Diário de Notícias

Sempre nos antípodas

- FERREIRA FERNANDES JORNALISTA

Quem descobriu a Nova Zelândia? Na versão oficial, foi Abel Tasman, navegador holandês, em 1642 e 1644. O prémio é existir hoje uma enorme e vizinha ilha com o nome de Tasmânia. Na versão efetiva, quem chegou lá de facto, pela parte do império britânico que se criou, foi James Cook, na sua famosa PrimeiraVi­agem através do oceano Pacífico (1768-1771). Mas há indícios históricos que referem terem sido os portuguese­s a descobrir a Nova Zelândia e a Austrália, entre 1520 e 1524; e os espanhóis terem por lá andado entre 1576 e 1578... Belos mistérios, se tivermos o cuidado prévio de lembrar que antes de tanta descoberta já lá estavam as terras, a Austrália e a Nova Zelândia, e os povos, os aborígenes e os maoris. Feito este honesto preâmbulo, há que dizer que os portuguese­s deveriam dar maior atenção a esta questão histórica. Afinal, as nossas raízes são profundas e a metáfora de elas nos terem levado aos exatos antípodas (Nova Zelândia) da nossa terra inicial (aqui no pequeno retângulo europeu) é uma poderosa imagem cultural e até de marketing. Ontem,o El País publicou um artigo intitulado “Espanha faz tremer a história oficial da Nova Zelândia”. E o jornal espanhol conta que a embaixada espanhola distribuiu, pelas escolas neozelande­sas, 430 exemplares do livro Conquistad­or Puzzle Trail,do investigad­or neozelandê­sWinston Cowie. Este, ao arrepio das versões oficiais, defende terem sido portuguese­s os primeiros europeus a chegar e, logo depois, os espanhóis. A distribuiç­ão do livro pelas escolas levou a uma polémica que reabriu a discussão do “descobrime­nto” na Nova Zelândia. Ora, essa iniciativa teve também o apoio da embaixada portuguesa, mas por cá ninguém lhe deu eco. Os espanhóis sabem sempre puxar a brasa à sua sardinha: quando traduziram o livro chamaram-lhe “Nueva Zelanda, Un Puzzle Histórico:Tras la Pista de los Conquistad­ores Españoles”...

Há boas guerras que não sabemos travar.

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