Contenção nos jogos de guerra anuais de EUA e Coreia do Sul
Em vésperas de encontro entre os líderes norte-coreano e sul-coreano, exercícios militares terão menos demonstrações de força
Os exercícios militares da Coreia do Sul e dos EUA começam neste ano com um mês de atraso, por causa dos Jogos Olímpicos de Inverno que decorreram em PyeongChang. Apesar de, segundo o Pentágono, decorrerem “a uma escala semelhante à de anos anteriores”, os exercícios serão, todavia, mais contidos do que no passado graças ao aproximar das negociações entre ambos os países com a Coreia do Norte. No total, vão participar 300 mil militares sul-coreanos e 24 mil norte-americanos, mas não haverá, por exemplo, submarinos nucleares.
O líder norte-coreano, Kim Jong-un, que no passado criticou estes “jogos de guerra” à sua porta, considerando-os semelhantes a “despejar gasolina sobre o fogo”, terá desta vez dito que “entendia” que tinham de decorrer. Segundo os responsáveis sul-coreanos, que visitaramWashington no início de março, Kim terá também prometido “não levantar problemas”. Noutros anos, Pyongyang aproveitou os exercícios para testar alguns dos seus mísseis.
A cimeira entre o líder norte-coreano e o homólogo sul-coreano, Moon Jae-in, vai decorrer a 27 de abril. O terceiro encontro entre líderes de ambos os países (2000 e 2007) será em Panmunjom, na zona desmilitarizada, onde a 27 de julho de 1953 foi assinado o armistício (tecnicamente os dois países ainda estão em guerra). Não foi marcada a data para o encontro entre Kim e o presidente norte-americano, Donald Trump, mas deve ocorrer antes do final de maio. Na semana passada, o líder norte-coreano viajou para Pequim, onde se encontrou com o presidente chinês, Xi Jinping.
Os exercícios realizam-se desde 1997 sob o nome Foal Eagle (terra, mar e ar), passando a incluir desde 2008 simulações informáticas (com o nome de código Key Resolve). Os primeiros devem demorar quatro semanas (metade do que aconteceu em 2017), enquanto os segundos começam apenas a 23 de abril e devem prolongar-se por 15 dias. Nos últimos anos, os exercícios que tanto Seul como Washington alegam que são meramente defensivos, não havendo razão para Pyongyang os considerar uma provocação, incluem ainda testes contra ataques terroristas e químicos.
“É importante mostrar que estamos a voltar ao normal, que os atrasos foram uma aberração e não um precedente”, disse Michael Mazza, especialista em estudos de Defesa no Americana Entreprise Institute, ao TheWall Street Journal. Contudo, acrescentou, “numa altura em que há potencial progresso na crise na península, queremos ser cautelosos para não abanar o barco”. Os especialistas acreditam que não haverá exibições do poderio militar por parte dos EUA, a não ser que as negociações sejam canceladas.
A abertura para o diálogo surgiu depois de meses de tensão, durante os quais Trump e Kim trocaram insultos pessoais. O primeiro apelidou o segundo de “homenzinho dos foguetões” e ameaçou-o com o “fogo e a fúria” dos EUA. Kim respondeu chamando Trump de “caquético mentalmente perturbado” e ameaçando atingir com os seus mísseis o território norte-americano de Guam, no Pacífico. Após os Jogos Olímpicos de Inverno, que se realizaram na Coreia do Sul e nos quais participou uma delegação do Norte, Kim convidou Trump para uma reunião e o presidente norte-americano aceitou. Mas deixou claro que ia manter até lá a pressão de forma a isolar o regime norte-coreano, que dificilmente irá desistir das armas nucleares. Daí que, apesar de inédito, o encontro se possa traduzir em poucos avanços concretos.
Exercícios envolvem 300 mil militares sul-coreanos e 24 mil norte-americanos. No passado, Kim aproveitou para testar os seus mísseis