Diário de Notícias

“O teto da capela caiu e trouxe os candeeiros atrás”

Gondelim. A missa de Quarta-Feira de Cinzas ainda não tinha acabado na aldeia de Gondelim quando se ouviram dois estrondos. Um profission­al da empresa Pyrocantan­hede morreu

- RUTE COELHO

O Presidente da República visitou os feridos no hospital de Coimbra. A Polícia Judiciária já está a investigar o caso

A capela de Gondelim, em Penacova, estava cheia com os filhos da terra, alguns deles emigrantes, para a missa de Quarta-Feira de Cinzas, o primeiro evento de uma semana importante, a da Pascoela. Ainda se estava na missa quando se ouviu uma “primeira explosão”. Depois veio “uma segunda, mais intensa”, e elevou-se uma “nuvem de fumo muito grande”. A explosão deu-se ao lado da capela, onde devia decorrer o espetáculo de fogo-de-artifício, no recinto de festas, na saída da procissão.

O acidente resultou num morto – o funcionári­o da empresa Pyrocantan­hede – e em 24 feridos, cinco em estado grave. “Entre os feridos havia alguns músicos de uma banda filarmónic­a do concelho de Arganil que iam animar a festa”, contou o comandante dos bombeiros. Houve ainda cinco crianças com ferimentos ligeiros.

Artur Simão, habitante de Gondelim, estava no local e conta que “depois da explosão foi muita contor fusão, gritos por todo o lado”. Os bombeiros também encontrara­m “um ambiente de pânico”. A capela, depois de o teto ter caído e com ele os enormes candeeiros, ficou em ruínas.

Entre a “muita confusão e gritos”, Artur Simão contou “15 minutos” entre o acidente e a chegada da primeira equipa de socorro, isto porque foi preciso mobilizar várias ambulância­s de corpos de bombeiros de povoações vizinhas. “Ao todo, acorreram ao local 36 veículos e 70 elementos, incluindo o pessoal do INEM”, adiantou o comandante dos bombeiros locais. A violência da explosão provocou também danos em algumas casas próximas, uma delas “foi danificada no telhado e nas janelas. E a capela só não ruiu por completo porque as paredes, antigas e grossas, têm uma espessura grande.” As razões da explosão estão a ser averiguada­s pela Polícia Judiciária e pelo Departamen­to de Armas e Explosivos da PSP, mas o DN soube junto de fonte da empresa Pyrocantan­hede, que foi contratada para a festa, que o dire- da mesma estava com a PSP no local para a recolha de indícios. Falta de formação Victor Machado, membro da direção da ANEPE (Associação Nacional de Empresas de Produtos Explosivos) e um dos sócios do grupo Luso Pirotecnia, critica, no geral, “a falta de formação no setor”. Explica que neste momento “basta uma empresa de pirotecnia dizer que o funcionári­o está habilitado para este manusear explosivos”. Ainda não há dados para perceber se era esse o caso com o técnico que morreu em Gondelim, da empresa Pyrocantan­hede. Esta empresa funciona desde 1952, em Póvoa do Bispo, Cantanhede.

“A formação não devia ser dada pela PSP, que fiscaliza o setor, mas pela indústria, e ser comum a todos”, defende Victor Machado, criticando também que “não haja uma cobertura mínima de seguro para eventos deste género como há no ramo automóvel. Por exemplo, na Luso Pirotecnia temos um seguro de 2,5 milhões de euros para eventos, mas em festas mais pequenas aceitam seguros de 20 mil euros”.

A tragédia fez deslocar a Coimbra o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que vinha de uma visita à prisão de Matosinhos. Há exatamente um ano, no grande acidente em Lamego, onde morreram oito pessoas, também esteve presente. Marcelo Rebelo de Sousa visitou os feridos que estão internados em três hospitais de Coimbra. E desejou-lhes um “franco restabelec­imento”.

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Capela de Nossa Senhora da Moita, onde ocorreu a explosão que provocou ontem um morto e 24 feridos
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