Boris Johnson e Jeremy Corbyn atacam-se, Putin quer bom senso
Oposição trabalhista ataca ministro por ter “enganado” o público. Conselho de Segurança da ONU debate o tema hoje
CASO SKRIPAL O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, encontra-se numa situação delicada após o ministério que dirige ter apagado um tweet no qual atribuía a responsabilidade do envenenamento do antigo espião Sergei Skripal aos russos. O líder da oposição atacou o ministro pelas “inconsistências”. Um mês depois do ataque, Vladimir Putin apela para o bom senso.
“Análises realizadas pelos especialistas mundiais do Laboratório de Defesa, Ciência e Tecnologia de Porton Down revelaram que isto foi um agente nervoso de uso militar produzido na Rússia”, lia-se na mensagem datada de 22 de março e agora apagada. Também através do Twitter, a embaixada russa perguntou por que motivo a mensagem foi apagada.
Ao Huffington Post, o ministério britânico explicou que o tweet “fez parte de um relato em tempo real de um discurso do embaixador do Reino Unido em Moscovo” e foi apagado porque “não relatou com precisão as palavras” do diplomata. No entanto, o ministério repetiu a ideia de que “a Rússia foi responsável por este ato desavergonhado e imprudente”, até porque “nenhum outro país tem uma combinação da capacidade, intenção e motivo para realizar tal ato”.
Mas o facto de terem apagado a mensagem horas após o diretor do laboratório militar, Gary Aitkenhead, ter esclarecido que é impossível determinar a origem do agente nervoso, levou a que não fossem apenas os russos a questionar a estratégia do mayor de Londres.
“Boris Johnson precisa de responder a algumas perguntas. O ministro dos Negócios Estrangeiros fez uma declaração, o ministério postou um tweet em apoio ao que disse. Depois, Porton Down disse que não podia nem iria identificar a origem [do agente neurotóxico] e então apagam a mensagem. Em que fica o ministro? Vergonha na cara pelas declarações que fez à televisão alemã”, afirmou o líder da oposição, Jeremy Corbyn, à Sky News.
“Parece que Boris Johnson enganou o público quando afirmou que as autoridades de Porton Down confirmaram que a Rússia era a origem do agente nervoso usado no ataque de Salisbury”, comentou, por sua vez, a ministra-sombra do Interior, Diane Abbott.
O ministro respondeu no Twitter. “É lamentável que Jeremy Corbyn esteja a fazer o jogo da Rússia e a tentar desacreditar o Reino Unido.”
Ontem, a Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) votou contra o pedido da Rússia em realizar uma investigação paralela, que seria anglo-russa. E o enviado de Moscovo, Aleksandr Shulgin, deu a entender que a Rússia não aceitaria os resultados da investigação da OPAQ. A delegação britânica, também no Twitter, classificou a proposta de “perversa... uma manobra de diversão”. O enviado britânico, John Foggo, declarou que “a Rússia nunca aceitará a legitimidade de qualquer investigação sobre o uso de armas químicas, a menos que surja uma conclusão que a Rússia goste”.
A organização, que recolheu amostras em Salisbury, deverá divulgar os resultados das análises laboratoriais na próxima semana.
Enquanto alguns dirigentes russos não se retraem de usar palavras mais duras – o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Ryabkov, disse ontem que é “impossível confiar em Londres” –, Vladimir Putin mostrou-se mais circunspecto. Em declarações em Ancara, o presidente russo disse esperar que “o bom senso prevaleça e que mais danos não sejam causados às relações internacionais”. Entretanto, Moscovo solicitou uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre o tema para hoje. CÉSAR AVÓ
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