Gendarme herói
Dos inúmeros comentários nos sites da imprensa francesa, retive este, que traduzo: “Este homem representa, para todos aqueles que cresceram a ver westerns, como eu, o arquétipo exato do herói! O tipo que se envolve, que não tem, rigorosamente, nada a ganhar e, bem pelo contrário, tudo a perder!! Mas é o seu instinto, e avança!” O homem, o tipo, o herói, chama-se Arnaud Beltrame. Não é um cowboy, mas sim um tenente-coronel da Gendarmerie Nationale, o equivalente à nossa GNR, e o cenário da sua morte não foi o faroeste americano, mas sim Trèbes, no Sul de França.
Morreu baleado e esfaqueado por um candidato a jihadista, depois de se ter oferecido para trocar de lugar com uma refém no Super U, Julie, que trabalhava na caixa desse supermercado e já tinha presenciado a morte de outro funcionário e de um cliente. Com incrível sangue-frio, o gendarme deixou o telemóvel ligado num recanto, para que as polícias várias que cercavam o local ouvissem o que se passava no interior. Foram quase três horas até o barulho de tiros desencadear a operação de resgate, que culminou na morte do terrorista, Radouane Lakdim.
Arnaud Beltrame foi encontrado gravemente ferido. Marielle com quem era casado pelo civil correu para o hospital onde casaram pela igreja, como tinham planeado fazer em circunstâncias bem diferentes no verão. A mãe e o irmão declararam perceber o que ele tinha feito, porque tinha corrido riscos. Sempre fora assim, disseram, um homem ao serviço do país. Morreu horas depois.
O presidente Emmanuel Macron chamou-lhe herói, acompanhado por toda a classe política. A admiração pelo tenente-coronel de 45 anos extravasou mesmo as fronteiras francesas, até porque o verdadeiro heroísmo é heroísmo em todo o lado e o terrorismo, já se percebeu, não escolhe nem nações nem nacionalidades: continua em coma induzido Renato Silva, o emigrante português gravemente ferido pelo franco-marroquino Radouane Lakdim.
Por acaso, tenho um primo na GNR. Mas nenhum familiar na PSP. Sei, porém, que certas profissões são diferentes, que se pode sair de casa e ter de arriscar a vida por alguém que não se conhece. É bonito saudarmos os heróis mortos, mas devemos também pensar em como se deve respeitar no dia-a-dia aqueles que têm por trabalho defender-nos, e com a vida se necessário.