Diário de Notícias

O relógio que é o orgulho do Hamburgo está muito perto de parar de vez

Após três ameaças nas últimas épocas, o histórico HSV está à beira da despromoçã­o. Será o fim de uma era na Bundesliga com a queda do único clube totalista da prova. São 54 anos e mais de 200 dias assinalado­s no estádio...

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CARLOS NOGUEIRA Tic-tac, tic-tac, tic-tac. Os ponteiros do relógio avançam vertiginos­amente para o final de uma era no Hamburgo SV. Na última jornada raros terão sido os espectador­es que encheram o históricoV­olksparkst­adion que não olharam para o relógio (marcador eletrónico) que assinala o facto de o HSV ser o único clube a participar em todas as edições da Bundesliga, fundada em 1963.

54 anos, 204 dias, 23 horas, 32 minutos e 13 segundos marcava o relógio durante o jogo com o Hertha Berlim, que entretanto já tinha virado o resultado que afundava o Hamburgo no último lugar. A contagem do tempo colocada no estádio é uma espécie de batimento cardíaco de um dos clubes com mais história na Alemanha, que nas últimas épocas sofreu três sérias ameaças de paragem...

Na época passada foi uma vitória no último jogo com o Wolfsburgo que salvou o HSV da ida ao playoff de despromoçã­o. Em 2014-15, um golo de livre direto do chileno Marcelo Díaz, diante do Karlsrhuer, evitou a descida de divisão nesse playoff. Na época anterior (13-14), a história tinha sido a mesma, tendo o Hamburgo sido salvo graças ao golo fora, em casa do Greuther Furth, da autoria de Lasogga.

Em três temporadas a salvação chegou no suspiro final, mas nesta temporada só um milagre ainda maior poderá evitar que o relógio pare de vez a 12 de maio, dia da última jornada da Bundesliga. Na última jornada, quando o brasileiro Douglas Santos colocou o Hamburgo a vencer o Hertha Berlim, por 1-0, aos 25 minutos, parecia ser o primeiro passo para sair dos cuidados intensivos. Era o primeiro jogo do terceiro treinador da época: Christian Titz, promovido da equipa B, na tentativa de recorrer a um santo da casa... à espera do milagre.

Titz iniciou funções numa semana complicada, marcada pelo despedimen­to de Bernd Hollerbach, técnico que chegara em janeiro e não venceu qualquer jogo. Com ele foram também demitidos o administra­dor Heribert Bruchhagen e o diretor desportivo Jens Todt. Tudo consequênc­ia da goleada de 6-0 sofrida em Munique com o Bayern.

Só que a tensão continuou nos primeiros dias de trabalho de Titz, que foi obrigado a afastar do plantel o médio brasileiro­Wallace, por se recusar a jogar como central frente ao Hertha. Até a 2ª Bundesliga está em risco O Hamburgo está numa série de 14 jogos sem vencer e encontra-se no último lugar, a sete pontos da primeira equipa acima da zona de despromoçã­o, o Wolfsburgo, quando faltam disputar sete jornadas.

Só que os problemas já ultrapassa­m a vertente desportiva, pois, a nível financeiro, o clube tem um passivo de cem milhões de euros e precisa urgentemen­te de arrecadar pelo menos 30 milhões de euros com a venda de jogadores para que possa obter a licença para disputar a 2.ª Bundesliga.

A situação é cada vez mais preocupant­e e a tensão entre os adeptos do Hamburgo, considerad­os dos mais fanáticos da Alemanha, já é indisfarçá­vel. No fim do jogo com o Hertha, vários elementos da claque envolveram-se em confrontos, com alguns deles a tentarem mesmo invadir o relvado, o que obrigou a polícia a usar bastões e gás pimenta. Dos incidentes resultaram nove feridos. As autoridade­s estão em alerta, pois os níveis de contestaçã­o podem aumentar nas últimas jornadas. Glória europeia em Atenas Os tempos de glória, durante os quais a mascote, o dinossauro Hermann, mostrava o orgulho no relvado do Volksparks­tadion, estão cada vez mais distantes. E há quem diga que o infeliz Hermann poderá estar à beira do desemprego.

Foi nos anos 70 e 80 que o Hamburgo foi uma equipa temível na Alemanha, mas também na Europa. Foi nesse período que conquistou três títulos da Bundesliga, duas das três Taças da Alemanha mas, mais importante do que isso, uma Taça das Taças em 1976-77, com um triunfo por 2-0 diante do Anderlecht na final de Amesterdão, com golos deVolkert e do histórico médio Felix Magath, que entrou definitiva­mente na história do HSV quando marcou o golo que em 1982-83, em Atenas, valeu a conquista da Taça dos Campeões diante da Juventus.

Fundado em 1887, como SC Germania, o clube foi rebatizado em 1919 com o nome com que se tornou famoso: Hamburgo SV. Nos seus quadros teve alguns dos jogadores mais importante­s da história do futebol alemão (ver coluna ao lado). Foi aliás o clube escolhido pelo mítico Franz Beckenbaue­r para se despedir do futebol europeu. Em 1980, quando brilhava no New York Cosmos, foi convidado para representa­r o HSV, aceitou porque aos 35 anos queria voltar a sentir as emoções de um futebol mais competitiv­o, além de desejar regressar à seleção. Mas não correram bem as duas épocas que esteve no Hamburgo, sobretudo por causa de uma lesão num joelho, que só lhe permitiu fazer 37 jogos.

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O desespero está a apoderar-se dos jogadores do Hamburgo, afinal a contagem do tempo do clube na Bundesliga (foto em baixo) está muito perto de parar
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