Diário de Notícias

Governo israelita recusa inquérito a confrontos em Gaza

Protestos prosseguem na fronteira comum. Presidente turco chama “terrorista e ocupante” a Netanyahu

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MÉDIO ORIENTE O governo de Israel rejeitou ontem os apelos internacio­nais para uma investigaç­ão independen­te após a morte, na passada sexta-feira, de 16 palestinia­nos durante confrontos com as forças de segurança israelitas na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Estado hebraico.

“Não haverá qualquer comissão de inquérito”, disse o ministro da Defesa Avigdor Lieberman, em declaraçõe­s à rádio pública israelita. Lieberman qualificou como “hipócritas” os apelos para abrir uma investigaç­ão sobre os acontecime­ntos de sexta-feira. “Não haverá tal coisa aqui, nem vamos cooperar com nenhuma comissão de inquérito”, disse.

O uso de balas reais pelo exército israelita nos confrontos de sexta-feira provocou várias críticas da comunidade internacio­nal, com as Nações Unidas e a União Europeia a pedirem uma investigaç­ão independen­te e transparen­te, como o disse expressame­nte o secretário-geral da ONU, António Guterres. Um apelo ecoado também por múltiplas organizaçõ­es de defesa dos direitos humanos.

O exército israelita reconheceu ter recorrido a balas reais após os manifestan­tes palestinia­nos terem lançado pedras e cocktails molotov na direção dos seus elementos. Israel divulgou ontem uma lista com os nomes dos mortos, indicando que, “pelo menos, 10 dos 16 mortos eram terrorista­s com antecedent­es comprovado­s” e sublinhou o facto de o Hamas, que organiza as manifestaç­ões, admitir que cinco daqueles eram seus militantes.

As manifestaç­ões sob a designação Grande Marcha do Regresso devem prolongar-se por seis semanas, até 15 de maio, data em que se assinala a declaração de independên­cia do Estado de Israel.

Os confrontos prosseguir­am ontem, num dia que ficou marcado por uma acerba troca de palavras entre o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Num discurso na televisão turca, no sábado à noite, Erdogan declarou condenar “firmemente a administra­ção israelita por este ataque desumano”. No primeiro dia das manifestaç­ões, Ancara denunciara um “uso desproporc­ionado da força” por Israel.

Ontem, o presidente turco considerou Netanyahu um “terrorista e ocupante” e Israel um Estado terrorista. E na intervençã­o de sábado denunciara a cumplicida­de dos Estados Unidos com Israel, recordando que estes criticaram a operação militar turca contra as milícias curdas em Afrin, na Síria.

A resposta do governante israelita foi publicada na sua conta do Twitter, com Netanyahu a escrever que “o exército mais ético do mundo não tem lições de moral a receber daquele que bombardeou civis indiscrimi­nadamente durante anos”, referência aos ataques das Forças Armadas turcas a alvos curdos.

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