Quase metade dos jovens disseram ter recebido informação prévia sobre as Forças Armadas que não correspondia à realidade
MANUEL CARLOS FREIRE Aumentar o salário dos militares voluntários e contratados seria importante para atrair e manter os jovens nas fileiras. Porém, são os próprios a dizer que as principais razões para o seu afastamento das Forças Armadas (FA) são outras e decorrem da sua vivência profissional.
Esta informação foi dada ontem pelo diretor-geral de Recursos da Defesa Nacional, Alberto Coelho, numa conferência organizada pela comissão parlamentar de Defesa sobre as dificuldades e desafios do recrutamento militar – onde o “passa-palavra” de quem está nas fileiras é um fator importante no interesse e motivação dos potenciais candidatos ao ingresso nas FA.
“Poderá ser relevante” aumentar os salários, pois a diferença entre o que ganham as praças e o valor do salário mínimo é já inferior aos 40 euros – e acabar com a imposição de pagar apenas 196 euros nos primeiros quatro meses nas fileiras ajuda, assumiu Alberto Coelho. No entanto, “a atuação mais urgente e prioritária é dentro do percurso profissional” dos voluntários e contratados, argumentou o responsável, avançando alguns números: 38,9% desses militares – no conjunto dos três ramos – revelaram-se insatisfeitos e 24,5% mostraram-se indiferentes; “quase 46%” afirmaram ter recebido informação no momento do ingresso que depois “não correspondeu” à realidade; cerca de 43% disseram não ter concretizado as suas expectativas iniciais.
Também o anterior chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general José Pinheiro, alertou para os efeitos do “passa-palavra” quando os ramos são incapazes de dizer aos candidatos quando podem iniciar a recruta (dada a incerteza na obtenção das autorizações das Finanças para concretizar as incorporações).
“Se a ‘geração milénio’ não tem a resposta na hora desinteressa-se e vai buscar outro tipo de interesses”, registou José Pinheiro. E, como “o passa-palavra é fundamental, este tipo de incerteza, este tipo de cortes, de quebras de cadeia, acabam por ter influência negativa” na atração dos jovens, assinalou também o general. Acresce que a falta de efetivos causa sobrecarga de trabalho nos que estão – o que “desmotiva algumas especialidades, mais sacrificadas, porque o seu