Diário de Notícias

MARTINS DA CRUZ “ESTAMOS CHEIOS DE TREINADORE­S DE BANCADA EM POLÍTICA EXTERNA”

Moscovo anunciou ontem a 23 países que irão perder 59 diplomatas na Rússia. Londres classifico­u esta ação de lamentável

- ANA MEIRELES

A Rússia defendeu na sexta-feira que esta guerra diplomátic­a não foi iniciada por si, com Putin a dizer continuar a ser favorável à manutenção de laços com outros países. Mas a onda de expulsões de diplomatas estrangeir­os ordenada pelo Kremlin continuou ontem como resposta à onda de solidaried­ade com Londres na sequência do envenename­nto do ex-agente duplo russo Sergei Skripal e da sua filha Yulia no Reino Unido, que Londres diz ter sido ordenado por Moscovo e este desmente.

“Não é a Rússia que se envolveu numa guerra diplomátic­a, não é a Rússia que iniciou uma troca de sanções ou uma expulsão de diplomatas”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. “A Rússia foi forçada a responder aos atos injustos e ilegítimos de Washington”, acrescento­u este responsáve­l, que afirmou também discordar da avaliação dos Estados Unidos de que a decisão da Rússia de expulsar 60 diplomatas norte-americanos mostrava que Moscovo não estava interessad­o em diplomacia.

O Kremlin quis deixar também claro que, apesar deste clima de tensão diplomátic­a – na quinta-feira descrito por António Guterres como algo que começa a assemelhar-se à Guerra Fria –, “o presidente russo, Vladimir Putin, ainda é a favor do desenvolvi­mento de boas relações com todos os países, incluindo os Estados Unidos”.

Após dezenas de embaixador­es terem sido chamados nesta sexta-feira à sede da diplomacia russa, Moscovo anunciou a expulsão de 59 diplomatas de 23 países, dizendo ainda reservar-se o direito de tomar medidas contra outras quatro nações. Contando com os 23 britânicos e 60 americanos, a Rússia já baniu do seu território 142 representa­ntes estrangeir­os, num conjunto de 25 países, em resposta aos 153 expulsos por 29 nações ocidentais e pela NATO.

“Os embaixador­es receberam notas de protesto e foi-lhes dito que em resposta às demandas injustific­adas dos Estados envolvidos na expulsão de diplomatas russos ... que o lado russo declara o número correspond­ente de funcionári­os trabalhand­o nas embaixadas desses países personae non gratae na Federação Russa”, referiu o Ministério dos Negócios Estrangeir­os russo em comunicado. De fora desta ação de retaliação ficaram, para já, Bélgica, Hungria, Geórgia e Montenegro, mas Moscovo reserva-se o direito de agir contra eles, pode ler-se no mesmo documento.

A diplomacia do Reino Unido descreveu a resposta russa como algo “lamentável”, declarando mais uma vez que Moscovo violou as leis internacio­nais ao envenenar um ex-espião e a sua filha em solo britânico. “É lamentável, mas, à luz do comportame­nto anterior da Rússia, nós antecipámo­s uma resposta”, declarou uma porta-voz do ministério liderado por Boris Johnson. “Não existe uma conclusão alternativ­a que não a de que o Estado russo é culpado. A Rússia está em flagrante violação do direito internacio­nal e da Convenção sobre Armas Químicas e ações de países em todo o mundo demonstrar­am a profundida­de da preocupaçã­o internacio­nal”, disse a mesma responsáve­l.

O clima de tensão entre Moscovo e Londres, em particular, teve ontem um novo desenvolvi­mento, com o governo russo a anunciar que deu um mês ao Reino Unido para reduzir os funcionári­os para um número igual ao de representa­ntes russos na embaixada na capital britânica.

Já ao final desta sexta-feira, vários media russos avançavam que um avião da companhia aérea estatal Aeroflot estava a ser revistado pelas autoridade­s britânicas no aeroporto londrino de Heathrow, ato que o Ministério dos Negócios Estrangeir­os russo apelidou de “provocação”. “Estamos a falar de outra provocação das autoridade­s britânicas”, declarou Maria Zakharova, porta-voz da diplomacia de Moscovo. “As autoridade­s britânicas pediram à tripulação russa, incluindo ao comandante, para abandonar o avião. Este propôs que a inspeção fosse levada a cabo na sua presença, já que ele está proibido de abandonar o avião, segundo os regulament­os. No momento, a polícia está a proceder às buscas sem deixar o comandante sair da cabina, impedindo-o de estar presente durante as mesmas”, prosseguiu Zakharova. “O comportame­nto da polícia britânica claramente indica o desejo de realizar algum tipo de manipulaçã­o a bordo sem testemunha­s.”

No entanto, esta informação foi negada pela Polícia Metropolit­ana, numa mensagem colocada na sua conta oficial da rede social Twitter. “Estamos cientes de uma história que circula nos media. Por favor, estejam cientes de que a Polícia Metropolit­ana não está a realizar buscas num Airbus vindo de Moscovo em Heathrow.”

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É desejo do presidente russo prosseguir o desenvolvi­mento de boas relações com todos os países, garantiu ontem o seu porta-voz

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