Diário de Notícias

Kami Rita, um sherpa a caminho da 22.ª subida ao Evereste

Desde 1994 que todos os anos sobe ao topo do mundo, guiando alpinistas que chegam dos quatro cantos do planeta. Já lá foi 21 vezes, um recorde que detém com outros dois sherpas. Ontem partiu para mais uma escalada

- FILOMENA NAVES

O nepalês Kami Rita é sherpa (guia de montanha nos Himalaias) desde 1994, primeiro ano em que conduziu em segurança um grupo de alpinistas até ao pico mais alto do mundo. Desde então, todos os anos por esta altura ele parte a caminho do topo do Evereste, à cabeça de mais uma expedição. Ontem, lá foi de novo, em direção ao campo-base, no vale de Khumbu, com o grupo de montanhist­as ocidentais e japoneses que neste ano lhe coube em sorte. Mas, desta vez, se tudo correr bem, como espera, Kami Rita baterá um recorde e tornar-se-á a primeira pessoa de sempre a chegar pela 22.ª vez ao pico do Evereste.

Na verdade, o experiente sherpa já é neste momento um recordista, juntamente com outros dois compatriot­as e companheir­os de profissão. Kami Rita, Phurba Tashi e Apa, todos eles sherpas, são os únicos três homens do mundo que já subiram 21 vezes até ao pico mais alto dos Himalaias. Kami, no entanto, tem agora a oportunida­de de se isolar, contabiliz­ando mais uma subida do que eles, uma vez que Phurba Tashi e Apa decidiram não prosseguir a sua atividade, como já anunciaram. Nenhum dos dois voltará a subir à montanha.

Para Kami, agora com 48 anos – tinha 24 quando conduziu a primeira expedição ao pico mais alto do mundo –, esta é agora uma caminhada a solo, por assim dizer. E ele não tenciona voltar-lhe as costas. “Estou feliz e entusiasma­do com esta possibilid­ade, posso fazer história e dar este orgulho a toda a comunidade sherpa e ao meu país”, disse Kami Rita, citado na imprensa internacio­nal. Mas, correndo tudo bem, fazendo ele história e tornando-se um recordista absoluto em subidas à montanha mais alta do mundo, Kami não tenciona reformar-se tão cedo da sua perigosa profissão.

“Vou continuar a subir ao Evereste mesmo que bata o recorde neste ano”, garantiu. “Sinto-me ainda muito em forma e quero continuar a escalar a montanha até aos 50 anos, quero fazer história e chegar às 25 subidas”, explicou, sorridente, o sherpa.

Kami Rita tornou-se guia por influência do pai, que o foi antes dele, após anos a fio nos trilhos da montanha apenas como carregador. Natural da aldeia de Thame, a nordeste de Katmandu, Kami acabou por seguir as pegadas paternas, tornando-se também carregador nas expedições dos montanhist­as que a região atrai. “Não tive uma boa escolarida­de e para poder sustentar a minha família tive de o fazer”, conta.

Na verdade, Kami cresceu a olhar para os guias e o seu prestígio, não só porque a sua terra natal é uma aldeia sherpa mas também porque Tenzing Norgay, o sherpa que subiu pela primeira vez ao pico do Evereste com o alpinista neozelandê­s Edmundo Hillary, em maio de 1953, era igualmente de Thame.

Subir ao Evereste como guia de uma expedição, algo que o seu pai nunca chegou a fazer, acabou por se tornar um objetivo, que conseguiu cumprir pela primeira vez em 1994. Desde então, todos os anos tem subido ao pico mais alto, tendo-o feito duas vezes nas épocas de 2008, de 2011 e de 2013.

Agora partiu uma vez mais, rumo ao seu recorde, liderando um grupo de 29 pessoas, entre alpinistas de várias nacionalid­ades, incluindo americanos e japoneses, e 17 carregador­es. O objetivo é o mesmo: chegar ao topo do mundo, a 8848 metros de altitude.

Durante as próximas semanas, o grupo vai manter-se no campo-base, para se aclimatar à altitude, e em meados de maio partirá, a caminho do cume, para uma jornada que dura pelo menos sete dias. Aos sherpas cabe o planeament­o de toda a rota e a escolha do melhor trilho. Por isso são eles quem vai na frente, a garantir a segurança de toda a equipa. Kami Rita vai fazê-lo agora pela 22.ª vez.

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Kami Rita tem 48 anos e diz sentir-se em forma para manter a atividade até aos 50. Mesmo que bata este recorde, vai continuar, garante
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