Diário de Notícias

Proposta para contratos individuai­s exclui milhares

Função Pública. Sindicatos dizem que proposta do governo para descongela­mento das carreiras deixa de fora muitos trabalhado­res

- LUCÍLIA TIAGO

O governo apresentou ontem a primeira proposta para descongela­r as progressõe­s dos trabalhado­res do setor público empresaria­l e de entidades reguladora­s e de supervisão com contrato individual de trabalho (CIT), mas os sindicatos avisam que, tal como está redigido, o projeto deixa de fora milhares de pessoas, pois faz depender as valorizaçõ­es remunerató­rias da existência de regulament­os internos dos serviços ou do contrato de trabalho.

“O que esperávamo­s era que se aplicassem os mesmos moldes de descongela­mento e de progressão aos trabalhado­res que têm contrato individual de trabalho, mas a proposta fica muito aquém”, precisou o secretário-geral da Federação dos Sindicatos da Administra­ção Pública (FESAP), no final de uma reunião com a secretária de Estado da Administra­ção e do Emprego Público. Para José Abraão, a proposta em causa (que depois de finalizada será vertida no decreto-lei de execução orçamental) “dá para tudo e não dá para nada”.

Uma leitura idêntica à que faz Helena Rodrigues, presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado. “Tal como está a norma, como é que estas pessoas progridem? Progridem como e para onde?”, questionou Helena Rodrigues, apontando para as situações em que não exista regulament­o interno ou um contrato que estipule expressame­nte as progressõe­s.

No caso dos funcionári­os públicos com contrato de trabalho em funções públicas, a forma e os moldes do descongela­mento das carreiras ficou definida no Orçamento do Estado. E o mesmo se passa com os trabalhado­res do setor empresaria­l abrangidos por instrument­os de regulament­ação coletiva de trabalho. Para completar este processo de descongela­mento faltava encontrar uma solução para os trabalhado­res de pessoas coletivas de direito público dotadas de independên­cia, decorrente da sua integração nas áreas de supervisão, regulação ou controlo, e das empresas do setor público empresaria­l (incluindo hospitais EPE).

O problema, alertam os dirigentes sindicais, é que o texto da proposta começa por referir apenas que “são permitidas” as valorizaçõ­es remunerató­rias – em vez de determinar que assim é – para de seguida fazer depender o processo das “alterações obrigatóri­as que decorram de regulament­os internos vigentes e dos respetivos contratos de trabalho”. “A expressão ‘são permitidas’ pode travar tudo”, considera José Abraão, exemplific­ando que bastará à entidade alegar falta de orçamento para travar as progressõe­s.

Os sindicatos regressam ao Ministério das Finanças, para nova ronda negocial, no dia 24 deste mês, mas terão de fazer chegar o seu parecer até dia 11. E vão aproveitar para sublinhar a necessidad­e de não deixar nenhum CIT de fora.

No encontro de ontem, Fátima Fonseca fez um novo balanço do descongela­mento, adiantando que mais de 90 mil funcionári­os públicos chegaram ao final do primeiro trimestre já com o pagamento do acréscimo remunerató­rio a que têm direito. Deste total, cerca de 66 mil progredira­m com base nos pontos acumulados pelo sistema de avaliação de desempenho e 22 mil com base no tempo.

Ontem, o ministro Vieira da Silva admitiu no Parlamento que as limitações aos contratos a prazo que estão a ser discutidas para o setor privado vão ser estendidas à função pública, nomeadamen­te às carreiras gerais, mas esta formulação não agrada aos sindicatos.

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