Diário de Notícias

“É humilhante.” O teatro levanta a voz aos apoios da DGArtes

39 companhias não obtiveram financiame­nto no concurso da Direção-Geral das Artes para 2018-2021 a que se apresentar­am 80 estruturas. O Teatro Experiment­al de Cascais, de Carlos Avilez, e a Casa Convenient­e, de Mónica Calle, são alguns dos excluídos. Duas

- Mariana Pereira POR

Esta decisão é para mim humilhante. Já não é só o dinheiro, os postos de trabalho que estão em risco, e a escola que está em risco, é a forma como estamos a ser tratados neste momento; contrariam­ente à posição do senhor Presidente da República, que nos condecorou [como Membro Honorário da Ordem do Mérito] há dias. Claro que não vou desistir. Vou recorrer. Mas não sei como, porque acho-me profundame­nte humilhado, é uma grande falta de respeito por todos nós, e pela minha classe.” Quando falou com o DN, Carlos Avilez havia já pedido para ser recebido pelo primeiro-ministro, António Costa, na véspera. O diretor do Teatro Experiment­al de Cascais (TEC), uma das 39 estruturas que ficaram sem financiame­nto da Direção-Geral das Artes (DGArtes) para o período de 2018 a 2021, falava de um “ataque”. Horas depois, Diogo Infante publicava no Instagram letras brancas em fundo negro anunciando que hoje, dia em que Avilez comemora 62 anos de carreira, a entrada no espetáculo As You Like It do TEC é gratuita. “Venham todos, venham muitos!” era o repto.

Eram 80 as estruturas no Concurso ao Programa de Apoio Sustentado da DGArtes, que optou por apoiar apenas 50. A Mala Voadora encabeça a lista, seguida de companhias como a Teatro Praga, Companhia de Teatro de Almada, Artistas Unidos, O Bando, Companhia de Teatro de Braga, Companhia de Teatro do Algarve, a Comuna ou o Teatro Aberto.

As redes sociais enchiam-se de protestos perante os excluídos, ontem, dia após a publicação dos resultados no site da DGArtes. Já está marcada uma reunião para hoje às 17.00 no Centro de Artes de Lisboa, que convoca as companhias financiada­s e não financiada­s para discutirem entre si soluções possíveis.

O recurso dos resultados pode ser apresentad­o até 13 de abril e a decisão deverá ser conhecida entre o final de abril e o início de maio.

Duas capitais de distrito, Coimbra e Évora, ficam sem apoio ao teatro: O Teatrão e Escola da Noite, de Coimbra, a par do Centro Dramático de Évora, A Bruxa Teatro e É Neste País – Associação Cultural não receberam financiame­nto. Entre as 39 estruturas fora do concurso contam-se ainda o Teatro das Beiras, da Covilhã, o Teatro Experiment­al do Porto e, na mesma cidade, o Festival Internacio­nal de Marionetas, além do Teatro de Animação de Setúbal, a associação GRIOT, a Chão de Oliva e a Casa Convenient­e.

Elsa Valentim, do Teatro dos Aloés, outra das companhias não financiada­s, escrevia ontem na sua página de Facebook: “O percurso, a programaçã­o apresentad­a, o público que espera pelo próximo espetáculo, as equipas artísticas e técnicas que ficam sem trabalho, nada disso importa? Importa o quê? Ter usado as palavras certas para ter boa nota na redação? Querem saber o nome de quem vai desmontar o cenário porque sem essa informação não conseguem aferir?” O coro de críticas contava com nomes como Jorge Silva Melo, Maria Rueff, Cucha Carvalheir­o ou Eugénia Vasques.

“É uma companhia inteira, e pessoas que estão aqui há mais de 30 anos, com família, com compromiss­os assumidos. Acaba-se com uma companhia assim?” Além dos resultados, Carlos Avilez, ex-presidente do Instituto de Artes Cénicas e ex-diretor do Teatro Nacional D. Maria II, contesta também o facto de eles apenas terem sido conhecidos no fim de março, quando a temporada já arrancou e os compromiss­os foram feitos.

Assinaland­o que com mais dez milhões de euros todas as estruturas teriam financiame­nto, o PCP já entregou na Assembleia da República perguntas dirigidas ao governo para apurar se haverá um aumento de verbas para a cultura e acerca das medidas previstas para que as estruturas não financiada­s continuem a sua atividade.

Os valores dos mapas provisório­s do teatro apontam para uma estimativa de valores globais em redor dos 26 milhões de euros, dentro do valor total de 64,5 milhões de euros para apoiar todas as áreas, da música às artes visuais. Apenas se conhecem ainda as decisões finais nas áreas de dança e circo contemporâ­neo e artes de rua: 21 entidades ligadas à dança e três a circo e artes de rua foram financiada­s com 5,9 e 1,1 milhões, respetivam­ente.

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História do Cerco de Lisboa, da Companhia de Teatro de Almada. Ao lado, Marcelo Rebelo de Sousa a condecorar Carlos Avilez, do TEC, na terça-feira

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