Britânicos satisfeitos com posição portuguesa, PSD e CDS querem mais
Sociais-democratas e centristas querem que Augusto Santos Silva explique porque não expulsou diplomatas russos
PARLAMENTO A decisão do governo português “de chamar a Lisboa o seu embaixador em Moscovo para consultas foi bem acolhida pelo Reino Unido”, anotou a embaixada britânica em Lisboa em resposta ao DN. Esta posição contrasta com o desafio do PSD feito ontem, pelo líder parlamentar social-democrata, Fernando Negrão, ao executivo socialista para que Portugal expulse diplomatas russos, em linha com o que tem acontecido noutros países.
Depois de se saber que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, chamou a Lisboa o embaixador português em Moscovo, Fernando Negrão apontou o dedo à reação “tímida” e “condicionada” do governo, por estar amarrado a comunistas e bloquistas, “dois partidos que estão do lado errado, que estão contra a União Europeia”. “A única explicação que encontro, num PS que foi sempre atlantista, é de se sentir condicionado pela aliança com PCP e BE”, atirou o líder da bancada parlamentar do PSD ontem na Assembleia da República. “A posição do PSD é que devemos alinhar com a maioria daqueles com quem temos estado sempre e devemos recomendar ao governo que expulse os diplomatas russos da sua embaixada”, justificou Negrão.
Pelo PS, o vice-presidente da bancada, Pedro Delgado Alves, notou que a posição portuguesa é a mesma de “muitos outros Estados aliados” e recusou que haja Augusto Santos Silva chamou embaixador em Moscovo
para consultas qualquer condicionamento por causa da geringonça. “O PSD entendeu tomar uma posição incompreensível face ao histórico das relações diplomáticas e àquilo que têm sido as posições prudentes deste e de anteriores governos de Portugal”, acusou.
O BE acompanhou o executivo socialista, notando “que o governo agiu de forma correta” ao “não acompanhar a escalada de tensão”. O líder parlamentar bloquista, Pedro Filipe Soares, também recusou a interpretação do PSD, referindo que o BE não manteve “qualquer contacto” com o governo nesta matéria. Já Jerónimo de Sousa considerou que o governo “está no caminho certo” pela paz.
Já ao fim da tarde, o CDS veio também dizer que Santos Silva tem de ir “com urgência” ao Parlamento “dar explicações claras, face à gravidade da situação”, se possível hoje ou “no máximo” na segunda ou na terça-feira. Sem pedir a expulsão de diplomatas, Pedro Mota Soares jogou com as palavras: “O governo tem de explicar por que não o fez.”
Para os britânicos, na nota da embaixada, a decisão portuguesa, “juntamente com uma série de expulsões de diplomatas russos”, anunciadas por “amigos e aliados”, “demonstra uma atitude coletiva de condenação das ações desencadeadas pela Rússia”.
Depois de o presidente da República ter dito que a decisão do governo foi “forte”, Marcelo Rebelo de Sousa elogiou ontem a “inteligência” e “lucidez” da política externa portuguesa também na fidelidade “à UE” e “à Aliança Atlântica”. Num dia como este, para bom entendedor, estes elogios bastam.
Em 2016, a Rússia foi o nono mercado do qual Portugal mais importou. No final de fevereiro, de visita a Moscovo, Santos Silva notou que, apesar das sanções da UE, as exportações portuguesas cresceram em 2017 cerca de 23%, mas as importações também aumentaram 30%, em comparação a 2016.
Aquando da eleição de António Guterres como secretário-geral das Nações Unidas, a Rússia apoiou uma candidata de Leste, mas, como reconheceria depois o ministro Santos Silva, “a fórmula” que os russos “sempre usaram foi que viveriam bem com António Guterres”. MIGUEL MARUJO