520 anos de “obras corporais e espirituais”
Dar de comer a quem tem fome. Dar de beber a quem tem sede. Vestir os nus. Dar pousada aos peregrinos. Assistir aos enfermos. Visitar os presos. Enterrar os mortos. Eram estas as “sete obras corporais” do Compromisso original da Santa Casa da Misericórdia, quando foi fundada a 15 de agosto de 1498, ano em que Vasco da Gama chegou à Índia. Fundada pela intervenção da rainha Dona Leonor, viúva de D. João II, para fazer frente à afluência de pessoas à capital, à procura da sorte, a Irmandade de Invocação a Nossa Senhora da Misericórdia era a segurança social possível para as viúvas e órfãos dos mortos dos naufrágios e das batalhas das Descobertas.
O documento original do Compromisso, que tinha ainda as “sete obras espirituais” – a saber, dar bom conselho, ensinar os simples, castigar com caridade os que erram, consolar os que sofrem e entre outros –, ter-se-á perdido no terramoto de 1755. Inicialmente constituída por cem irmãos, a irmandade atuava junto dos pobres, dos presos, dos doentes e não havia falta de trabalho. Dinheiro, por outro lado, era outra história e no século XVIII a Mesa da Santa Casa da Misericórdia e Hospitais Reais de Enfermos requereu à rainha D. Maria I a criação da Lotaria Nacional como forma de financiamento. Foi um sucesso instantâneo, apesar da competição das lotarias ilegais. Quase dois séculos depois, em 1961, nasceu o Totobola e hoje os jogos sociais e o trabalho da Santa Casa são duas faces da mesma moeda.