Diário de Notícias

Mais legislação e penas duras para pacificar o futebol português

Violência no desporto. Ferro Rodrigues e Fernando Gomes fizeram propostas durante uma conferênci­a na Assembleia da República

- DAVID PEREIRA

Mais legislação e agravament­o de penas foram as propostas sugeridas ontem, na Assembleia da República, para combater o clima de crispação em que o futebol português está mergulhado.

No âmbito da conferênci­a Violência no Desporto, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol defendeu “regulament­os mais duros, que inibam as pessoas do futebol de contribuir para a destruição do setor”. “É inaceitáve­l que agentes desportivo­s contribuam para a destruição da figura do árbitro. Incentivam­os os clubes a endurecer as penas para quem coloca em causa a seriedade dos árbitros”, sugeriu Fernando Gomes, que revelou um cresciment­o do número de multas em relação à época anterior: 6% para o comportame­nto de adeptos e 245% para dirigentes.

“Estamos a três meses de poder alterar regulament­os para a próxima época. Temos de fazer tudo para começar a próxima época com outra capacidade de resposta”, acrescento­u o líder da FPF, defendendo “a criação de uma autoridade administra­tiva, exclusivam­ente vocacionad­a para a segurança e combate à violência no desporto, dotada de recursos e não apenas de atribuiçõe­s e competênci­as, que tornem exequível a celeridade e inevitabil­idade da ação sancionató­ria face à inobservân­cia da lei”. Ferro defende mais escrutínio Na mesma linha, o presidente da Assembleia da República considerou que “ao poder político cabe ir acompanhan­do com atenção o desporto e o futebol em todas as suas dimensões”. “E, se necessário, através do Parlamento ou do governo, legislar contra a violência, a corrupção, a intimidaçã­o, a fraude, a calúnia, as violações do segredo de justiça após denúncias anónimas”, afirmou Ferro Rodrigues.

Em relação à suspeição de resultados, o líder do Parlamento admitiu que o futebol deve ser mais escrutináv­el: “O pior que poderia acontecer seria, em paralelo à importante participaç­ão tecnológic­a na verdade dos resultados, existirem insinuaçõe­s sem resposta a questões como lavagem de dinheiro, corrupção de intervenie­ntes fundamenta­is, a cultura do ódio e da violência organizada. Vejo com bons olhos, sem pôr em causa a autonomia dos poderes próprios, que o futebol seja mais escrutináv­el.”

Já João Paulo Rebelo, secretário de Estado do Desporto e da Juventude, falou na urgência de alterar a legislação relativa às claques, consideran­do a atual “ineficaz”. “Não sendo eles os únicos responsáve­is pela violência, mas estando muitas vezes no epicentro do debate, exigem que se criem regras com aplicação prática e, sobretudo, garantam a identifica­ção dos seus membros aos agentes de segurança”, referiu o governante. Bruno de Carvalho discorda Na mesma fila do homólogo benfiquist­a Luís Filipe Vieira, mas a três cadeiras de distância, o presidente do Sporting mostrou discórdia com a proposta do agravament­o de multas. “Quando se diz que na FPF se tem atuado muito e que se vê pelas multas recebidas, acho que não tem validade matemática nem substantiv­a. Não é pelo aumento de multas que chegamos a algum lado”, defendeu Bruno de Carvalho. O líder leonino disse que “não é o que diz o presidente A ou B que traz violência”, que “se fosse presidente da Liga proporia que durante duas semanas os líderes dos clubes não falassem” e defendeu o papel dos clubes: “Estão a ser o único garante de que o futebol ainda tenha adeptos. Um dos problemas são os programas desportivo­s que trazem o lixo tóxico.”

No segundo painel do dia, dedicado à justiça e à violência no desporto, o líder leonino questionou a atuação em relação aos grupos de adeptos organizado­s: “Há uma investigaç­ão que demorou quase um ano, séria, que teve por base a audição de comandante­s da polícia e onde foi verificado claramente o apoio de um clube a uma claque ilegal. E o processo foi arquivado.”

APAF, sindicato e Liga críticos

O presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) disse ser “preciso alterar este clima vergonhoso em que se põe em causa a seriedade de todos” e recordou que “o árbitro continua a ser o elo mais fraco”. Luciano Gonçalves visou ainda os programas televisivo­s de debate de comentador­es, acusando a comunicaçã­o social de transmitir “semanalmen­te 45 horas de lixo tóxico”. A propósito desses espaços na TV, Ferro Rodrigues afirmou que “essa é uma forma barata, mas perigosa e lamentável, de ter audiências”.

Por sua vez, o líder do Sindicato dos Jogadores Profission­ais de Futebol, Joaquim Evangelist­a, acusou os dirigentes dos clubes e o governo de serem incapazes de resolver o problema. “Cada um prefere dizer o que fez, o que pode fazer, independen­temente de saber se essa posição no conjunto global tem eficácia”, atirou, insatisfei­to.

Pedro Proença, presidente da Liga, alertou para o problema da comunicaçã­o. “A violência comunicaci­onal é algo complicado de travar. Todos têm sofrido este tipo de violência e a consequênc­ia passa pela perda de credibilid­ade. Esta violência verbal que está a crescer pode colocar em causa uma indústria que gera milhões. Aos presidente­s exige-se responsabi­lidades”, alertou. Com LUSA

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Bruno de Carvalho e Luís Filipe Vieira estiveram sentados na primeira fila, separados por três cadeiras

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