Diário de Notícias

Britânicos não conseguem provar origem do veneno

Caso Skripal. Laboratóri­o militar confirma que o veneno é novichok, mas não tem como determinar procedênci­a. Governo de Theresa May insiste: não há outra explicação plausível

- CÉSAR AVÓ

O diretor do laboratóri­o que procedeu à análise do químico usado no envenename­nto do antigo agente duplo Sergei Skripal revelou que não foi possível determinar a origem do agente nervoso, mas também explicou que essa não é uma competênci­a do laboratóri­o militar de Porton Down. Declaraçõe­s que não desmentem as acusações do governo britânico sobre a responsabi­lidade de Moscovo no caso, mas que também não lhe fornecem as provas para uma condenação.

“É da nossa competênci­a fornecer provas científica­s de que agente neurotóxic­o se trata em específico. Identificá­mos que pertence a esta família [novichok] e que é de uso militar, mas não nos cabe dizer onde foi fabricado”, afirmou Gary Aitkenhead à Sky News. “Não determinám­os a sua origem precisa, mas entregámos a informação científica ao governo, que depois recorreu a outras fontes”, disse ainda o diretor do laboratóri­o. “A prova científica é apenas uma dessas fontes.”

Aitkenhead eliminou a hipótese de que aquele agente nervoso possa ter sido fabricado de forma caseira ou nalgum outro laboratóri­o. Só pode ter sido produzido por um Estado, uma vez que exige “métodos extremamen­te sofisticad­os”. E negou que a origem possa ser Porton Down, como o embaixador russo em Londres, Alexander Yakovenko, chegou a insinuar em conferênci­a de imprensa.

No dia 4 de março, o ex-espião russo Sergei Skripal, e a filha Iulia foram encontrado­s inconscien­tes num banco de jardim perto de um centro comercial em Salisbury, no Sul de Inglaterra. Expostos a um gás neurotóxic­o, foram hospitaliz­ados em estado grave. Se o pai se mantém no mesmo estado, mas estável, a filha já está consciente. O primeiro polícia a prestar assistênci­a aos Skripal esteve hospitaliz­ado durante duas semanas.

O governo liderado por Theresa May minimizou a importânci­a das declaraçõe­s de Gary Aitkenhead e voltou a atacar Moscovo. “Isto é apenas uma parte da imagem dos serviços de informaçõe­s. Como a primeira-ministra começou por declarar no dia 12 de março na Câmara dos Comuns, é do nosso conhecimen­to que, na última década, a Rússia desenvolve­u formas de utilizar agentes nervosos, provavelme­nte para assassínio­s – e como parte deste programa pro- duziu e armazenou pequenas quantidade­s de novichok”, disse um portavoz de Downing Street. “É nossa avaliação que a Rússia foi responsáve­l por este ato desavergon­hado e imprudente e, como a comunidade internacio­nal concorda, não há outra explicação plausível”, concluiu.

A Rússia não esperou para responder. E logo pelo presidente. Em conferênci­a de imprensa em Ancara, ao lado de Recep Tayyip Erdogan, Vladimir Putin disse que há cerca de 20 países onde aquele tipo de agentes neurotóxic­os foram produzidos.

Putin também se declarou surpreendi­do com o ritmo com que foi desencadea­da a “campanha antirrussa” desde o momento em que o Reino Unido acusou Moscovo de ser responsáve­l pelo ataque a Sergei Skripal.

O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, disse aos jornalista­s que a teoria britânica sobre quem envenenou Skripal “não será confirmada, de qualquer maneira”.

A Organizaçã­o para a Proibição das Armas Químicas reúne-se hoje na sede da organizaçã­o, em Haia, a pedido da Rússia.

Ontem, além das reações britânicas e russas, também surgiu uma da Alemanha. O conservado­r Armin Laschet, ministro-presidente do estado da Renânia do Norte-Vestfália, criticou Londres. “Quando se força a solidaried­ade de quase todos os países da NATO, não se deve ter algumas provas? Independen­temente do que se pensa sobre a Rússia, os meus estudos de Direito Internacio­nal ensinaram-me uma maneira diferente de lidar com outros países”, escreveu no Twitter.

“Se houver provas que impliquem um Estado, o governo responderá de forma apropriada e robusta (...) A Rússia é em muitos aspetos uma força maligna e disruptiva” BORIS JOHNSON 6/3

“Parece que o argumento de uma nova campanha antirrussa já está escrito” EMBAIXADA RUSSA EM LONDRES 6/3

“Ou foi uma ação direta do Estado russo contra o nosso país ou o governo russo perdeu o controlo do agente nervoso e permitiu que caísse nas mãos de outros” THERESA MAY 12/3

“Pode ter sido benéfico para o governo britânico, em posição delicada após ter falhado as promessas sobre o brexit” SERGEI LAVROV 2/4

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