Secretas alertam para regresso da extrema-direita
O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) assinala um reforço da atividade de movimentos nacional-socialistas, identitários e skinheads, com uma intensificação de contactos internacionais e tentativas de convergência entre os diferentes grupos. Em sen
Os movimentos conotados com a extrema-direita voltaram em força no ano passado, de acordo com o balanço feito pelos serviços de informações para o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), ontem aprovado pelo Conselho Superior de Segurança Interna. Esta constatação surge poucos dias após os incidentes que envolveram dois grupos de motards, um deles associado ao ex-líder skinhead Mário Machado (ver fotolegenda).
Na avaliação de ameaça à segurança interna, as secretas salientam que “a extrema-direita portuguesa continuou a aproximar-se das principais tendências europeias, na luta pela “reconquista” da Europa pelos europeus”, e que “além de intensificarem os contactos internacionais, estes extremistas desenvolveram um esforço de convergência dos seus diferentes setores (identitários, nacional-socialistas, skinheads), no sentido de promoverem, no plano político e metapolítico, os seus objetivos”.
Foi “caracterizada e avaliada a ameaça representada pelas novas organizações e movimentos de extrema-direita em Portugal e mantido o acompanhamento das atividades das demais organizações”. Uma destas novidades é o grupo de motards Los Bandidos, que Mário Machado trouxe para o nosso país, históricos rivais dos Hell Angels, e que foram os protagonistas do incidente no restaurante de Loures, com estes últimos a atacar os primeiros. Monitorizada esteve também a Nova Ordem Social, um movimento político também criado pelo ex-dirigente dos cabeças rapadas Mário Machado.
Os espiões do Serviço de Informações de Segurança (SIS) que acompanharam as respetivas “atividades” revelam que se “assistiu a um reforço da propaganda online e à multiplicação de iniciativas com alguma visibilidade – como concertos, conferências, apresentações de livros e protestos simbólicos – participadas por militantes de diferentes quadrantes”. No entanto, sublinham, a “violência permaneceu como um traço marcante da militância de extrema-direita, havendo registo de alguns incidentes, nomeadamente agressões a militantes antifascistas”. Além disso, notam, “no seio do movimento skinhead neonazi, alguns militantes continuaram envolvidos em atividades criminosas extra militância”.
A última grande operação contra este género de organizações foi em novembro de 2016, com a Unidade Nacional de Contraterrorismo da PJ a deter 17 skinheads neonazis que tinham agredido pessoas motivados por motivos racistas, ideológicos e xenofóbicos. Nenhum ficou em prisão preventiva. Mais de metade dos suspeitos eram novos recrutas – hangarounds e prospects – da fação mais perigosa da organização, os Portugal Hammerskins (PHS).
Pelo menos desde 2014 que as autoridades têm estado atentas às movimentações destes grupos extremistas, tendo em conta a experiência que têm observado noutros países europeus, com o fenómeno migratório e a crise dos refugiados a servir de pretexto à radicalização de discursos. Mas só em 2017 as secretas notaram um maior impulso destas organizações em Portugal.
Só 4,4% de crime violento
Boa notícia no RASI é a descida da criminalidade violenta e grave, a qual atingiu no ano passado o mais baixo valor de sempre (ver gráfico), com uma descida de 8,7%, e representa atualmente apenas 4,4% dos crimes totais registados pelas autoridades. A criminalidade geral sofreu um aumento de 3,3% devido, principalmente, ao recrudescimento dos crimes de moeda falsa, burlas por via informática e incêndios florestais.
Este relatório foi ontem aprovado no Conselho Superior de Segurança Interna e, no final, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, não escondeu a sua satisfação com os resultados globais. “Portugal é um dos países mais seguros do mundo e a evolução na área de segurança interna é decisiva para a qualidade de vida, mas também a evolução da economia portuguesa”, sustentou.
Em 2017, as polícias registaram 15 303 crimes violentos, menos 1458 do que no ano anterior. Nunca houve, pelo menos desde que é feita esta estatística (2003), um número tão reduzido. Nas variações mais relevantes a subir, destacamse o aumento dos números de violações (+21,8%), roubos a farmácias (+ 25,7%), ofensas à integridade física grave (+12,1%) e homicídios (+7,9%, com mais seis casos). Os roubos na via pública, em residências ou nos transportes públicos diminuíram.
Com menor expressão no total de crimes, mas com grande impacto público, os roubos aos ATM aumentaram 73%, embora praticamente extintos desde outubro.
Em 2017, foram registados 15 303 crimes violentos, menos 8,7% do que no ano anterior. Mas subiram as violações e homicídios
A última grande operação policial contra skinheads foi em final de 2016. Foram detidos 17, mas todos postos em liberdade