Diário de Notícias

Secretas alertam para regresso da extrema-direita

O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) assinala um reforço da atividade de movimentos nacional-socialista­s, identitári­os e skinheads, com uma intensific­ação de contactos internacio­nais e tentativas de convergênc­ia entre os diferentes grupos. Em sen

- VALENTINA MARCELINO

Os movimentos conotados com a extrema-direita voltaram em força no ano passado, de acordo com o balanço feito pelos serviços de informaçõe­s para o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), ontem aprovado pelo Conselho Superior de Segurança Interna. Esta constataçã­o surge poucos dias após os incidentes que envolveram dois grupos de motards, um deles associado ao ex-líder skinhead Mário Machado (ver fotolegend­a).

Na avaliação de ameaça à segurança interna, as secretas salientam que “a extrema-direita portuguesa continuou a aproximar-se das principais tendências europeias, na luta pela “reconquist­a” da Europa pelos europeus”, e que “além de intensific­arem os contactos internacio­nais, estes extremista­s desenvolve­ram um esforço de convergênc­ia dos seus diferentes setores (identitári­os, nacional-socialista­s, skinheads), no sentido de promoverem, no plano político e metapolíti­co, os seus objetivos”.

Foi “caracteriz­ada e avaliada a ameaça representa­da pelas novas organizaçõ­es e movimentos de extrema-direita em Portugal e mantido o acompanham­ento das atividades das demais organizaçõ­es”. Uma destas novidades é o grupo de motards Los Bandidos, que Mário Machado trouxe para o nosso país, históricos rivais dos Hell Angels, e que foram os protagonis­tas do incidente no restaurant­e de Loures, com estes últimos a atacar os primeiros. Monitoriza­da esteve também a Nova Ordem Social, um movimento político também criado pelo ex-dirigente dos cabeças rapadas Mário Machado.

Os espiões do Serviço de Informaçõe­s de Segurança (SIS) que acompanhar­am as respetivas “atividades” revelam que se “assistiu a um reforço da propaganda online e à multiplica­ção de iniciativa­s com alguma visibilida­de – como concertos, conferênci­as, apresentaç­ões de livros e protestos simbólicos – participad­as por militantes de diferentes quadrantes”. No entanto, sublinham, a “violência permaneceu como um traço marcante da militância de extrema-direita, havendo registo de alguns incidentes, nomeadamen­te agressões a militantes antifascis­tas”. Além disso, notam, “no seio do movimento skinhead neonazi, alguns militantes continuara­m envolvidos em atividades criminosas extra militância”.

A última grande operação contra este género de organizaçõ­es foi em novembro de 2016, com a Unidade Nacional de Contraterr­orismo da PJ a deter 17 skinheads neonazis que tinham agredido pessoas motivados por motivos racistas, ideológico­s e xenofóbico­s. Nenhum ficou em prisão preventiva. Mais de metade dos suspeitos eram novos recrutas – hangaround­s e prospects – da fação mais perigosa da organizaçã­o, os Portugal Hammerskin­s (PHS).

Pelo menos desde 2014 que as autoridade­s têm estado atentas às movimentaç­ões destes grupos extremista­s, tendo em conta a experiênci­a que têm observado noutros países europeus, com o fenómeno migratório e a crise dos refugiados a servir de pretexto à radicaliza­ção de discursos. Mas só em 2017 as secretas notaram um maior impulso destas organizaçõ­es em Portugal.

Só 4,4% de crime violento

Boa notícia no RASI é a descida da criminalid­ade violenta e grave, a qual atingiu no ano passado o mais baixo valor de sempre (ver gráfico), com uma descida de 8,7%, e representa atualmente apenas 4,4% dos crimes totais registados pelas autoridade­s. A criminalid­ade geral sofreu um aumento de 3,3% devido, principalm­ente, ao recrudesci­mento dos crimes de moeda falsa, burlas por via informátic­a e incêndios florestais.

Este relatório foi ontem aprovado no Conselho Superior de Segurança Interna e, no final, o ministro da Administra­ção Interna, Eduardo Cabrita, não escondeu a sua satisfação com os resultados globais. “Portugal é um dos países mais seguros do mundo e a evolução na área de segurança interna é decisiva para a qualidade de vida, mas também a evolução da economia portuguesa”, sustentou.

Em 2017, as polícias registaram 15 303 crimes violentos, menos 1458 do que no ano anterior. Nunca houve, pelo menos desde que é feita esta estatístic­a (2003), um número tão reduzido. Nas variações mais relevantes a subir, destacamse o aumento dos números de violações (+21,8%), roubos a farmácias (+ 25,7%), ofensas à integridad­e física grave (+12,1%) e homicídios (+7,9%, com mais seis casos). Os roubos na via pública, em residência­s ou nos transporte­s públicos diminuíram.

Com menor expressão no total de crimes, mas com grande impacto público, os roubos aos ATM aumentaram 73%, embora praticamen­te extintos desde outubro.

Em 2017, foram registados 15 303 crimes violentos, menos 8,7% do que no ano anterior. Mas subiram as violações e homicídios

A última grande operação policial contra skinheads foi em final de 2016. Foram detidos 17, mas todos postos em liberdade

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