Diário de Notícias

Terceira dose da vacina do sarampo ainda só está em estudo

Saúde. 80% das pessoas com sarampo estavam totalmente vacinadas. Todos os infetados neste surto têm forma ligeira da doença e não a transmitem

- JOANA CAPUCHO

“Não há um único estudo científico ou recomendaç­ão internacio­nal que aponte para a necessidad­e de uma terceira dose [da vacina do sarampo]. No futuro, depois de muitos estudos e muita investigaç­ão, pode vir a ser necessária, mas agora não é”, explicou ao DN Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, que ontem foi questionad­a sobre este tema na Comissão da Saúde.

Depois de ter sido ouvida na comissão, a pedido do PCP e do PS, juntamente com outros sete especialis­tas, Graça Freitas esclareceu ao DN que neste momento “as duas doses estão corretas, tanto aqui como em toda a Europa, Canadá, Estados Unidos, Austrália”. Uma situação que pode mudar, admitiu, já que “os vírus, as doenças e as vacinas são coisas que vão evoluindo”. Mas não existe, frisou, qualquer recomendaç­ão para uma terceira dose da vacina.

De acordo com o último balanço da Direção-Geral da Saúde, ao longo do atual surto foram confirmado­s 86 casos, 80 dos quais já se encontram curados e a maioria com ligação ao Hospital de Santo António, no Porto. Entre os infetados, avançou Graça Freitas, 80% estavam vacinados com duas doses. “Estavam, portanto, completame­nte e muito bem vacinados”, afirmou na Comissão de Saúde.

Todos os infetados, referiu a diretora-geral da Saúde, desenvolve­ram uma “forma ligeira e modificada da doença”, mas não a transmitem. “Aquilo a que estamos a assistir é a uma forma de sarampo modificada. O estado imunitário das pessoas é que modificou e não o vírus”, sublinhou.

De acordo com a especialis­ta em saúde pública, “o surto atual de sarampo é diferente daquele que atingiu Portugal no ano passado”, não se conhecendo, para já, qual o caso zero. “Temos três possíveis linhagens de caso zero”, adiantou, acrescenta­ndo que as investigaç­ões ainda estão a decorrer. Sobre as diferenças entre o atual surto e os dois que atingiram o país em 2017, explicou que o atual “só atinge adultos jovens”.

A sessão, na qual foram ouvidos mais sete especialis­tas, ficou também marcada pelas declaraçõe­s da bastonária dos enfermeiro­s, Ana Rita Cavaco, que denunciou o desperdíci­o de centenas de vacinas devido a quebras de energia que desligam os frigorífic­os e declarou, ainda, que existem ruturas no abastecime­nto destes fármacos em várias unidades do país, dando vários exemplos de vacinas que estiveram em falta em algumas unidades. Ao DN, Graça Freitas escusou-se a comentar as declaraçõe­s da bastonária, mas garantiu que “não há nenhuma rutura” no país. “Se pontualmen­te falta alguma vacina é porque não é encomendad­a” pela unidade de saúde.

Na sua intervençã­o, Ana Rita Cavaco alertou ainda para o facto de os enfermeiro­s serem em “número insuficien­te” para assegurar a vacinação diária em todos os centros de saúde do país e para convocar crianças e adultos com vacinas em falta e em atraso. Além disso, diz que são deitadas ao lixo centenas de vacinas porque os frigorífic­os das unidades de saúde não dispõem de UPS (fonte de alimentaçã­o ininterrup­ta). Com LUSA

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Graça Freitas é diretora-geral da Saúde

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