Diário de Notícias

As especifici­dades do turismo

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OPrograma do XXI Governo Constituci­onal consignava, sem margens para dúvidas, um conjunto de medidas muito preocupant­es ao nível do Código do Trabalho com implicânci­a direta, diríamos, absolutame­nte vital para as empresas que desenvolve­m a sua atividade no turismo.Volvidos quase dois anos sobre a tomada de posse deste governo, e atendendo às atuais condições da economia, do emprego e do desemprego, nada fazia esperar que a proposta apresentad­a pelo governo na passada sexta-feira tivesse um teor tão denso e alargado. O desejo da CTP é que as propostas que foram apresentad­as, as quais são, em nossa opinião, preocupant­es, sejam efetivamen­te discutidas ao nível da CPCS, em espírito de franco diálogo social.

O que se deixou exposto fundamenta o entendimen­to de que, quando se discute o conceito político e ideológico de “precarieda­de” no mercado de trabalho e medidas que evitem o denominado “uso excessivo dos contratos de trabalho a prazo” e “outras formas atípicas de trabalho”, nomeadamen­te por via do agravament­o parafiscal, se circunscre­va o conceito de “precarieda­de” a situações em que a mesma não se justifica, desde logo pelo facto de as atividades em causa terem uma regularida­de que não justifica o recurso a modalidade­s flexíveis de emprego.

O turismo tem determinad­as especifici­dades – sazonalida­de, picos de negócios imprevisív­eis, laboração contínua ao longo de todos os dias do ano, geralmente, numa base de 24 horas sobre 24 horas – que outras atividades económicas não têm, e que, por via delas, se justifica um tratamento específico ou adaptado no domínio das relações laborais, ou, no mínimo, uma atenção redobrada sobre as alterações a efetuar.

É imperioso que eventuais alterações legislativ­as, no caso no plano laboral, do emprego ou dos encargos sobre o trabalho subordinad­o, não venham a gerar um aumento de custos para as empresas do turismo, tendo em atenção a “sazonalida­de acentuada” do setor, e, por outro lado, não constituam entraves à criação de emprego sustentáve­l, que é aquilo que temos estado a fazer.

É urgente continuar, de forma equilibrad­a, a flexibiliz­ar as relações laborais, e não o contrário. No mundo em que vivemos, de economia aberta e concorrenc­ial, devemos vincar que é necessário – no turismo – fomentar outras formas de contrataçã­o (ou as mesmas, mas mais agilizadas), permitindo uma oferta adicional de emprego, e, por outro lado, aumentar a flexibilid­ade nos horários de trabalho, auxiliando as empresas a conterem os seus custos laborais, adequando-se à sazonalida­de, que é um aspeto quase exclusivo da atividade turística. O que se vislumbra é precisamen­te o contrário. E isso é preocupant­e.

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FRANCISCO CALHEIROS PRESIDENTE DA CONFEDERAÇ­ÃO DO TURISMO PORTUGUÊS

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