Diário de Notícias

“Lisboa está mais arranjada, mas tem muitos turistas”

Portugal recebe sempre muitos espanhóis nesta altura da Páscoa – faz parte da tradição. Quem anda pelas ruas de Lisboa ouve muito castelhano, mas agora já anda misturado com muitas outras línguas: francês, inglês, italiano, alemão... Muitos destes visitan

- FILOMENA NAVES

Jisela e Isidoro são de Toledo. Para eles, viajar para Lisboa é fácil – “são seis horas de carro, faz-se tranquilam­ente”, dizem –, e ainda bem, porque, por motivos familiares, fazem estas idas e vindas entre as duas cidades ibéricas pelo menos quatro vezes ao ano. “O nosso filho vive aqui há dois anos, e como são as férias da Páscoa na escola viemos tomar conta dos netos”, explica Jisela. “Somos os avós, não é?”, junta Isidoro, abrindo um sorriso.

Lá estão os netos: correndo, fascinados, atrás das bolas de sabão gigantes que um entertaine­r de rua lança à miudagem, na Praça do Rossio. Lena, de 5 anos, é a neta de Lisboa. Os outros dois são filhos de Ana, que desta vez também decidiu vir até cá com os pais. “Aproveito as férias e conheço a cidade”, diz, contente.

Para Jisela e Isidoro a capital portuguesa já não tem muitos segredos. Ainda há pouco aqui estiveram, pelo Natal e o Ano Novo, mas gostam sempre: das pessoas, “que são muito amáveis e tentam entender-te, dos restaurant­es, da comida”. E até acham que agora está tudo mais bonito e mais arranjado.

“A primeira vez que viemos a Portugal, há sete anos, fomos ao Porto e havia muitos edifícios degradados, junto ao rio”, recorda Jisela. Mas, quando há dois anos voltaram, já por causa do filho, até se surpreende­ram com as mudanças. “Fiquei assombrada com as diferenças que encontrámo­s, com tantos edifícios recuperado­s, está tudo mais arranjado”, avalia Jisela. “Vê-se que estão a cuidar dos espaços.” Isidoro concorda. “Os edifícios estão restaurado­s.”

O passeio matinal da família vai continuar. Dali vão à ginjinha, ao pé da Igreja de São Domingos, é quase obrigatóri­o para quem vem pela primeira vez, como é o caso de Ana. “É muito boa”, garantem. E, claro, vai uma saúde, que está um sol bonito e as férias são uma coisa boa.

O tempo da Páscoa, com as suas ressurreiç­ões – a da religião cristã, e a da terra, com a explosão de vida na primavera –, é também, para muita gente, tempo de férias e, claro, de viagens. Por esta altura, Portugal é tradiciona­lmente um destino popular de espanhóis e o muito castelhano que se ouve nas ruas de Lisboa confirma-o. Mas também já não é só isso porque há muitas outras línguas no ar: muito francês e inglês, muito italiano e alemão, outras vozes que são irreconhec­íveis.

Portugal e, sobretudo, Lisboa estão na moda e há quem já tenha vindo mais do que duas e três vezes, ou mesmo quatro, porque este “é um sítio fantástico”. É Bruce, de nacionalid­ade britânica, quem o diz, de copo de cerveja na mão a meio da manhã. Bruce, o seu compatriot­a Simon, e Rick, que é sul-africano, estão de passagem, num cruzeiro, e não quiseram perder a oportunida­de de, mais uma vez, pôr o pé na cidade, por poucas horas que fosse.

“Lisboa é uma das minhas cidades preferidas”, garante Bruce, que diz já ter estado cá umas 20 vezes. “Tem sol, come-se bem, e a cerveja aqui é muito mais barata”, explica com uma gargalhada. Simon só discorda num pormenor: para ele Lisboa é mesmo a sua cidade preferida, depois de Praga e de Budapeste. Já Rick põe o Alasca no topo dos gostos geográfico­s, por causa da “imensa beleza”. Mas “logo a seguir”, garante, vem Lisboa, “também pela beleza”. Sentados no pequeno muro de uma das fontes da Praça do Rossio, Rick, Simon e Bruce fazem tempo para o almoço. “Em dez minutos já nos vieram perguntar pelo menos cinco vezes se queremos comprar óculos de sol e cocaína”, mas “não há problema, não comprámos”, dizem a rir. A verdade é que estão bem dispostos, e pronto.

Jaione, Maitane, Maria Eugénia e a família – são dez ao todo, entre irmãos, cunhadas e respetivos filhos – também estão satisfeito­s e alegres, mesmo depois das 11 horas de comboio entre San Sebastian e Lisboa. “Chegámos hoje de manhã, viemos a dormir”, justifica Jaione. Quando se lhes pergunta de onde são, a resposta é pronta: País Basco. É assim que se vê a si própria esta família espanhola que decidiu passar a Páscoa em Lisboa, uns estreantes, outros já repetentes. Maria Eugénia, por exemplo, já cá tinha estado e foi ela quem se lembrou desta escapadela de cinco dias em família. E até já têm um roteiro mais ou menos feito: “Vamos passear, caminhar 1. Rick, Simon e Bruce já vieram várias vezes a Lisboa.“É linda”, dizem 2. Jisela e Isidoro são de Toledo e vêm pelo menos quatro vezes por ano a Lisboa. Gostam da cidade, que acham agora muito diferente,“com os edifícios e os espaços bem arranjados” 3. Ramón, Célia e Isabel, são de Albacete. Foi uma boa visita, mas “com turistas a mais” pelas ruas de Alfama, havemos de ir a Belém, a Cascais e a Sintra, ao Palácio da Pena.” São cinco dias de férias para “ver coisas diferentes, que não temos lá, como estas pedras da calçada, os azulejos, os elevadores”. A escolha da Páscoa “foi por estarmos todos de férias, não somos muito de missas”. E lá vão, a caminho de Alfama, a querer ver tudo.

Ramón, a mulher, Isabel, e a filha de ambos, Celia, que vieram de Albacete, perto de Madrid, para estar uns dias na capital portuguesa, também “não são lá muito crentes”, mas isso não os impediu de ir à Igreja de São Domingos. “Entrámos por acaso, não costumamos ir assim a igrejas, mas valeu a pena, é muito bonita”, diz Celia, a sorrir. Ramón concorda. “É muito original e parece-me bem que tenha ficado assim, sem restauro do interior, depois

do incêndio. Isso obrigou-nos a ler a informação sobre a história da igreja, para percebermo­s o que estávamos a ver”, explica.

A visita da família à igreja era já uma espécie de despedida de Lisboa, o regresso a Albacete estava por horas. Mas a semana deles já tinha sido movimentad­a em Portugal, talvez até um pouco de mais. “Muitos turistas”, queixa-se Ramón. “Fomos a Sintra, mas era muita gente, e em Belém também. Demasiados turistas”, afirma Ramón. Isabel e Celia fazem que sim com a cabeça, mas depois lembram as coisas boas: “Os edifícios muito bonitos, as praças em geral e, claro, a comida, o bacalhau de todas as maneiras, e as bifanas.”

Encantados estão também Giovanni, Marine e os seus 31 colegas do 8.º ano de uma escola de Lyon, que vieram com quatro professore­s passar uns dias em Lisboa. Porquê Lisboa? “Estudamos Português”, respondem em coro. É uma disciplina de opção, eles fizeram essa escolha. Giovanni e Marine porque são “de origem portuguesa”, filhos de portuguese­s já nascidos em França. Mas para Giovanni, o primeiro motivo nem foi esse. “É uma língua muito bela”, diz sério. Já Sathurn, que é inglesa, escolheu-a porque a primeira professora que conheceu na escola, quando a sua família se mudou para Lyon, “foi a de Português” e depois, naquela cidade, “há muita gente que fala a língua”. No fim despedem-se com “obrigados” e “adeus”, e Marine, que não sabia de onde era a avó portuguesa, ainda vem a correr, a mostrar o telemóvel. “Perguntei à minha mãe.” E lá está, na mensagem: Favaios.

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Maria Eugénia, de San Sebastian, no País Basco, veio a Portugal e gostou tanto que desafiou a família toda a passar a Páscoa em Lisboa, para “ver coisas diferentes, que não há em Espanha”, diz ela
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