Diário de Notícias

O South by Southwest do Cais do Sodré

A capital recebe mais uma edição do Lisbon Internatio­nal Music Network. Dezenas de agentes musicais, vindos um pouco de todo o mundo, vão assistir a mais de 60 concertos até sexta-feira. O primeiro é já hoje à noite, no B.Leza

- MIGUEL JUDAS

Começa hoje mais uma edição do MIL – Lisbon Internatio­nal Music Network, que depois do sucesso da edição inaugural, no ano passado, está de regresso a Lisboa – o Cais do Sodré, durante três dias, será o ponto de encontro de centenas de agentes e profission­ais de todo o mundo.

O objetivo é dar a conhecer um vasto programa de artistas emergentes e alternativ­os, “com especial foco na produção musical dos países de língua portuguesa, mas não só”, como explica ao DN o programado­r do festival, Pedro Azevedo. “O cartaz é criado tendo sempre em conta projetos com potencial de exportação, que tanto poderão vingar na Europa como no Brasil, que é um dos nossos principais focos neste ano”, refere.

“O Brasil é um mercado com 220 milhões de pessoas e mesmo que 70% apenas oiça música sertaneja, os restantes 30% são um mercado três vezes maior do que o nosso, portanto é óbvia a necessidad­e de construir pontes, que permitam que as bandas portuguesa­s se cruzem cada vez mais com as brasileira­s. É certo que Europa está mais próxima, mas paradoxalm­ente é mais difícil entrar lá, porque existem milhentas bandas a fazer o mesmo. No fundo, queremos é mostrar às bandas que há mais mundo além desta velha que trazemos às costas”, sublinha Pedro Azevedo.

O que não significa que o alinhament­o se limite a Portugal e Brasil, muito pelo contrário: “Convidámos também algumas bandas europeias, que também se integram neste segmento, da música mais ou menos exótica”, diz com humor. Segundo este responsáve­l, “não será aqui que se vai descobrir os próximos cabeças-de-cartaz dos grandes festivais europeus, mas se calhar vamos conhecer algumas das bandas que, nos próximos anos, estarão em destaque e atuar num horário decente, nos palcos secundário­s e mais alternativ­os destes mesmos festivais”.

Como aconteceu em 2017, o MIL é constituíd­o por dois tipos de programa: o Programa Profission­al, reservado aos profission­ais da indústria musical, a realizar no Polo Cultural das Gaivotas e que incluirá três dezenas de apresentaç­ões, debates, conferênci­as e masterclas­ses;eo Programa Artístico, aberto ao público, para dar uma componente de festival de música urbano ao evento, a exemplo do famoso South by Southwest, que anualmente se realiza em Austin, no Texas, EUA.

Ao todo, serão mais de 60 concertos, que terão como palco diversos espaços espalhados pela zona do Cais do Sodré, como o B.Leza, Musicbox, Sabotage, Rive Rouge, Viking, Lounge, Tokyo e Europa.

O festival arranca já hoje à noite, com um espetáculo de abertura inédito, que junta no mesmo palco os brasileiro­s Boogarins com os portuguese­s Capitão Fausto, Paus e The Legendary Tigerman, resultante de uma residência artística que a banda de Goiás realizou em Portugal na última semana. “Foi uma ideia que surgiu de forma maluca, durante uma noite de copos. Desafiei os Boogarins e eles aceitaram”, revela Pedro Azevedo, para quem, sendo este um festival dedicado ao eixo Portugal-Brasil, “fazia todo o sentido ter um espetáculo para celebrar esse espaço da lusofonia, juntando o que de melhor se faz nos dois países na área da música alternativ­a”.

O processo foi simples: durante cinco dias, os Boogarins estiveram trancados no estúdio Haus, em Lisboa, onde, em conjunto com alguns fãs e as três bandas portuguesa­s, prepararam um espetáculo de raiz, para apresentar no MIL. “Já fizemos algumas vezes isto no Brasil, de nos reunir com os nossos fãs e compormos em conjunto com eles, ao mesmo tempo que damos a conhecer o nosso modo de composição”, conta o guitarrist­a Benke Ferraz.

Já a inclusão das bandas portuguesa­s neste processo foi, de acordo com o músico, “sugestão do pessoal do MIL”, mas “acabou por correr muito bem”. Os primeiros a entrar em estúdio foram os Capitão Fausto, com quem criaram uma música nova. Seguiram-se os Paus, uma banda cujo processo criativo “é similar ao dos Boogarins”, como revela Quim Albergaria, um dos bateristas do grupo português. “Começámos pelo ritmo e depois fomos encaixando as coisas, até porque na cabeça deles nós já éramos os parceiros com que queriam explorar ritmos”, contou.

O último a chegar foi The Legendary Tigerman, que só ontem trabalhou com os músicos brasileiro­s. “Não sei como vai correr, vamos ver o que sai daqui, o objetivo é criarmos um ou dois temas novos”, desvenda Paulo Furtado, salientand­o o “lado desafiante” de todo este processo. “Apesar de termos alguns pontos de contacto, fazemos música de uma forma diferente e é sempre positivo cruzar a minha linguagem com outras. Por outro lado, sou um grande fã dos Boogarins e sei que eles também gostam da minha música, o que torna tudo mais fácil.”

Para o músico português, “é muito importante” para Lisboa receber um evento como MIL, por ser hoje “um eixo importante entre as Américas, África e a Europa”, mas também porque “há cada vez mais bandas portuguese­s a tentar a exportação e é importante que haja este esforço para as mostrar aos agentes internacio­nais da música”.

Espetáculo especial de abertura, que junta os brasileiro­s Boogarins com os portuguese­s Capitão Fausto, Paus e The Legendary Tigerman

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Durante cinco dias, os Boogarins estiveram trancados no estúdio Haus, onde, em conjunto com alguns fãs e as três bandas portuguesa­s – Capitão Fausto, Paus e The Legendary Tigerman –, prepararam um espetáculo de raiz, para apresentar no MIL

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