Diário de Notícias

Há um antes e um depois dos Novos Talentos FNAC

Há um “também este?” quase inevitável quando se olha para os artistas que, ao longo de 15 anos, protagoniz­aram os Novos Talentos FNAC. Falámos com cinco deles, perguntand­o o que faziam então, e que impacto teve nas suas vidas. O lema da iniciativa Chega

- Mariana Pereira POR

Deolinda, Orelha Negra, Diabo na Cruz, B Fachada, Rita Redshoes, Márcia, You Can’t Win Charlie Brown, Capicua, DJ Marfox, Capitão Fausto, Frankie Chavez ou Samuel Úria têm pelo menos uma coisa em comum: todos eles foram editados na coletânea Novos Talentos FNAC.

Estávamos em 2007, e Rita Redshoes ainda era só a Rita. E a Rita pôs uma música no MySpace (que entretanto caiu em desuso): Dream On Girl. Nessa altura era teclista do David Fonseca, estudava Psicologia e nos tempos livres compunha músicas que só os seus amigos e a sua família ouviam e que mais tarde dariam origem ao seu primeiro álbum, Golden Era. Mas um dia o radialista Henrique Amaro ouviu Dream On Girl e convidou Rita para participar na primeira coletânea Novos Talentos FNAC. “Foi o Henrique quem desencadeo­u tudo porque fui obrigada a escolher um nome para o projeto, a gravar um bocadinho melhor aquilo que tinha no MySpace, de repente tive de formar uma banda. E foi a minha primeira música a passar na rádio. Era o que eu precisava, empurrou-me. Tinha o material em casa, as maquetes, mas depois não se tornava palpável. Ter entrado nesta coletânea tornou a carreira possível.”

Em 2003, os Novos Talentos FNAC lançavam o primeiro concurso. Pedro Guimarães ganhava na área da fotografia, seguido por um grupo que termina em Luís Preto, o vencedor de 2017. Hugo Rodrigues Cunha está mais ou menos a meio dessa lista. O vencedor de 2008 “estava completame­nte no início da carreira”: começara a estudar fotografia havia um ano, na Ar.co, onde foi aluno de Sérgio Mah e de Pedro Tropa, altura em que decidiu “deixar de fazer fotografia­s bonitinhas” e mergulhar realmente no ofício. Venceu com uma série de 21 fotografia­s sobre Lisboa, tiradas entre o rio Trancão e a ribeira do Jamor, acompanhad­as por uma imagem do Google Earth do local onde foram tiradas. O impacto mais imediato para Hugo, além do reconhecim­ento que lhe traria mais tarde, foi dar-lhe “um bom computador e uma boa máquina fotográfic­a, que não tinha”.

Juntámo-nos na FNAC do Chiado numa altura em que a FNAC conta 20 anos e decidiu repensar este concurso que promove há 15, nota Inês Condeço, diretora de comunicaçã­o da FNAC. “A grande ideia, que ainda se mantém, é dar palco a estes novos artistas.” Em torno desta e do tema, que neste ano responde ao lema Chega Onde Quiseres, há elementos móveis: as candidatur­as desta edição, que estão abertas até dia 9 de abril, estão abertas às áreas da escrita, que já existiu mas entretanto foi extinta, e do cinema, uma novidade no programa. E ainda outro elemento novo: no final de maio haverá uma gala para anunciar os Novos Talentos FNAC de 2018.

“Nessa altura tinha um filho, e agora tenho quatro”, graceja Frankie Chavez, respondend­o à pergunta acerca do que mudou desde 2010, quando foi selecionad­o para a coletânea por Henrique Amado, que de curador passou para presidente do júri, acompanhad­o por Lia Pereira, Luís Oliveira e Rui Miguel Abreu.

“Houve um antes e um depois”, diz Frankie. A saída do EP This Train Is Gone e os Novos Talentos FNAC fizeram que “de um momento para o outro deixasse de tocar em casa, no estúdio ou com os amigos, para passar na rádio”.

Ana Lázaro e Rui Pedro Antunes viram os seus contos selecionad­os para os Novos Talentos no mesmo ano: 2014. Ao primeiro, jornalista do Observador, a distinção – atribuída pelo critério dos jurados Valter Hugo Mãe e pelo editor Carlos da Veiga Ferreira – deu “motivação para continuar a insistir na ficção, não desistir já”. Ele que, durante algum tempo, escreveu contos depois de “dez ou 12 horas de trabalho na redação do DN”. Ana Lázaro, atriz, encenadora e dramaturga que neste ano venceu o Prémio Literário Maria Rosa Colaço, com uma obra para a infância, inspirou-se em pessoas que a impression­aram durante uma residência artística em Xangai. “São pessoas que carregam quilos e quilos de pedras do sopé da montanha até ao cimo, da Yellow Mountain, que os turistas sobem de teleférico.”

E aqui vão cinco subidas da montanha.

 ??  ?? Da esquerda para a direita, na FNAC do Chiado: Frankie Chavez, Hugo Rodrigues Cunha, Ana Lázaro, Rui Pedro Antunes e Rita Redshoes
Da esquerda para a direita, na FNAC do Chiado: Frankie Chavez, Hugo Rodrigues Cunha, Ana Lázaro, Rui Pedro Antunes e Rita Redshoes

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