Uma oportunidade perdida
Autilização de armas químicas no ataque de Salisbury levou o governo do Reino Unido (RU) a apelar à solidariedade europeia e a pedir aos seus parceiros a expulsão dos “espiões” russos em posto nos respetivos países. O apelo e a resposta europeia suscitam pelo menos três observações. Primeiro importa saber se um país em vias de sair da comunidade à qual pertenceu 45 anos pode esperar apoio com base nos próprios fundamentos da organização da qual em breve sairá. Segue-se a resposta europeia. Está expressa num tom firme: depois de reconhecer como “altamente provável” que a Rússia seja responsável, os 27 manifestam “incondicional solidariedade com o RU perante este grave desafio à nossa segurança comum”. Duas observações sobre o comunicado do Conselho Europeu: não contém referência a uma ação concreta comum (i.e. expulsão de diplomatas ou “espiões”), mas reconhece que o sucedido ameaça a segurança comum europeia; os Estados devem agir “de forma coordenada quanto às consequências a tirar à luz das respostas dadas pelas autoridades russas”. Sendo de prever que estas expulsem os “espiões” dos países que expulsaram os seus, resta saber que ações serão tomadas no quadro de uma cooperação estratégica coordenada. O terceiro ponto respeita ao facto de Portugal ter decidido não proceder, para já, a qualquer expulsão. Respondo de forma lapidar, tentando tocar o cerne da questão: um eventual brexit não separa o RU, nosso mais antigo aliado, do continente, nem que seja pela comum afiliação à NATO. Sendo a ameaça estrutural, profunda e grave, a UE desperdiçou uma oportunidade de demonstrar aos aliados e ainda parceiros o que perdem em abandoná-la. Finalmente, não havendo decisão conjunta, cada país decide em função da avaliação que faz dos seus interesses estratégicos. Foi o caso, nada a dizer, sem prejuízo da opinião de cada um.