“Temos de acabar com esta cultura da greve”
França. Perturbações nas ligações ferroviárias de França. Porta-voz do partido do presidente Emmanuel Macron pede fim de protestos
A terça-feira negra marcou ontem o arranque de três meses de greves dos trabalhadores dos caminhos de ferro franceses. Em causa a luta contra as reformas que o governo do presidente Emmanuel Macron quer levar a cabo na empresa superendividada SNCF, que regista perdas anuais na ordem dos três mil milhões de euros. O chefe do Estado está apostado em ganhar um braço-de-ferro que no passado (lembre-se o caso de Alain Juppé) outros líderes franceses não conseguiram vencer. O primeiro-ministro Édouard Philippe garantiu que as reformas não são “para privatizar a SNCF, mas para sair de um statu quo insustentável”. E o porta-voz do La République en Marche!, o partido de Macron, deixou um aviso aos grevistas: “Temos de acabar com a cultura da greve”, declarou Gabriel Attal.
A verdade é que a vaga de greves não se fica só pelos caminhos-de-ferro, em que a adesão foi de 33,9%, segundo a própria SNCF. Em protesto estão também trabalhadores dos setores da recolha de lixo, da eletricidade e do gás, os da Air France e os estudantes do ensino secundário e universitário. Um em cada dois maquinistas fizeram greve, provocando perturbações nas ligações ferroviárias para a cidade de Paris e nas linhas de alta velocidade do TGV entre França e outros países. O governo quer um acordo sobre a redução dos privilégios dos trabalhadores dos caminhos-de-ferro, como por exemplo a reforma antecipada, antes de definir a percentagem da dívida da SNCF que o Tesouro francês pode absorver. Segundo Guillaume Pepy, presidente da empresa, cada dia de greve custará cerca de 20 milhões de euros. Até ao dia 28 de junho estão previstas 36 greves.
Entre os passageiros, um misto de simpatia e de frustração. “Eu começo a trabalhar às 13.00. Sabe a que horas tive de me levantar? Às cinco da manhã. Três meses assim vai ser muito complicado”, disse à AFP Jean Nahavua, gerente de uma empresa de venda a retalho que vive em Lillle e trabalha em Paris. Na capital francesa, na Gare de Lyon, as plataformas estavam tão cheias que uma mulher caiu para a linha e teve de ser resgatada por outros passageiros que ali esperavam.
Também na companhia aérea Air France ontem foi dia de greve. É a quarta desde 22 de fevereiro e a quinta será no próximo sábado. Onze sindicatos exigem aumentos salariais e consideram insatisfatória a política salarial da empresa face aos seus bons resultados em 2017. A Air France cancelou assim 25% dos seus voos previstos para ontem, dois dos quais em Portugal. Estudantes do ensino secundário e universitário também fizeram ontem greve e acusaram o governo de instaurar um sistema de seleção no acesso ao ensino superior. Houve manifestações em várias cidades de França e em Paris uma marcha de apoio aos trabalhadores da SNCF ficou marcada por alguns confrontos entre manifestantes e polícia. As forças de segurança tiveram de usar gás lacrimogéneo quando os manifestantes tentaram forçar o cordão de segurança ali montado.