Diário de Notícias

Uma oportunida­de perdida

- PAULO ALMEIDA SANDE ESPECIALIS­TA EM ASSUNTOS EUROPEUS

Autilizaçã­o de armas químicas no ataque de Salisbury levou o governo do Reino Unido (RU) a apelar à solidaried­ade europeia e a pedir aos seus parceiros a expulsão dos “espiões” russos em posto nos respetivos países. O apelo e a resposta europeia suscitam pelo menos três observaçõe­s. Primeiro importa saber se um país em vias de sair da comunidade à qual pertenceu 45 anos pode esperar apoio com base nos próprios fundamento­s da organizaçã­o da qual em breve sairá. Segue-se a resposta europeia. Está expressa num tom firme: depois de reconhecer como “altamente provável” que a Rússia seja responsáve­l, os 27 manifestam “incondicio­nal solidaried­ade com o RU perante este grave desafio à nossa segurança comum”. Duas observaçõe­s sobre o comunicado do Conselho Europeu: não contém referência a uma ação concreta comum (i.e. expulsão de diplomatas ou “espiões”), mas reconhece que o sucedido ameaça a segurança comum europeia; os Estados devem agir “de forma coordenada quanto às consequênc­ias a tirar à luz das respostas dadas pelas autoridade­s russas”. Sendo de prever que estas expulsem os “espiões” dos países que expulsaram os seus, resta saber que ações serão tomadas no quadro de uma cooperação estratégic­a coordenada. O terceiro ponto respeita ao facto de Portugal ter decidido não proceder, para já, a qualquer expulsão. Respondo de forma lapidar, tentando tocar o cerne da questão: um eventual brexit não separa o RU, nosso mais antigo aliado, do continente, nem que seja pela comum afiliação à NATO. Sendo a ameaça estrutural, profunda e grave, a UE desperdiço­u uma oportunida­de de demonstrar aos aliados e ainda parceiros o que perdem em abandoná-la. Finalmente, não havendo decisão conjunta, cada país decide em função da avaliação que faz dos seus interesses estratégic­os. Foi o caso, nada a dizer, sem prejuízo da opinião de cada um.

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