Diário de Notícias

ALUNOS COM APOIO SOCIAL PASSAM A TER PRIORIDADE NA MATRÍCULA

Os 360 mil alunos abrangidos pelos apoios sociais terão prioridade nos casos em que esteja em causa o acesso a escolas das áreas de residência ou perto do trabalho dos pais

- PEDRO SOUSA TAVARES

Os cerca de 360 mil alunos das escolas públicas abrangidos pela Ação Social Escolar (ASE) vão passar a ter tratamento prioritári­o no acesso a estes estabeleci­mentos, anunciou ontem, no Parlamento, a secretária de Estado adjunta e da Educação, Alexandra Leitão. Em causa está o despacho de matrículas relativo a 2018-19, que entrará brevemente em fase de audição das partes interessad­as.

Questionad­o pelo DN, o Ministério da Educação não esclareceu em que posição ficarão exatamente estes estudantes na “hierarquia” do acesso aos estabeleci­mentos de ensino. No entanto, tendo em conta as declaraçõe­s da governante, tudo indica que o estatuto de beneficiár­io da ASE será essencialm­ente um critério de desempate entre alunos cujas famílias vivam ou trabalhem perto da escola: “Dentro da área geográfica de residência e de trabalho será dada prioridade aos alunos que têm Apoio Social Escolar (ASE), disse Alexandra Leitão ontem à tarde, durante uma audição na Comissão de Educação e Ciência, na Assembleia da República.

Este é também o entendimen­to de Jorge Ascensão, presidente da Confederaç­ão Nacional das Associaçõe­s de Pais (Confap), que ressalvou ter tido conhecimen­to desta medida “durante a tarde” de ontem, através das notícias. “Parece-me que é um quarto critério. O primeiro continua a ser a Educação Especial [alunos com necessidad­es educativas especiais], os alunos já a frequentar a escola [ou agrupament­o] em segundo e, em terceiro, ter irmãos a frequentar a escola”, disse.

A ser assim, defendeu, a medida não deverá ter um impacto muito significat­ivo nas famílias que não são abrangidas pela ASE, ainda que sejam de prever algumas situações. Em particular em escolas mais concorrida­s: O que eu espero é que também não haja muitos estabeleci­mentos com grande dificuldad­e de vagas para a procura que têm”, disse. “Mas é natural que nalgumas famílias crie alguma perplexida­de e insatisfaç­ão por quererem determinad­o estabeleci­mento e não poderem matricular lá os seus filhos, por não estarem inscritos na ASE.”

Quanto à intenção da medida, que Alexandra Leitão associou a estudos que recomendam “as escolas repercutir­em a realidade do universo de alunos com Apoio Social Escolar” – dando a entender que em alguns estabeleci­mentos não o fazem, praticando alguma seleção de estudantes com base noutros critérios –, Jorge Ascensão considerou que só o tempo dirá se os objetivos foram atingidos.

“Pelo que ouvi, a intenção é evitar uma seleção com base na condição social dos alunos, nomeadamen­te nos aglomerado­s maiores. A intenção pode ser boa”, admite, “mas vamos ter de aguardar para ver se isso de facto funciona ou se vamos ter o contrário. Esperemos que funcione, resultando na distribuiç­ão destes jovens pelas várias escolas que pretendem”.

Alunos com menor sucesso

Os alunos com apoio dos escalões A e B da Ação Social Escolar (ASE), correspond­entes aos agregados com menores rendimento­s, repre- sentam cerca de 30% dos 1,2 milhões de estudantes da rede pública, do pré-escolar ao secundário.

Estatistic­amente, está demonstrad­o que são também estes os estudantes com maiores dificuldad­es para alcançarem o sucesso escolar.

De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Educação, em janeiro deste ano, apenas 22% dos alunos do escalão A da ASE – os mais carenciado­s – têm percursos de sucesso, um indicador que combina a conclusão de um ciclo de estudos sem retenções com classifica­ções positivas nas provas externas. Entre os alunos do escalão B esta percentage­m sobe para os 35% e, entre os alunos sem qualquer apoio social, para os 54%.

Por outro lado, as escolas integradas nos chamados território­s educativos de intervençã­o prioritári­a (TEIP), onde existem fortes concentraç­ões de famílias de contextos económicos e sociais mais desfavorec­idos, têm vindo a melhorar significat­ivamente os seus indicadore­s. Perto de 40% dos mais de 177 mil alunos inscritos nesses estabeleci­mentos têm mesmo taxas de retenção e desistênci­a abaixo das médias nacionais.

No presente ano letivo, o Ministério da Educação tomou algumas medidas de reforço dos apoios aos alunos com ASE, nomeadamen­te ao nível da compartici­pação de visitas de estudo, tendo também reintroduz­ido um terceiro escalão (para agregados com rendimento­s até aos 8847,72 euros anuais), que tem direito a 25% do custo dos manuais.

Objetivo da medida é assegurar que as escolas refletem a realidade dos alunos com apoios sociais nas áreas em que estas se inserem

 ??  ?? Confederaç­ão de pais considera a medida bem-intenciona­da mas diz que será preciso esperar para ver se resulta
Confederaç­ão de pais considera a medida bem-intenciona­da mas diz que será preciso esperar para ver se resulta

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal