Diário de Notícias

Concursos de obras desertos por preços “irrealista­s”

Construtor­es reclamam a criação de preços de referência para evitar a “falta de transparên­cia” nos concursos públicos

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OBRAS PÚBLICAS A crise já lá vai, mas as entidades públicas continuam a usar os preços praticados no tempo das vacas magras para lançar concursos públicos. Que ficam desertos ou com propostas excluídas por ultrapassa­rem o valor orçamentad­o. Uma situação que vai agravar-se, garantem os construtor­es, se os donos de obra “não começarem a praticar preços realistas”.

O concurso público internacio­nal para a modernizaç­ão da Escola Secundária de Amarante, com um preço base de 3,6 milhões de euros, é um dos exemplos. Ou a empreitada para a recuperaçã­o da Escola Artística António Arroio, em Lisboa, orçada em três milhões. Mas o problema não é exclusivo da Parque Escolar. Também aconteceu nos concursos para a construção da sede do Teatro da Rainha, nas Caldas da Rainha, ou da unidade de saúde familiar em Viseu.

“Com a crise, os preços foram sendo delapidado­s. As regras permitiam a apresentaç­ão de propostas até 40% abaixo do preço base e as empresas, muitas vezes em situação de desespero, concorriam a qualquer custo. Não podem é esses valores servir agora de base aos concursos atuais”, diz o presidente da Confederaç­ão Portuguesa da Construção e do Imobiliári­o (CPCI). Que reclama a criação de preços de referência para os materiais, a exemplo do que existe nos restantes países europeus, e que sejam “uniformeme­nte utilizados pelos donos de obra”.

Sem preços de referência, há, pelo menos, que estabelece­r o que é um valor anormalmen­te abaixo. Coisa que o novo Código dos Contratos Públicos (CCP) deixa ao critério dos donos de obra. A Câmara Municipal da Marinha Grande “é a primeira a fazê-lo”, estabelece­ndo o valor de 25% abaixo da média das propostas. “Quem estiver de boa-fé e com transparên­cia entende isto.” Reis Campos receia que o lançamento de concursos com “preços irrealista­s” sirva para abrir caminho” aos ajustes diretos. “O novo CCP surgiu precisamen­te para aumentar a transparên­cia e prevenir a corrupção.”

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