Diário de Notícias

Peso das PPP atinge os 10,8% do PIB português e é o maior da UE

Portugal é o país com maior carga de parcerias público-privadas, cinco vezes mais do que a média europeia. A despesa global está calculada em 20 mil milhões de euros, e ainda falta pagar dois terços do que foi contratado

- LUÍS REIS RIBEIRO

Por tu galé o país mais sobrecarre­gado da União Europeia( UE) com os custos das parcerias público-privadas (PPP). Os compromiss­os assumidos junto dos privados equivalem a 10,8% do produto interno bruto nacional( PIB a preços de 2017). São cerca de 20 mil milhões de euros que terão de ser pagos até 2042. Ao todo, são 43 parcerias.

Do valor assumido como investimen­to, falta ainda ressarcir aos parceiros privados dois terços: 12,4 mil milhões de euros. O montante era superior, mas entretanto os governos do PSD-CDS e do PS renegociar­am alguns contratos (dez parcerias rodoviária­s, por exemplo), o que permitiu aliviar ligeiramen­te a carga dos contribuin­tes. A esmagadora maioria das PPP são estradas (93% do custo previsto).

Ainda assim, aqueles 10,8% do PIB, calculados pelo DN/Dinheiro vivo com base em números facultados pelo Tribunal de Contas Europeu (TCE) e pelo Banco Europeu de Investimen­to (BEI), e nas estimativa­s do PIB da Comissão Europeia, representa­m, de longe, o maior encargo relativo da Europa. O segundo maior acontece na Grécia, onde o peso das PPP ronda 8%. O terceiro maio ré o do Reino Unido (6,8%). A média europeia é cinco vezes menor do que a nacional: 2% (ver infografia).

Segundo explicam vários especialis­tas, o modelo PPP permite ao Estado (aos governos) avançar com grandes projetos para os quais não há disponibil­idade financeira imediata, nem pública, nem privada. No caso de Portugal, as PPP permitiram injetar volumes enormes de investimen­to, que têm de ser pagos em prestações ao longo de décadas aos concession­ários privados.

Num estudo divulgado na semana passada pelo TCE explicase que “a principal diferença entre as P PP e os projetostr adicionai sé a partilha de riscos entre o parceiro público e o privado. Os riscos de um projeto de PPP devem ser imputados à parte mais apta a gerilos, com o objetivo de atingir o equilíbrio ideal entre a transferên­cia dos riscos e a compensaçã­o atribuída à parte que assume os riscos”.

Assim, “o parceiro privado é frequentem­ente responsáve­l pelos riscos associados à conceção, à construção, ao financiame­nto, à exploração e à manutenção das infraestru­turas, enquanto o parceiro público assume normalment­e os riscos regulament­ares e políticos”.

Até há poucos anos, havia um problema de enviesamen­to, que fazia que o parceiro público estivesse demasiado exposto a riscos de conceção, construção, manutenção ou de exploração. Foi isso que levou à renegociaç­ão de vários contratos.

Os encargos com as PPP são pagos, todos os anos, através do Orçamento do Estado (OE) e assumem a forma de consumos intermédio­s ou prestações sociais (no caso dos hospitais). Em 2018, a fatura é de quase 1,7 mil milhões de euros, prevê o governo no Orçamento.

O TCE também levanta dúvidas sobre o uso correto ou mais eficaz do modelo. A instituiçã­o, citando números do Centro Europeu de Especializ­ação em PPP, do BEI, diz que de 1990 a 2016 foram feitas na Europa 1749 PPP, no valor de 336 mil milhões de euros. O TCE recorda que, “antes da crise financeira, o mercado de PPP estava a registar um forte aumento em volume, mas a partir de 2008 o número de novos projetos diminuiu considerav­elmente”.

Não foi o caso de Portugal. Entre 2008 e 2010, o governo PS, de José Sócrates, apostou forte no modelo, apesar das ameaças no horizonte. Avançou com 9,3 mil milhões de euros em 19 novas PPP, 45% do valor total contratual­izado desde 1995. O máximo acontece logo em 2008; o segundo maior valor em 2010, com o país à beira da bancarrota.

O TCE repara que “o mercado de PPP da UE está principalm­ente concentrad­o no Reino Unido, França, Espanha, Portugal e Alemanha, que executaram projetos correspond­entes a 90% do valor global no período de 1990-2016”.

Numa conferênci­a recente sobre investimen­to público, Teodora Cardoso, presidente do Conselho das Finanças Públicas, disse que “o investimen­to, sobretudo em infraestru­turas, tem de ser mais pensado em termos do seu período de vida e não apenas no que vai ser no ano seguinte. Mas continua a ver-se como é que ele pode caber no OE. Se for por PPP, então cabe de certeza, porque não custa nada” no início, ironizou. “Não estou a dizer que as PPP sejam más, mas têm de ser integradas no horizonte temporal correto.”

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Parceria com a Lusoponte (pontes Vasco da Gama e 25 de Abril) é a mais antiga. Foi assinada em 1995
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