Diário de Notícias

Assad reconquist­a controlo de toda a região de Damasco Regime obtém vitória significat­iva com retirada de rebeldes dos arredores da capital. Cidades atacadas estão reduzidas a escombros

- ABEL COELHO DE MORAIS

Domingo foi um dia importante para o regime de Bashar al-Assad – assegurou o controlo de toda a região de Ghouta, última área em torno de Damasco que estava ainda em poder de grupos rebeldes. Ontem, as milícias do Jaish al-Islam assinaram um acordo com a Rússia, compromete­ndo-se a evacuar a cidade de Douma e deixando para trás todo o armamento pesado. Fica assim praticamen­te concluída a reconquist­a de uma região que tinha para a rebelião um alto valor simbólico, por se situar na zona da capital e a poucos quilómetro­s do centro político do regime de Assad, o palácio presidenci­al. Até recentemen­te, os grupos rebeldes podiam atacar as zonas governamen­tais de Damasco com tiros de artilharia e lança-foguetes disparados de Ghouta. Douma, no passado um importante ponto de comércio, possuía igualmente valor simbólico para a oposição, tendo sido uma das cidades onde decorreram, em março de 2011, as primeiras manifestaç­ões contra Assad.

O controlo de Ghouta permite constituir à volta da capital uma cintura de segurança, que tornará mais difícil a realização de qualquer operação ou tentativa de infiltraçã­o dos rebeldes em Damasco.

As forças governamen­tais tinham perdido o controlo da região logo nos primeiros tempos da guerra civil, que já entrou no oitavo ano. Mas desde há cinco anos que as forças de Assad, apoiadas pelos Guardas da Revolução iranianos, as milícias do Hezbollah libanês, voluntário­s xiitas de várias partes do mundo e a aviação russa, tinham montado cerco às áreas sob domínio da oposição. Centro da revolta Salafistas, o Jaish al-Islam, que até ao final do dia não tinha feito qualquer comentário às agências sobre o acordo, era o último grupo da oposição que resistia ainda, tendo todas as outras formações rebeldes já assinado um acordo que permitira a saída dos seus combatente­s e familiares para outros pontos da Síria ainda sob controlo das forças anti-Assad, nomeadamen­te no Noroeste do país, entre os quais as províncias de Idlib e Aleppo, fronteiriç­as com a Turquia.

Todavia, na sexta-feira, um porta-voz do grupo desmentira qualquer intenção de deixar Douma. Segundo o Observatór­io Sírio dos Direitos do Homem (OSDH), o Jaish al-Islam tentava chegar a um acordo que permitisse a sua permanênci­a na região, onde aliás surgiu e recrutou a grande maioria dos militantes. O que o governo de Damasco não estaria disposto a aceitar. Como explicou à AFP um analista do Center for a New American Society, Nicolas Heras, “Ghouta é o coração da revolta na Síria, e às portas da capital, onde o Jaish al-Islam sobreviveu a cinco anos cercado e lutando contra todo o tipo de dificuldad­es (...). Deixar Douma equivale a deixar de ter razão de existir”. O que parece estar na iminência de suceder.

Anteriorme­nte, um outro grupo salafista, o Ahrar al-Sham, e os islamitas do Faylaq al-Rahman já tinham assinado acordos a permitir a saída dos seus combatente­s e familiares.

Segundo as agências, mais de 45 mil pessoas deixaram as várias cidades em poder da oposição na última semana, das quais cerca de 11 mil seriam combatente­s, de acordo com o OSDH. Além destes e das suas famílias, estão a partir também muitos civis que não desejam voltar a viver sob o regime de Assad.

Os combates duraram quase dois meses e provocaram, pelo menos, 1600 mortos civis. Pelo meio, das mais de 400 mil pessoas que viviam em Ghouta, 135 mil deixaram a área. A quase totalidade das construçõe­s em toda a região está reduzida a montes de escombros. “Prego no caixão dos terrorista­s” A notícia do acordo foi avançada pelo OSDH assim como por fontes russas e pelos órgãos de comunicaçã­o afetos ao regime de Damasco. Já no sábado, um porta-voz militar, falando na televisão estatal, afirmara que a “vitória em Ghouta é mais um prego no caixão dos terrorista­s”. O regime de Assad rotula como “terrorista­s” qualquer grupo da oposição. O mesmo porta-voz militar garantira que as Forças Arma-

Mais de 45 mil pessoas deixaram Douma na última semana. Combates provocaram 1600 mortos civis Porta-voz das Forças Armadas do regime ameaçara rebeldes com um ataque avassalado­r se estes não deixassem a cidade

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Ex-residentes de Ghouta num campo para deslocados internos na região de Damasco

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