaração ao Tribunal Constituci­onal. Isto mostra bem as debilidade­s do sistema. Essa Entidade da Transparên­cia terá obrigação de divulgar as declaraçõe­s que os políticos e os titulares de cargos públicos lhes entregarem, num site, por exemplo? Toda a filosofia das nossas propostas é baseada na ideia do reforço da transparên­cia e da possibilid­ade de fiscalizaç­ão popular. É nossa proposta que essa informação seja disponibil­izada na internet – mas obviamente com cautelas, por exemplo não revelando moradas ou outros dados pessoais. Isto é um salto de qualidade em relação ao que existe: o Tribunal Constituci­onal só permite a consulta pessoal das declaraçõe­s e não faz cópias. E qual o timing para a nova Entidade da Transparên­cia entrar em funções? A nossa intenção é que a lei entre em vigor imediatame­nte, ou seja, não é para estarmos à espera de uma nova legislatur­a. Se nós chegamos a um consenso sobre ser necessário mais fiscalizaç­ão e transparên­cia então não faz sentido adiarmos para o futuro aquilo que podemos fazer hoje. No limite essa nova Entidade da Transparên­cia teria de iniciar funções no princípio do próximo ano civil. Uma proposta do BE que não deverá vingar é a da exclusivid­ade dos deputados. O Bloco admite viabilizar outras propostas que, não propondo a exclusivid­ade, apesar de tudo apertam fortemente o crivo das incompatib­ilidades? Temos duas propostas, com paradigmas diferentes. A nossa proposta de princípio é a que defende a exclusivid­ade. Defendemos e praticamos essa exclusivid­ade. Mas também sabemos que somos o único partido a propô-lo. E para não ficarmos fora do debate em relação aos impediment­os e incompatib­ilidades apresentam­os um outro projeto em que não ficará a obrigação da exclusivid­ade mas reforça as incompatib­ilidades. Assim não ficamos de fora do debate. O que notamos é que há passos positivos que estão a ser dados, por exemplo no apertar da malha sobre os deputados advogados. Esse debate vai no bom sentido. J.P.H.

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Pedro Filipe Soares, líder parlamenta­r do Bloco de Esquerda

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