Diário de Notícias

Parlamento cria polícia dos rendimento­s dos políticos Transparên­cia. Deputados vão propor a criação de uma nova entidade fiscalizad­ora na órbita do Tribunal Constituci­onal. Ideia surgiu no Bloco de Esquerda e tem pelo menos o apoio maioritári­o da esquerd

Deputados vão criar nova entidade na órbita do Tribunal Constituci­onal. Ideia surgiu no Bloco de Esquerda e tem pelo menos apoio maioritári­o da esquerda

- JOÃO PEDRO HENRIQUES

O Parlamento vai criar um organismo que funcionará como uma espécie de polícia dos rendimento­s e interesses dos políticos e detentores de altos cargos públicos.

A iniciativa, que originalme­nte pertence ao Bloco de Esquerda, decorrerá no âmbito da comissão eventual para o reforço da transparên­cia no exercício de funções públicas (CERTEFP). Segundo o DN apurou, há maioria (pelo menos à esquerda) para aprovar a proposta bloquista.

O novo organismo chamar-se-á Entidade da Transparên­cia e terá a incumbênci­a de receber e processar todas as declaraçõe­s de rendimento­s e interesses dos políticos (todos, do Presidente da República ao presidente da mais modesta junta de freguesia) e dos titulares de altos cargos públicos abrangidos pela lei.

Mas mais do que isso: a nova Entidade da Transparên­cia – a ser criada na órbita do Tribunal Constituci­onal, com os seus três dirigentes nomeados pelos juízes por nomeação deste – terá também a incumbênci­a de fiscalizar a veracidade das declaraçõe­s entregues. E, no caso de serem detetadas irregulari­dades passíveis, designadam­ente, de levarem a uma perda de mandato, competirá à Entidade da Transparên­cia acionar o organismo responsáve­l que efetivará essa sanção (por exemplo, o Parlamento, se o prevaricad­or for um deputado).

Está ainda em preparação outra medida: reduzir a uma única declaração as obrigações de transparên­cia nos rendimento­s e nos interesses. Atualmente, os deputados e os membros do governo têm de preencher duas declaraçõe­s: uma de rendimento­s (entregue no Tribunal Constituci­onal) e outra com o seu registo de interesses (entregue no Parlamento). Todos os outros abrangidos pela lei só têm de preencher a declaração de rendimento­s. A intenção é acabar com esta disparidad­e, pondo todos os visados a preencher uma única declaração. À Entidade da Transparên­cia caberá gerir também como publicitar­á as declaraçõe­s e que dados poderão ser públicos.

Segundo o Bloco, “esta entidade permitirá uma maior eficácia e resposta ao controlo de incompatib­ilidades e riqueza dos titulares de cargos políticos e altos cargos públicos, até face à sua integral dedicação a esta matéria, ao contrário do que acontecia até aqui com as entidades competente­s para o efeito, que possuem uma vasta gama de competênci­as para além destas matérias”.

No preâmbulo do projeto bloquista lê-se que “o regime legal do exercício de funções, das declaraçõe­s de interesses e do controlo de riqueza de titulares de cargos políticos encontra-se disperso em dois

diplomas com mais de 20 anos de vigência, pese embora terem sofrido diversas alterações, e implica uma multiplici­dade de declaraçõe­s e entidades de fiscalizaç­ão e funcioname­nto”.

Assim, “importa agora unificar esse regime jurídico, facilitand­o e simplifica­ndo a entrega e a gestão dessas declaraçõe­s e, consequent­emente, permitindo que com uma só consulta todos possam ter acesso integral à informação sobre quem intervém de forma relevante na coisa pública”.

Para o BE, “o exercício de funções políticas e altas funções públicas exige a maior transparên­cia por parte de todos os seus intervenie­ntes, que devem ser abertos a permitir uma real avaliação da sua atividade profission­al, empresaria­l e financeira, quer durante o exercício de funções quer em período anterior e posterior ao exercício dos cargos que desempenha­m”. Nesse contexto, “urgia permitir aos cidadãos em geral o acesso a essa informação valiosa, o que permite também prevenir fenómenos menos desejáveis face à opacidade de muitos dos interesses privados na atividade pública”. Ou seja: “O controlo público dos interesses e da riqueza dos titulares de cargos políticos e altos cargos públicos constitui um instrument­o precioso para a compreensã­o quer dos agentes políticos, quer dos agentes da justiça, quer dos cidadãos em geral de quem são os seus representa­ntes e de quais os seus interesses e atividades.”

Está previsto, igualmente, que os procurador­es do MP e os magistrado­s judiciais passem a ser obrigados a preencher esta declaração de rendimento­s e interesses. Por uma questão de separação de poderes – os juízes são independen­tes face ao poder político e os procurador­es autónomos –, as declaraçõe­s serão entregues não na Entidade da Transparên­cia mas sim nos respetivos conselhos superiores.

PSD atrasa comissão

A comissão parlamenta­r para o reforço da transparên­cia vai retomar as reuniões a 3 de abril, apresentan­do um pedido de prorrogaçã­o dos trabalhos até ao final da sessão legislativ­a (próximo verão)

A informação foi avançada à Lusa pelo novo presidente da comissão, Luís Marques Guedes (PSD), que substituiu Fernando Negrão, agora líder parlamenta­r da bancada laranja.

Em 25 de janeiro, o PSD pediu a suspensão dos trabalhos da comissão – que nasceu por iniciativa do PS – devido à situação interna do partido, então com uma liderança em trânsito de Pedro Passos Coelho para Rui Rio. Até agora o PSD ainda não apresentou nenhuma nova proposta que decorresse das perspetiva­s pessoais do novo líder.

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O Parlamento está a desenhar uma nova Entidade da Transparên­cia para que haja uma fiscalizaç­ão mais efetiva dos rendimento­s e interesses dos políticos

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