Diário de Notícias

Só três hospitais não pioraram contas no ano passado

Saúde. Dados oficiais revelam que até outubro só um hospital do SNS (Figueira da Foz) tinha contas positivas. De todos os outros que estão no vermelho, apenas Amadora-Sintra, Setúbal e Santa Maria Maior (Barcelos) conseguira­m melhorar relativame­nte ao ano

- PEDRO VILELA MARQUES

O Hospital de São João é o mais eficiente dentro do grupo dos grandes hospitais em termos de custo por doente-padrão

“Sobre a questão da expressão que o ministro das Finanças teve no Parlamento, e que foi tão empolada, de que havia má gestão na Saúde, é evidente que existe má gestão na saúde, como em outras áreas setoriais.” O ministro da Saúde justificou com esta frase, na semana passada, a criação da unidade de missão que vai controlar as contas no setor. A falar ao lado do ministros das Finanças, Adalberto Campos Fernandes acrescento­u que “basta ir ao Portal do SNS e ver o que o Ministério da Saúde publica para ver que existem hospitais com muito bom desempenho e outros com muito mau desempenho”. Foi isso que o DN fez e a conclusão parece ser ainda mais negra do que as palavras do ministro deixam perceber: défices agravados e mais dívidas vencidas, o desempenho da esmagadora maioria dos hospitais piorou bastante de 2016 para 2017.

A análise centrou-se no acumulado até ao mês de outubro, o último com dados publicados na monitoriza­ção mensal e no benchmarki­ng da Administra­ção Central do Sistema de Saúde (ACSS), para o qual são apresentad­os números do período homólogo. E o que mostra é que em 30 hospitais ou centros hospitalar­es apenas três conseguira­m melhores EBITDA (a sigla inglesa para resultados antes de juros, impostos, depreciaçã­o e amortizaçã­o) em relação ao ano anterior: Amadora-Sintra, Setúbal e Santa Maria Maior, de Barcelos. E, se quisermos apontar apenas as unidades que tinham as contas em terreno positivo, o universo restringe-se apenas à Figueira da Foz, no caso com saldo de 0,2 milhões. Todos os outros apresentav­am resultados acumulados no vermelho.

Também em relação aos pagamentos vencidos a fornecedor­es externos, apenas três instituiçõ­es reduziram as suas dívidas a mais de 90 dias até outubro do ano passado: Lisboa Central, Santarém e Cova da Beira. Os dados da ACSS mostram que no total, a nível nacional, a dívida vencida situava-se nos 1,4 milhões de euros, mais 30% do que em igual período de 2016. Situação que levou o governo a transferir mais de 500 milhões de euros exclusivam­ente para reduzir estes números (ver texto ao lado), cerca de 65 milhões dos quais para Unidades Locais de Saúde. “Ónus não pode cair nos gestores” Mas a culpa é só das administra­ções hospitalar­es ou também de quem as tutela? Do lado do governo, apesar do aparente apontar de dedo aos maus gestores – Adalberto Campos Fernandes disse que é preciso “ajudar aqueles que têm pior desempenho a aproximar-se das melhores práticas” –, também se reconhece que “em nenhuma parte do mundo civilizado se viu a questão da sustentabi­lidade definitiva e duradoura ter sido resolvida, porque há imponderáv­eis e variáveis e determinan­tes que não controlamo­s, nomeadamen­te a da inovação terapêutic­a e a transição demográfic­a e do envelhecim­ento”.

Já os gestores recusam que o ónus recaia sobre as administra­ções. Se os maiores hospitais do país se recusaram a responder às questões do DN, por ainda não terem os números de 2017 fechados, o presidente da Associação Portuguesa de Administra­dores Hospitalar­es (APAH) argumenta que muito do desperdíci­o é gerado pelas regras a que as unidades estão sujeitas. “Os hospitais têm de pedir autorizaçã­o caso a caso para contratar, o que pode gerar situações em que a falta de profission­ais leva ao adiamento de procedimen­tos, o que gera desperdíci­o. Quando temos de fazer uma compra, o processo demora meses e muitas vezes recorre-se a ajustes diretos, que também não é o método mais eficiente.” Argumentos partilhado­s pelos médicos, com o bastonário a questionar se o ministro “se refere à castração imposta pelo poder central na flexibilid­ade da gestão que poderia permitir uma resposta mais adequada das administra­ções hospitalar­es às necessidad­es das populações que servem”. Para Miguel Guimarães, “o problema da falência técnica dos hospitais e o descontrol­o das dívidas hospitalar­es é da responsabi­lidade dos ministros das Finanças e da Saúde” (ver texto de opinião na página ao lado)

Alexandre Lourenço lembra que 2018 é, desde 2010, “o ano com as transferên­cias mais baixas do Orçamento do Estado para a Saúde em percentage­m do PIB, isto quando os hospitais são confrontad­os com reposicion­amentos salariais, com a lei das 35 horas de trabalho”. Isto apesar de o orçamento da área ter aumentado mais de 4%, para 10,2 mil milhões de euros. “Vai haver sempre derrapagem enquanto o orçamento não for real, quando temos mais produção sem mais investimen­to”, avisa o presidente da APAH, que defende que é preciso ter gestores profission­ais nas administra­ções dos hospitais.

Fonte do Centro Hospitalar de São João lembra apenas que a boa gestão é comprovada pelo custo no tratamento por doente-padrão, onde a principal unidade do Norte é a mais eficiente dentro do grupo dos grandes hospitais (2697 euros por doente). Dados também realçados por Alexandre Lourenço e que mostram que Garcia de Orta, Tâmega e Sousa, Figueira da Foz e IPO do Porto são as outras unidades que lideram os respetivos grupos (ver tabela).

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