DO FACEBOOK À IRLANDA DO NORTE
DEBATE Difuso, confuso, o debate do brexit tem de tudo um pouco: polémica sobre o referendo e o Facebook, o regresso da fronteira entre as Irlandas ou os direitos dos imigrantes comunitários
Batota no referendo? Facebook sob pressão
› Um dia após Christopher Wylie, ex-diretor de investigação da empresa de análise de dados Cambridge Analytica, ter dito numa comissão do Parlamento britânico que o brexit ganhou porque a campanha do Vote Leave não jogou limpo, a primeira-ministra Theresa May veio garantir que a saída da União Europeia (UE) vai mesmo acontecer. No mesmo Parlamento disse ontem: “Se alguns estão a tentar sugerir que o governo deveria rejeitar o resultado do referendo por causa desse tipo de afirmações, digo-lhes muito claramente... o referendo foi realizado, o voto aconteceu, as pessoas decidiram e essa decisão será posta em prática”, declarou a chefe do governo conservador. O caso levou à queda das ações do Facebook, depois de Wyle ter dito que a sua e outras empresas interferiram no brexit e na eleição de Donald Trump com recurso aos dados de 50 milhões de utilizadores do Facebook. Três utilizadores da rede social processaram-na já por alegada violação de privacidade. Se a tendência alastrar as consequências poderão ser devastadoras para a empresa de Mark Zuckerberg.
Irlanda do Norte e o fantasma da fronteira
› A divisão da Irlanda deixou muitas cicatrizes e uma fronteira física só iria avivá-las. Que o diga a família Crockett, cuja quinta está dividida entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte. A primeira um Estado independente e membro da UE. A segunda uma província autónoma do Reino Unido (após décadas de conflito sangrento entre unionistas e republicanos e 3500 mortos). “Hoje não há problema. Podemos atravessar seis ou oito vezes por dia. Se houvesse obstrução, iria atrapalhar o nosso trabalho”, disse à Reuters Gordon Crockett, cujo bisavô foi proibido de levar as vacas para o outro lado da fronteira quando se deu a partição em 1921. Agora, com o brexit, Bruxelas sugeriu manter a Irlanda do Norte no mercado comum, do qual a Grã-Bretanha quer sair. Isso criaria nova fronteira. Londres recusou. Ficou de apresentar nova proposta e, segundo o The Times, irá fazê-lo em breve.
Menos imigração travará crescimento britânico
› O governo de May indicou ontem que a nova lei sobre a imigração será adiada. Um dos pontos quentes do dossiê do brexit é o dos direitos dos cidadãos comunitários que vivem, trabalham, estudam no Reino Unido. Um estudo divulgado na terça-feira refere que restringir a imigração no pós-brexit ameaçará o crescimento do Reino Unido. Segundo dados do Observatório da Emigração, a emigração portuguesa para o Reino Unido caiu já 26% no ano passado, por comparação a 2016. Debate difuso em torno do brexit poderá ser uma explicação.