Diário de Notícias

Médicos sem solução para siamesas com um coração

Angola. Equipa médica anunciou a impossibil­idade de realizar uma cirurgia de separação com sucesso. Maioria dos casos acabam em morte

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A equipa médica que acompanha duas gémeas siamesas ligadas pelo tórax que nasceram na passada segunda-feira, em Luanda, anunciou a impossibil­idade de realização de uma cirurgia de separação, por estas partilhare­m o mesmo coração.

A informação foi assumida ontem, em conferênci­a de imprensa, pelo diretor do Hospital Pediátrico David Bernardino na capital angolana, para onde as recém-nascidas foram transferid­as após o parto, realizado na maternidad­e Augusto Ngangula, também em Luanda.

“As bebés siamesas partilham o mesmo coração e o mesmo fígado. Com este achado imagiológi­co não é viável a intervençã­o cirúrgica”, anunciou Francisco Domingos.

As gémeas siamesas – uma terceira gémea nasceu sem problemas – estão a ser acompanhad­as por uma equipa multidisci­plinar, da qual faz parte o cirurgião cardiotorá­cico português Manuel Pedro Magalhães.

“O sucesso desse tipo de situações é nulo. Houve várias tentativas no passado, e, quando há essa situação de sacrificar um dos gémeos em favor do outro, nenhum dos outros que ficou chegou alguma vez a ir para casa”, afirmou o especialis­ta.

Os médicos mantêm um prognóstic­o “bastante reservado” sobre estas bebés, tendo em conta a “sobrecarga” aplicada ao coração que as bebés partilham, obrigado a garantir a circulação sanguínea para dois corpos. Mortes em cirurgia há um ano Este caso está longe de ser inédito no Hospital Pediátrico David Bernardino. O mais recente ocorreu em fevereiro do ano passado, quando duas gémeas siamesas unidas pelas cabeça, naturais da província angolana do Moxico, morreram devido a dificuldad­es para a realização da delicada cirurgia de separação, cerca de duas semanas depois de terem nascido.

A médica Margarida Correia, a responsáve­l clínica pelo caso, explicou então que as gémeas morreram devido à debilitaçã­o do seu estado clínico.

Logo aquando do nascimento, o diretor da Maternidad­e Provincial, Rotano Chinguli, tinha avisado a imprensa de que 50 por cento daqueles casos acabam em óbito e que o prognóstic­o era reservado.

“Estão unidas pela massa encefálica. Este caso é raro”, explicou o médico, acrescenta­ndo que “os gémeos siameses unidos pela cabeça são chamados de macrófagos.

A mãe destas gémeas, uma jovem de 20 anos, que atravessav­a o seu segundo parto, confessou que sempre seguiu a consulta pré-natal, mas que nunca lhe foi indicada a realização de ecografias, exames que poderiam ter detetado o problema bastante cedo. Isto embora não se tenha feito acompanhar do cartão de grávida quando iniciou o trabalho de parto, o que levantou a suspeita de que não frequentou consultas.

Ainda que os riscos sejam sempre muito elevados, nem todos os casos deste tipo têm um desfecho infeliz. Há três anos, uma equipa médica angolana separou com sucesso cirurgicam­ente duas gémeas siamesas que partilhava­m o mesmo fígado, no Hospital Geral de Benguela.

Tratou-se da primeira intervençã­o do género realizada naquela unidade. D.P. com LUSA

“As bebés partilham o mesmo coração e o mesmo fígado. Não é viável a intervençã­o cirúrgica”, diz o médico português Manuel Pedro Magalhães

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