China retalia tarifas dos EUA e avisa para risco de guerra comercial
Pequim avisa que não foi declarada uma guerra comercial mas admite que já foram dados os primeiros tiros
RUI BARROSO A China contra-atacou. E sinalizou que após a salva inicial de sobretaxas aduaneiras está preparada para o que todos os investidores receiam: uma escalada nas tensões entre a China e os Estados Unidos que culmine numa guerra comercial entre os dois pesos-pesados que valem 40% da riqueza gerada anualmente no mundo. O receio é de que se evolua para uma crise que coloque a recuperação económica global em risco.
Trump impôs sobretaxas para a entrada de aço e alumínio chinês e prepara penalizações para dezenas de outros produtos chineses nos EUA, que vão afetar a importação de bens na ordem dos 60 mil milhões de dólares, segundo a imprensa americana. Pequim respondeu neste domingo com subidas de até 25% nas tarifas para 128 produtos americanos com efeito já a partir de ontem. No total, essas penalizações podem abranger importações de três mil milhões de dólares, segundo a Reuters. Foram antecipadas depois de os EUA não terem respondido a um pedido de negociação.
A Casa Branca tem defendido as restrições às importações chinesas por considerar que a China é “um inimigo económico” que tem tirado vantagens indevidas da relação comercial com os EUA. A maior economia do mundo tem um défice de 375 mil milhões de dólares na troca de bens com a segunda
Braço-de-ferro entre Trump e Xi Jinping sobre as relações comerciais está no início e pode agravar-se maior economia do mundo. Além disso, Trump tem acusado a China de roubar propriedade intelectual.
E se a retórica de Washington é forte, a do regime de Pequim consegue ser mais ameaçadora. O Global Times, jornal oficial do Partido Comunista, referiu no seu editorial que “apesar de China e EUA ainda não terem publicamente dito que estão numa guerra comercial, já há faíscas de uma guerra desse tipo”. O governo de Pequim voltou a instar os EUA a dialogar para se evitarem maiores danos.
O Fundo Monetário Internacional também tem deixado avisos a Trump. A diretora-geral Christine Lagarde disse em março que “se a perceção dos investidores mundiais é de que existe incerteza e que não se sabe para onde irão as tarifas e contra quem, então recuam e não investem”. E admitiu que o impacto poderia ser “significativo” e com consequências para a economia global.
Já Trump fez saber logo no início de março que não tinha receios. Escreveu no início de março no Twitter que as guerras comerciais são “boas” e “fáceis de ganhar”.
Mas nos mercados financeiros os investidores têm dado sinais de nervosismo sobre os impactos de uma guerra comercial. As bolsas dos EUA e da China perdem mais de 5% desde que Trump anunciou as medidas. E ainda não foi possível aferir a reação à resposta de Pequim, já que os principais mercados estiveram ontem encerrados.
Apesar do nervosismo sobre os danos causados pela escalada da tensão comercial na economia global, os analistas defendem que se as medidas se ficarem por aqui o impacto é ténue. “Vemos as medidas implementadas até agora como limitadas e com pouca probabilidade de fazer descarrilar o cenário benigno para a economia e para os mercados”, considera Richard Turnill, diretor-geral da BlackRock, numa nota a investidores. Mas o responsável da maior gestora adverte: “Desde que não se escale para uma guerra comercial que prejudique as perspetivas de crescimento global.”
Os economistas questionam-se sobre se Trump, à semelhança do que costumava fazer enquanto empresário, está a utilizar uma tática negocial musculada ou se quer obter uma vitória ideológica.
A equipa de análise económica do banco canadiano RBC Capital Markets aposta na primeira opção: “Pensamos que é muito improvável que Trump insista numa agenda contrária ao crescimento económico e aos mercados financeiros. Não é um ideólogo.”
Já Richard Turnill observa um padrão nas táticas negociais de Trump: “Anúncios fortes que assustam o mercado, seguidos de compromissos e de uma implementação mais reduzida.” Mas avisa que não são apenas os EUA a dispor de jogadas neste tabuleiro e admite que ficaria preocupado se visse a China, a maior financiadora dos EUA, a começar a desvalorizar o yuan ou a vender dívida americana.